Ronnie K. 21/01/2010
King mostra suas cartas em boa estréia
Deve-se ler "Carrie, A estranha" por dois bons motivos: é a estréia do Sthepen King, essa fabuloso ícone da literatura norte-americana e da literatura fantástica e de suspense, e por ser também o livro-base para o breve e inesquecível filme do Brian De Palma. Sem contar, claro, que o livro é bom. Assenta-se sobre um conflito muito bem estruturado: adolescente tipo 'patinho feio' que, como em geral ocorre nesses casos, é assiduamente importunada pelos colegas de escola. E que em casa tem que lidar com as neuroses e a loucura de uma mãe fanática religiosa que a todo custo tenta lhe impedir o florescimento sexual e o convívio com os rapazes. Como se pode prever, aqui se tem elementos suficientes para se estruturar uma boa história e prender a atenção. E em boa medida é o que acontece. Dotada do poder sobrenatural da telecinésia (capacidade de mover objetos com a força da mente), Carrie, por fim, vai se vingar de todos os opressores no apoteótico e um tanto desmesurado epílogo. Nisso pode estar o problema do livro: Carrie está mais para uma provável aluna da Escola de Mutantes do professor Xavier do que para personagem de um drama sólido e consistente. Quer dizer, mais próxima de uma atraente personagem para leitores juvenis fãs incondicionais dos X-men! Não que isso seja demérito. A história, como disse, é bem estruturada, prende a atenção - apesar de derrapar um pouco na parte final com seu um tanto cansativo e exagerado viés apocalíptico e tantativa de dar um tom mais 'documental' e 'verossímil' com a inserção de depoimentos, enxertos de livros e reportagens que se seguiram à hecatombe vingativa da nossa heroína. feita essa ressalva, dá pra ler numa boa, leitura despretensiosa de uma tarde fresca, e que se faz certamente rápida.
(Contudo, cá pra nós, o bom mesmo é curtir, nem que seja pela enésima vez, a obra-prima enxuta e sensacional que o jovem De palma fez desse livro. Filme hipnótico, vigoroso, exemplar, inesquecível.)