Flávia Menezes 01/09/2021
?CARRIE?: AQUELA QUE O KING JOGOU NO LIXO.
No dia 14/09/2020, a revista Rolling Stone publicou uma matéria intitulada: ?A incrível história de como Stephen King jogou no lixo a história de Carrie, a Estranha e foi salvo pela esposa?. Foi Tabitha quem primeiro viu o potencial do manuscrito, e insistiu para que o marido continuasse.
O manuscrito resgatado da lixeira, ainda foi rejeitado por trinta editoras, antes de ser aceito pela Doubleday. Meses depois, os direitos para venda como brochura (que só acontece quando o livro realmente tem potencial para virar um best-seller) foi comprado pela Signet Book pelo valor de US$ 400 mil. Um livro jogado no lixo, que recebeu 30 cartas de rejeição... Depois dessa, o único caminho era mesmo o sucesso!
?Carrie ? A Estranha? foi o debut do King como escritor, e pelo que li do autor até agora, essa obra mostra que Stephen King, ?O? Mestre da Escrita, um dia também foi um principiante. Sua escrita nessa obra é mais crua, apressada, um tanto distante, e sem aquela característica do King de ?despertar os nossos sentidos?.
Muito disso se deve a algo que o próprio King revelou em seu livro ?Sobre a Escrita? de que ele não gostava de Carrie (confesso que para mim isso ficou muito claro logo nas primeiras páginas). E esse foi o motivo pelo qual ele a jogou no lixo. Foi através do olhar de escritora de Tabitha, sua esposa, que ele conseguiu dar mais vida a essa personagem, trazendo à tona toda a humanidade que fez com que seus leitores se conectassem com ela. Thanks, Tabby!
Tive muita dificuldade para me conectar com essa obra, e o que me fez prosseguir foi querer saber onde uma história dessas iria parar. E no momento clímax da história, eu preciso dizer que o King não falhou nenhum pouquinho. Ali estava o King de sempre!
Durante a narrativa, sobre a relação conturbada entre a protagonista e a mãe, é possível perceber uma forte influência dos contos de fadas na escrita do King (os contos de fadas Raiz, que são aqueles sem finais felizes, e não os Nutella como os da Disney). A mãe excessivamente má (como as madrastas/bruxas), a questão toda envolvendo o problema do ?sangue? (que se refere ao crescimento, e a passagem da criança para a mulher), a ?faca? (o objeto fálico), o conflito do permanecer em casa x viver o que os outros vivem (passagem da dependência materna para a independência) são alguns desses elementos de contos de fadas que evidencio apenas para exemplificar, e se você já leu ?A Psicanálise dos Contos de Fadas? de Bruno Bettelheim, aposto que poderá encontrar mais alguns.
Um outro fator em ?Carrie ? a Estranha?, que encontrei em todos os livros do King que eu já li, é sua paixão por carros. A famosa cena de descrição de um carro antigo... essa não falhou nem aqui! E quando ele mencionou John F. Kennedy, então? Nem preciso dizer o quanto deixou meu coração aceleradinho de amor.
?Carrie ? A Estranha? é uma bonita história sobre como crescer é difícil, e todos os obstáculos que aparecem no caminho para nos desanimar, ao nos lançarmos no mundo, sozinhos e longe da família de origem que tanto nos conhece.
Mas é claro, não há como deixar de fora que a maior mensagem por trás dessa história, é sobre ?o ódio que semeamos?. O bullying é algo muito sério, e ele remonta a história da humanidade, porque desde que o mundo é mundo, as pessoas possuem problemas para se relacionar umas com as outras, e em compreender e respeitar os outros tanto quanto querem ser respeitadas. Além de amadas.
E nesse quesito, ?Carrie ? A Estranha? é uma verdadeira cartilha. É uma pena que nem desenhando as pessoas consigam perceber como as palavras têm poder, e um poder muito maior do que aquele provocado pela telecinética de Carrie.