Clarice0 14/08/2023
Um livro infantil que não é apenas para crianças
Uma coisa nesse livro me incomodou muito.
É tudo muito bom, desde a escrita envolvente e fácil à narrativa e personagens, é bem divertido e confortável, mas o final deixou MUITO a desejar.
A impressão que tive foi que o último capítulo todo foi escrito ás pressas. Com certeza deveria ser maior e mais aprofundado, achei o modo como tudo aconteceu superficial e rápido. Principalmente o reencontro dos amigos, fiquei tão triste quando vi que foi só isso....
Li esse livro inicialmente na escola e confesso que não me atraiu nem um pouco. Hoje, relendo ele consigo entender muita coisa que na época não percebia e que vão além da estória.
Uma coisa que me tocou muito foi quando a solidão e depressão são abordadss. O autor faz isso de forma tão sutil que nos acerta em cheio, enquanto para a criança não é perceptível. Essa com certeza é a melhor parte para mim.
Vivemos numa sociedade que anseia cada vez mais por tempo e que cada vez mais não o têm, e a proposta do livro gira em torno disso. Mas tem um determinado momento em que o livro te faz refletir: ter tempo demais sufoca. Ter tempo demais e não ter com quem passar, não ter o que fazer, é agoniante.
É uma pena o final não ser tão bom assim, tinha muito potencial mesmo. De qualquer forma, dou 5 estrelas e recomendo que todo mundo leia!
Um trechinho - um dos meus preferidos:
"Há muitas formas de solidão. A de Momo era um tipo de solidão que poucas pessoas conhecem, menos ainda com tanta intensidade. Sentia-se como que aprisionada numa gruta cheia de tesouros de inestimável valor, que cresciam continuamente, ameaçando sufocá-la. E não havia saída. Ninguém conseguia chegar até ela e, por outro lado, ela não conseguia se fazer notar por ninguém, profundamente enterrada sob uma montanha de tempo.
Havia momentos em que desejava nunca ter ouvido aquela música e visto aquelas cores. No entanto, se lhe oferecessem a escolha, não trocaria aquelas lembranças por nada no mundo. Nem que morresse por isso. Momo descobrira que há tesouros que nos arruinam quando não podemos compartilhá-los com os outros.
De vez em quando, ia até a casa de Gigi e esperava longamente diante do portão. Tinha esperança de vê-lo de novo. Resolvera concordar com tudo. Queria morar com ele, ouvi-lo e conversar com ele, exatamente como antes. Mas o portão nunca se abria."