Zero

Zero Ignácio de Loyola Brandão




Resenhas - Zero


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Ingrid_mayara 14/01/2018

Uma desordem organizada
Publicado na Itália em 1974, Zero foi lançado no Brasil em 1975 e no ano seguinte recebeu o prêmio de “Melhor Ficção”, da Fundação Cultural do Distrito Federal. Poucos meses após a premiação, foi censurado pelo Ministério da Justiça e proibido em todo o território nacional. Voltou à circulação em 1979.

De início, o livro parece não fazer sentido devido a sua estruturação caótica. É uma união de diversos fragmentos textuais e recursos gráficos como: ilustrações, poesia concreta, provérbios, breves textos jornalísticos e enciclopédicos e até mesmo trechos bíblicos. Há também algumas colunas indicando que algo ocorre em paralelo à vida dos personagens.

O autor utiliza-se de uma linguagem popular bastante semelhante à oralidade, com uma mistura de português, espanhol e inglês. Além disso, o uso de vírgulas e outras pontuações estão dispostas de maneira peculiar.

O livro trata principalmente da vida de José, um homem comum que, ao se casar com Rosa, luta para construir uma vida estável em uma cidade marcada pela repressão do regime militar. O sonho de Rosa era ter uma vida "normal"; uma casa própria com comida, marido, filho e cachorro. José não possui grandes objetivos na vida, mas sua esposa o convence a comprar uma casa. Ele se esforça para conseguir tal objetivo de maneiras ilícitas; não exatamente por amor, mas basicamente para ela parar de perturbá-lo.

Certo humor é empregado no livro, equilibrando os momentos de tensão (roubos, execuções, (des)ordem política e social).

Há o erotismo escancarado que deixa um desconforto físico e mental. Particularmente, eu me incomodei bastante com essa parte, no entanto, acabou sendo uma das minhas favoritas porque pude conhecer melhor o interior da personagem Rosa.

Aproximadamente na metade do livro, pude notar certa regularidade nos fragmentos. Ao mesmo tempo em que há o caos estrutural, há também uma bagunça organizada, que dá uma boa ideia dos acontecimentos ditatoriais reais do Brasil, que ao pesquisar sobre o livro, descobri que de fato esse era o propósito; ou também, acho que daria para considerá-lo como uma distopia brasileira: novas leis e regras que antes seriam absurdas, exagerada imposição militar para o "bem" da população, censura com objetivo de alienação e idealizações éticas e morais.

Sinceramente, não sei se recomendo esse livro às pessoas sensíveis ao erotismo e escrita considerada marginal. Quanto à estrutura em fragmentos, tive facilidade porque é algo parecido com as redes sociais, onde acompanhamos as histórias dos nossos amigos, rolamos o mouse, de repente vemos uma notícia triste e perturbadora, rolamos o mouse, nos deparamos com uma imagem engraçada, rolamos o mouse e prosseguimos com algo que lembre uma citação ou poema; e assim seguimos a vida, para melhor ou para pior.

site: Se quiser me seguir no instagram: @ingrid.allebrandt
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Igor Oliveira 30/05/2009

Zero: Ignácio de Loyola Brandão
Há poucos dias terminei a leitura de Zero, do Ignácio de Loyola Brandão, mais um volume que encontrei na surpreendente biblioteca de meus pais. Faz mais ou menos um ano, em um evento de escritores jornalistas no Memorial da América Latina, Loyola participou de mesa redonda sobre a Revista Realidade, junto com Jose Hamilton Ribeiro e Milton Severiano, e falou sobre sua matéria prima para a construção de Zero: nas redações de jornais e revistas por onde passou durante o período da ditadura militar, recolheu várias matérias censuradas dos peródicos. Esses fatos bizarros que nunca foram publicados são o pano de fundo para a existência do desgraçado Jose Gonçalves, morador da América Latíndia, país cheio de regras e paranóias, onde os poderes se fundem e confundem, Igreja e Estado exercem uma ditadura nefasta e o dia-a-dia dos cidadão comuns é um verdadeiro caos. A narrativa truncada, com sucessões de notícias de jornais e dos acontecimentos envolvendo José e os personagens da sua história, acaba dando um ritmo surpreendente à historia, contada em liguagem enxuta, simples e contudente. No ano passado eu tinha lido Não Verás País Nenhum, o romance mais importante da carreira de Loyola em virtude de sua repercussão em todo o mundo. As duas obras são distopias que não perdem em nada para os grandes clássicos do gênero, como 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Bacana é ver esse tipo de reflexão com a realidade brasileira como pano de fundo. Loyola continua sendo um grande cronista da vida quotidiana, observador astuto das coisas mais simples que permeiam nosso dia-a-dia e com certeza são as melhores inspirações para grandes histórias.
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Desnorteada 11/04/2021

Um livro que é totalmente inesperada a condução da narrativa. É as vezes difícil de ler pela violência e detalhes de certas cenas. Mas também um livro que vale a pena de se ler. Passa na época da ditadura milita,r então, "dá para ter um pouco de noção de como era a época."
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leonel 25/01/2022

Extremamente mal escrito, 300 paginas com estetica de pornochanchada cheias de frases com as palavras "merda, bosta, ahahaha mijo" pra parecer provocador, mas que mais parecem guri de segunda serie rindo e dizendo "vejam como sou agressivo, estou escrevendo merda, bosta e mijo sem parar." A repetição fica tão entediante que estraga até qualquer valor de choque que pudesse ter. Mas parece que dizer mil vezes a mesma coisa é uma caracteristica do autor, pelo que vi em Nao veras pais nenhum. Ainda tem as manhas de querer ser modernistazinho de vez em quando e cria umas regras de pontuação próprias, mas esquece delas no meio da frase, sem conseguir ser consistente. Mesma coisa com os diálogos em que tenta escrever pela sonorizaçao, mas esquece disso na mesma frase, como os "de" e "di" e "que" e "qui" na mesma frase de um mesmo personagem, tipo "di noite quem gosta de tal coisa" ou "perguntei o qui eli queria e ele disse que".
Pra coroar faz umas criticazinhas pau mole à ditadura no meio de tudo. Pô, o livro ia ser proibido no Brasil mesmo, seja homem e critica com vontade. E se vai inventar transgressao gramatical, então transgride com consistencia, não me vem com essas de cansei de escrever errado, dá muito trabalho. No fim, por causa da estetica canal Brasil, eu já tinha até medo de que ao virar a próxima página, a Regina Case saltasse sem dentes e pelada gritando HUE HUE HUE MERDA BOSTA CARALEO.
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Rodrigo 22/06/2011

Irônico, pertubador, humorado, despudorado
Zero, é sem dúvidas, um grande livro. Primeiro porque consegue trazer as questões de um país imerso em uma ditadura militar sem parecer piegas e muito menos clichê. Ignácio de Loyola consegue ironizar de forma maestral situações cotidianas. O autor escreve com a frieza e a falta de pudor necessária para se falar de coisas como sexo, tortura e repressão. Mesmo não mencionado em momento algum que ambientava seu romance na São paulo dominada pelos militares, é possível notar graças às constates ordens e Atos institucionais proclamados pelos militares; atos institucionais por vezes sarcásticos e hiperbólicos.
Um grande atrativo é também a sua disposição de capítulos; seu layout é atração a parte. Ignácio coloca notas de rodapé com inscrições irônicas e muito bem humoradas. Zero é um livro onde se une grande reflexão à uma divertida leitura. Entretanto, creio que para lê-lo seja necessário antes libertar-se de alguns preceitos morais e tomar a composição do livro como a obra ímpar que é. Recomendo.
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Pedra 23/12/2012

O livro:

"Num ponto qualquer da cidade
trêfego
trôpego
sôfrego
bêbado
Ele tem medo da sobriedade." - Flora Figueiredo.

Loyola Brandão estava bêbado quando teve a ideia deste livro. Mas não bêbado como você pensa. Bêbado de poesia, virtude e vinho. É um livro dinâmico, escrito com maestria. Maravilhoso, apesar de cansativo. A edição tem erros, apesar de alguns, sem dúvida, serem intencionais.
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Henrique Fendrich 10/09/2019

Evidentemente, eu não nego a importância do livro e, na verdade, sequer a sua qualidade. O que eu tive foi muita, muita dificuldade mesmo para lidar com as experimentações do livro e apreender o seu sentido. Foi difícil para mim, mas talvez não seja para os outros. A avaliação é feita com base na minha experiência pessoal, não sendo, portanto, juízo absoluto.
Ricardo 01/11/2021minha estante
Concordo inteiramente. Mas uma obra que não consegue se comunicar com o leitor é uma obra que não se realiza...




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Vitoria 21/11/2022

O livro das experimentações
Um emaranhado de histórias aparentemente desconexas, recortes de jornais, anúncios, devaneios... E é costurando tudo isso que Ignácio de Loyola Brandão nos apresenta o Brasil nos anos de chumbo.

Embora o Brasil não seja mencionado diretamente - a história se passa na Ameríndia, projeção futura da América Latina, temos a história do regime vigente à época. A caricatura que ilustra algumas passagens escancara o absurdo das proibições e repressões que permeiam o período.

E, no meio de trechos irônicos e divertidos, de notas de rodapé ácidas e hilárias, o horror da tortura, das perseguições, do desequilíbrio social.

É um desafio não se perder na leitura propositalmente caótica, que faz da obra algo tão ímpar.
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bobbie 17/04/2021

Assustador
Este não é um livro fácil de ser lido: a leitura corre, mas não flui. O ritmo é inconstante, o estilo, híbrido, misturando gêneros textuais e estratégias narrativas diferentes. Há onomatopeias, fluxo de consciência, inovações na pontuação, capítulos de uma linha e outros de algumas páginas. Os títulos, criativos, confundem mais do que esclarecem. Há nele uma mixórdia criativa que, provavelmente (quem sou eu?) visa a evidenciar o mundo sem lei e de pernas para o ar de um país governado por uma cruel ditadura. Zero foi lançado em 1974 (durante a ditadura militar brasileira), primeiro na Europa, onde o autor estava refugiado. Brandão usa e abusa de ironia e deboche para escancarar os desmandos e crueldades que só este tipo de governo é capaz de perpetrar. Detalhe, apesar de estar prestes a completar 50 anos desde o seu lançamento, ainda é assustador perceber que muitas das frases ditas e condutas desse tipo de governo soam muito presentes vida do brasileiro em pleno 2021. Impossível não associar discursos de então aos de hoje. Duplamente desolador.
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Laura Ferreira 02/01/2019

A distopia mais brasileira que já li
“Zero” é um romance distópico publicado por Ignácio de Loyola Brandão, inicialmente na Itália, em 1974 (dada a recusa das editoras brasileiras) e, no ano seguinte aqui no Brasil. Entretanto, em 1976 o livro volta a ser alvo de desconforto, culminando em sua proibição pelo Ministério da Justiça. Pensando no contexto sócio-político do país na época, não é surpreendente a censura: Zero narra a história de José, inicialmente um homem comum de 28 anos, e sua interação com essa sociedade desigual e autoritária na qual está inserido; e não somos poupados de cenas perturbadoras de injustiças e torturas (inclusive, cuidado caso for sensível a este tipo de conteúdo), o que claramente incomodou o governo ditatorial então vigente.
O romance é organizado de forma pouco convencional, configurando, portanto, uma escrita experimental: acompanhamos uma narrativa linear, a vida de José (seu romance com Rosa, sua busca por emprego, seu envolvimento com guerrilheiros etc.), mas que é constantemente “interrompida” por desenhos, manchetes, listas, comunicados, memórias, notas de rodapé e até mesmo histórias de outros personagens (como a saga de Carlos Lopes e seu filho doente), e essas interrupções podem ou não ter relação direta com o que tem sido narrado até então.
Justamente por essa estrutura fragmentada e frenética, críticas pungentes ganham um espaço todo delas, possibilitadas também por um narrador sempre direto e sarcástico:

"SAGRADAS DETERMINAÇÕES
'A partir de hoje, todo veículo deverá levar uma bandeira e uma dístico de plástico com dizeres de elogios ao governo ou ao país. Cada carro sem slogan será apreendido e o dono detido por seis meses.' (2)
[...]
(2) Um coronel fabricava as bandeiras e dísticos: ficou milionário." (p. 267)

Desses pequenos capítulos, chamaram minha atenção os que consistem em pequenos comunicados ou narrativas sobre cientistas e intelectuais que saíram do país devido à perseguição política; no trecho abaixo fica perceptível o quanto uma sociedade perde em expulsar pessoas do tipo, que tanto acrescentam a nossa ciência e cultura e, em contrapartida, como outros países parecem se dar conta da importância deles e de estimulá-los a produzir, coisa que sua terra natal os impediram de fazer:

"ADEUS, ADEUS
O cientista Marcondes Reis conseguiu sair do país, ajudado por amigos. Vai para a Universidade Patrice Lumumba, onde lhe prometeram as condições necessárias para continuar suas pesquisas. Aqui, o professor Marcondes Reis começou perdendo sua cátedra, teve sua casa invadida duas vezes pela polícia, confiscaram todos os livros de sua biblioteca, ameaçaram seus filhos.
O presidente deu uma declaração: ‘Quando a ciência subverte o homem e corrompe, é melhor ter um país sem ciência, atrasado’." (p. 41)

Me agrada muito em Zero como o autor soube dosar o universalismo das críticas (até porque sociedade nenhuma esteve/está imune a governos autoritários) e o tom quase regionalista da ambientação. Vejo Zero como uma singular distopia latino-americana.
A obra explicita também seu caráter circular, seja na ambientação, “Num país da América Latíndia, amanhã” (p. 9), e no protagonista, que está o tempo todo a nos lembrar o quanto é um homem ordinário, que pode ser encontrado em qualquer lugar, contando inclusive com uma cena em que ele tenta se entregar a polícia mas é desconsiderado como suspeito, dada sua vulgar aparência (ao contrário de Gê, líder dos guerrilheiros, que conta até com sósias), provando, novamente, que ninguém está imune e tudo pode se repetir com outros Josés.
Espero que a narrativa incomum do romance não deixe ninguém intimidado, porque se trata de um livro que, se lido atentamente, tem tudo para ser fonte abundante de reflexão e discussão, agora mais pertinentes que nunca.
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Guilherme 09/12/2009

Meio Kafka
Na minha opinião lembra muito o livro O processo, de Kafka, só que no Brasil, gosto muito do autor e recomendo Zero e Não verás país nenhum....

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Anderson.Hoch 14/04/2022

Zero em 2022
Leitura obrigatória do Desafio Livrada 2022.
É um livro muito louco! Essa foi minha primeira impressão...
Um começo empolgado, nos coloca diante de José, um qualquer, mas também não é qualquer um, e ao mesmo tempo joga formas, formatos, ideias, manchetes, listas, desenhos, diálogos variados e aleatórios (ou não).
Depois a leitura, as ações e a história, se é que há uma única, se arrastam, com altos e baixos.
Na sequência os acontecimentos aceleram e José, a América Latíndia e os despropositos de uma ditadura ficam cada vez mais expostos.
Leitura interessante que não sei se teria feito não fosse o Livrada. Difícil dizer se é bom ou ruim o tempo todo.
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Renato.Antunes 20/08/2019

Zero é a nota do livro
Um professor recomendou, eu li e não gostei. Talvez porque eu não vivi na época da ditadura... Não gostei! Não recomendo!
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