Livros da Julie 16/11/2022Ação e suspense no ataque de Iker contra Sesóstris III-----
"O orador prolixo que discursa para a multidão é um homem perigoso, o que fala muito é causador de distúrbios. Excitar a turba leva à destruição. Por isso, para governar se exige que nos tornemos artesãos das palavras."
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"A harmonia do Estado é realizada numa comunhão entre as pessoas que não reclamam direitos, mas vivem de obrigações recíprocas. (...) na capacidade de união de cada pessoa e não na capacidade de se opor e dividir."
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"Por mais sólidas que pareçam, as obras humanas acabam por desmoronar."
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"a boa organização das contas do Estado era indispensável para a manutenção (...) da civilização. Em caso de desperdício, endividamento ou negligência, o tecido social se rasgaria e a porta seria aberta para todo tipo de abuso."
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"Quem acreditasse que (...) alto cargo fosse divertimento só podia ser imbecil ou ingênuo."
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"Escute as palavras dos antepassados, (...) recolha os ensinamentos deles, leia os seus livros. O homem desaparece, o seu corpo vira poeira. Mas as obras permitem que o ser permaneça. Nenhum de nós é superior àquele que sabe transmitir pela escrita um pensamento vital, porque os escritos agem."
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"Os escribas, cheios de sabedoria, não projetaram deixar herdeiros perecíveis, filhos de carne que conservariam os seus nomes. Eles criaram como sucessores os livros e os ensinamentos. (...) O poder mágico que possuíam atinge os leitores."
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"Se quiser que o destino lhe seja favorável, (...) permaneça reservado é silencioso, evite falar demais. (...) O fogo do impetuoso o destrói, o verdadeiro silencioso busca os lugares onde reina a harmonia. O sábio (...) mantém a moderação no agir."
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"só o que experimentamos pessoalmente conseguimos assimilar de verdade."
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"não se pode tirar o veneno da serpente, como não se pode tirar o mal do ser maléfico."
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"Portador de injustiça e de crueldade, o homem é o mais temível dos predadores."
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"Não deseje jamais o que pertence ao outro, (...) não cobice o que não é capaz de realizar por si mesmo, porque a inveja provoca a decadência."
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"A estupidez lidera a multidão"
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A conspiração do mal é o segundo livro da série Os mistérios de Osíris, lido com as @mafaguifinhos e @nleituras.
O faraó Sesóstris III continua movendo céus e terras para reavivar a acácia de Osíris em Ábidos. Oferendas, rituais diários, monumentos, templos e pirâmides, tudo tem sido feito para neutralizar as forças do mal e inspirar bons fluidos na cidade sagrada, com a ajuda da mais nova e dedicada sacerdotisa real, Ísis, que havia se tornado objeto de amor platônico de Iker desde que a viu.
Já Iker progrediu tanto em sua carreira de escriba que enfim conseguiu acesso a documentos que pareciam indicar que o seu sequestro havia sido encomendado pelo faraó. Abalado com a descoberta, o rapaz planeja vingança.
Enquanto isso, o verdadeiro antagonista, um homem que se autodenomina o Anunciador, recruta cada vez mais pessoas e movimenta forças por debaixo dos panos, aguardando o momento certo para destruir a instituição faraônica, auxiliado pela ganância de corruptos funcionários do governo.
O autor faz um resumo inicial para então retomar a saga, que ganha corpo e complexidade. O ritmo é mais acelerado e há muito mais ação e suspense. Os embates, as reviravoltas e a incerteza sobre o rumo da história nos deixam tensos e apreensivos. Apesar da escrita simples, que alude a uma época mais simplória, mas nem por isso mais inocente ou menos sanguinária, Jacq conseguiu entremear os diferentes subenredos e fazê-los se cruzarem de modo espetacular.
Passadas a contextualização introdutória e a empolgação inicial com a temática da série, já nos sentimos ambientados e imersos nas intrigas reais e no submundo do crime em pleno Egito faraônico e podemos observar o desenvolvimento dos protagonistas.
As duras provações do destino e o convívio com indivíduos de índole duvidosa transformaram Iker. Antes ingênuo e amigável, ele se torna frio e determinado, cegado pela missão de sua vida: eliminar o faraó e salvar o povo egípcio.
Sesóstris segue reunificando o Egito e inova na nomeação de um vizir para administrar o reino. Por mais que os tempos fossem outros e a democracia, um conceito distante, o faraó buscava ser um exemplo de virtude para o povo.
A corrupção pontual existia, mas a gestão buscava eliminar esses casos e se pautar pela integridade. Caso não fosse confiável, o governo perderia sua base de sustentação e o povo que dele depende estaria fadado ao fracasso.
As pessoas compreendiam o seu papel na sociedade. Ainda que pequeno e humilde, o trabalho individual era essencial para o funcionamento coletivo do país. Com trabalhadores motivados e dedicados, o Egito parecia pujante e próspero.
Outros povos, no entanto, destoavam do padrão de organização política e social dos egípcios e não eram vistos como "avançados". Os núbios eram considerados guerreiros selvagens, os cananeus, revoltosos corruptos... Infelizmente, tais rótulos depreciativos devem ter ajudado a perpetuar preconceitos e a prejudicar a evolução.
Apesar da desconfiança com que tratavam estrangeiros, a moderação era um ideal perseguido pelos egípcios, pois as boas energias se encontravam no equilíbrio físico e moral. Nos extremos, reinava o caos.
O Anunciador personifica esse radicalismo, que torna o mundo pior aos olhos dos fanáticos: a diversão é inadequada, as risadas são inconvenientes e as mulheres são libertinas, culpadas pelos males da humanidade. E como em toda facção religiosa que extermina os infiéis, há aqueles inspirados pela crença e os motivados pela oportunidade de praticar crimes. Os interesses se complementam e dão origem aos grupos mais temidos.
Tanto o faraó quanto o Anunciador se impõem pela força de suas palavras e pelo poder de sua influência. No entanto, o primeiro busca construir e zelar pelo bem comum, enquanto o segundo só entende a destruição e age de acordo com seus próprios interesses.
Seja nos momentos de reflexão, diligência ou enfrentamento, o leitor recebe de Sesóstris e seus aliados uma verdadeira aula de ética, moral e civilização. O conhecimento podia ser encontrado nas maravilhosas bibliotecas, nos tratados sobre biologia, medicina, astronomia, matemática, arquitetura e tudo o mais que havia no céu, na terra e no mar. A verdadeira sabedoria, porém, não estava no estudo e na contemplação, mas no comportamento e nas atitudes, na retidão de palavras e ações.
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