3 meses no século 81

3 meses no século 81 Jerônymo Monteiro



Resenhas - 3 meses no século 81


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Paulo 26/04/2020

A narrativa de Jeronymo Monteiro pode ser encaixada nas velhas histórias de "turismo literário". Quando você cria um espaço fantástico novo e os personagens vão conhecendo as diferenças entre seu mundo original e o espaço criado pelo autor. Em Herland, Charlotte Perkins Gilman usa desse método e Margaret Cavendish faz algo semelhante em O Mundo Resplandecente. A partir destas diferenças é que a história acaba sendo guiada. Até pode haver um conflito ou um antagonista qualquer, mas ele não é o foco da narrativa. Como não é aqui.

Esse é um daqueles romances que eu me esforcei para tentar gostar, mas infelizmente achei a escrita bastante datada, e várias partes me incomodaram. Quem acompanha minhas resenhas, sabe o quanto eu não curto histórias que abusam do diálogo. E uma das ferramentas usadas por Jeronymo é o diálogo expositivo onde ele vai apresentando cada parte deste mundo, tecendo críticas e comentários para em seguida entrar em um novo assunto. Tem vários capítulos que se passam em uma única sala com o protagonista e um professor conversando. Isso me incomodou bastante até porque Gilman, por exemplo, não é tão expositiva em Herland e isso porque ela usa de descrição para contar sobre sua terra das mulheres. Os diálogos acabam soando artificiais demais.

Dá para perceber o quanto o autor se esforçou para criar uma narrativa de ficção científica diferente daquilo que fora criado por H.G. Wells em A Guerra dos Mundos. Aliás, a inspiração é bem clara e o próprio Wells aparece como um personagem logo no começo da história. Em um dado momento, Jeronymo faz uma homenagem ao conflito eloi vs morlock da obra de Wells ao criar duas espécies antagônicas. O século 81 parece ser um lugar onde os homens se esqueceram de seus sentimentos, perdendo com isso muito de sua humanidade. E é isso o que o autor se remete a todo o momento. Apesar de terem se tornado uma civilização super avançada, eles se esqueceram daquilo que torna o homem um ser que move montanhas. Podemos ver que entra um pouco das crenças do autor, pois ele acredita no amor como uma mola propulsora para inovações. Me sinto dividido entre concordar ou não com isso, mas da maneira como ele coloca na trama parece algo bastante ingênuo.

Vou deixar o meu puxão de orelhas na Plutão Livros. O texto está com bastante erros e typos. algo que deveria ter sido visto em uma última revisão. Normalmente, quando são poucos, eu não costumo reclamar e coloco na conta. Mas, aqui são bastante numerosos e tornam uma leitura, que já é truncada pelo próprio estilo do autor, ainda mais confusa. No mais, achei o texto bem formatado, tem um ótimo prefácio escrito pela Ana Rusche (que faz parte de todos os livros da coleção Zigue-Zague) situando o leitor na época da escrita do livro. Infelizmente, boa parte das ideias de Jeronymo também não envelheceram bem, demonstrando que este é um livro situado em uma época específica. Pelo que eu pude perceber através das mensagens sutis deixadas pelo autor, ele faz parte daquele grupo de indivíduos que saíram descrentes da Segunda Guerra Mundial. Há toda uma geração de autores desiludidos com os rumos da humanidade que caminhava para uma era nuclear e deixava parte de sua humanidade para trás. É nesse sentido que Campos enxerga os seres do futuro. Ao dominarem todos os aspectos da vida cotidiana e daquilo que move o homem, eles deixaram uma parte essencial de si para trás.

Não sei se consigo concordar com essa visão ingênua, como já mencionei. Imaginei em determinados momentos que Jeronymo estaria fazendo uma sátira ao modo capitalista de se viver. Mas, tal não é o caso, muito pelo contrário. Vemos uma glorificação de um modo de vida. No começo parece realmente que ele estaria vendo o que a humanidade teria de melhor, e criticando pontualmente aquilo que ele não concordava. Mas, lá pelo final ele já pensava em restaurar valores passados sem se atentar a tudo aquilo que estes dois povos precisaram passar para chegar naquele ponto. Campos age praticamente como um colonizador levando a "civilização" aos povos bárbaros. Claro, estou forçando um pouco a barra, mas é o que acaba soando nos capítulos antes do conflito com os marcianinos.

Enfim, eu lamento mesmo não ter conseguido curtir a narrativa. Diferentemente do texto da Dinah Silveira de Queiroz, que tinha ideias bem à frente de seu tempo, o livro de Jeronymo amarga uma narrativa datada e morosa que acaba não conseguindo se destacar nem no seu gênero de exploração de uma sociedade distinta. O livro precisa de uma boa revisão para uma atualização e espero poder ler mais coisas do autor para poder mudar minha opinião sobre ele. Mas, fica aqui os meus parabéns para a Plutão pelo resgate tão necessário de um autor que fez parte da história da ficção científica no Brasil.

site: www.ficcoeshumanas.com.br
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MMayumi 12/02/2023

Achei a ideia muito interessante, mas a execução foi muito ruim. Só terminei de ler porque fiquei muito curiosa com o que ia acontecer (e nem sei se valeu a pena terminar), mas demoreeeei... Uma coisa horrível de conversinha explicando o mundo, como as coisas funcionam, como as pessoas funcionam e tal. Marquei uma frase que acho que serve pro livro todo: "Não creio que seja útil nem divertido para o leitor transcrever o que se seguiu."
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Jéssica Borges 10/02/2019

Sabe aquela ficção científica clássica com carros e máquinas de teletransporte para o futuro?

Então a viagem no tempo dessa vez foi diferente e surpreendente!

"Esta história vai dedicada às pessoas, hoje bem numerosas que admitem a existência de uma porção de coisas além daquelas que os espíritos positivos e áridos julgam totais e concludentes." J.M.

Se você é uma dessas pessoas, esse livro é pra vc !
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