Sueli 25/09/2013
Vlad Está Entre Nós...
“A História nos ensinou que a natureza do homem é perversa, de uma perversão sublime. O Bem não é aperfeiçoável, o Mal sim. Por que não pôr sua mente privilegiada a serviço do que é aperfeiçoável?”
Drácula – pág. 495
Nosso livro começa no ano de 1972, quando uma das narradoras do livro está com dezesseis anos, e por acaso, encontra um livro estranho e muito antigo, com todas as folhas em branco, porém com apenas a figura de um dragão estampada no centro.
Esta descoberta faz com que essa adolescente, filha de um viúvo, ilustre membro do corpo diplomático americano, confronte seu pai em busca de respostas que surpreendentemente ele não se recusa a dar. Porém, a coisa complica e cada nova revelação mais perto nossos personagens ficarão de forças poderosas e malignas.
Três personagens irão narrar essa longa história para você – a filha, o pai e o mentor. Eventualmente, também teremos a voz de Helen ou Elena, o nome varia de grafia dependo do país em que nossos personagens estejam.
Teremos muito suspense, várias mortes e muita política, já que grande parte da ação se passa em países da Cortina de Ferro, durante a Guerra Fria. E, o terror não estava restrito às forças malignas, mas ao regime político vigente nesses países.
Esqueçam Edward “Purpurina” Cullen, ou qualquer outro personagem vampiresco maravilhoso que se tornou presente em nosso universo literário dos últimos tempos. Em “O Historiador”, Kostova irá nos conduzir através de caminhos sombrios percorridos por nossos personagens diretamente para o covil de Vlad, O Empalador.
E, foi por mera curiosidade sobre Vlad, O Empalador que corri para comprar esse livro. Li, que essa escritora fantástica havia pesquisado durante dez anos sobre ele, até que resolveu escrever esse livro. Seu livro de estreia foi vendido por dois milhões de dólares, quando normalmente paga-se por um livro de um escritor iniciante trinta mil dólares no máximo! Sem contar que esse mesmo livro foi vendido para a Sony, por um milhão e meio de dólares. Imagino que dependendo da produção é bem provável que seja um sucesso.
Pois é, voltando ao assunto, eu imaginei que leria uma biografia amplamente documentada, já que no começo do livro há uma “Nota ao Leitor”. Sim, uma nota e não um prefácio dando a entender que a história a seguir era verídica. Inclusive, ela aproveita para fazer os agradecimentos nessa mesma nota e não ao final do livro como é de costume. Todavia, até mesmo aí, só encontramos a data e o lugar, e não a autora da nota. Uma pista?
É claro que eu comprei a ideia ali mesmo, e nem por um momento duvidei daquelas palavras, até que tudo foi ficando cada vez mais aterrorizante, e muito fora da normalidade – se é que se pode dizer que existe algo normal no mundo atualmente – mas continuando, pisei no freio e fui buscar informações mais completas sobre Kostova, porém descobri pouquíssimas coisas sobre ela.
Nem mesmo no site da autora colhi alguma informação pessoal que pudesse me dizer se aqueles acontecimentos eram reais. Mas pude ver que a data de nascimento da primeira narradora não coincidia com a de Kostova, e nem a idade. A primeira narradora era filha única, e Kostova, Johnston ou Johnson de nascimento – encontrei as duas grafias, tinha vários irmãos.
Contudo um indicativo sobre o tema do livro veio do fato da autora ser casada com um estudioso búlgaro, e podemos supor que a convivência tenha despertado em Kostova o desejo de mostrar ao mundo as lendas, os mitos e o folclore dessa parte da Europa tão pouco conhecida - os Bálcãs.
Kostova, antes de tudo, se diz uma historiadora, e segundo suas próprias palavras, uma historiadora é sempre fiel aos fatos, ou aos resultados de suas pesquisas, porém a medida que o livro avança notamos que seu relato vai ficando mais sombrio, até mesmo aterrorizante. E, já vou logo avisando, ela é boa, ela é muito boa, embora eu tenha percebido que suas cenas românticas são sempre muito elaboradas, e nem um pouco emotivas. Tanto é assim que mesmo tendo relido a cena em que a primeira narradora fica a sós com Barley em um quarto de hotel, não consegui saber se houve algo mais do que algumas carícias. Estranho, não é?
Você leitor deve estar se perguntando o motivo de eu não ter nomeado a primeira narradora, acontece que Elizabeth Kostova faz essas picardias com seu público. Em nenhum momento desse imenso livro aparece o nome da filha do professor Paul, assim como o nome de sua avó materna, cujo nome foi a inspiração para essa personagem anônima, embora sua mãe na trama apareça como Elena e Helen, dependendo do momento – dois nomes para uma, mas nenhum para a outra.
Apesar das dificuldades que enfrentei para ler esse livro imenso, lento, e em várias partes entediante, justifico que cada letra é importante para que você possa perceber o sofrimento de cada um dos personagens, e os motivos que os levaram à essa busca insana pelo mentor de Paul, o professor Rossi.
Segredos serão revelados e informações preciosas recebidas por todos nós, já que a obra está repleta de fatos sobre os vários países percorridos pelos personagens – Turquia, Hungria, Romênia e Bulgária. Visitaremos os Cárpatos e vários mosteiros, ruínas da Valáquia, e profanaremos túmulos em busca desse personagem vil, e que apesar de todas as atrocidades cometidas e devidamente documentadas fascina multidões até os nossos dias.
Afinal, o que seria a vida de vinte mil empalados frente a seis milhões de judeus mortos nos campos de concentração, não é mesmo?
Talvez por ter crescido com os antigos filmes de terror eu não seja tão atraída pelos novos vampiros, e como eu, Kostova. Ela provavelmente também esteja estarrecida com a glamorização dos sucessores de Drácula e seus seguidores.
Talvez seja isso que ela quis nos dizer em sua Nota ao Leitor:
“Minha grande esperança em tornar pública esta história é que seja possível encontrar pelo menos um leitor que a compreenda pelo que de fato é: um cri de coeur. A você leitor sagaz, confio a minha história.”
Veja bem leitor, definitivamente não sou muito fã de livros sobrenaturais, muito menos de terror absoluto como esse livro em questão, mas sou muito fiel aos escritores que sigo, e sempre tenho a tendência a acreditar piamente em suas palavras. E, pela segunda vez, acreditei plenamente em Elizabeth Kostova, que sempre me faz perceber que a minha dedicação aos livros começou no momento em que compreendi que, como todos os mortais, estou ameaçada pelo lado negro da História, portanto, nada melhor que fugir para os lugares seguros de nossa imaginação, mas lhe asseguro que em nenhum momento você estará seguro ao ler esse livro!