Fernanda 02/08/2023"? Que me retrate quem quiser? disse dom Quixote ?, mas não me maltrate, porque muitas vezes a paciência costuma acabar quando a sobrecarregam de injúrias."
Talvez o mais interessante para mim ao pensar nessa história seja o fato desse clássico estar tão presente na cultura pop - seja no homônimo balé de repertório ou na música do Engenheiros do Hawaii, a qual, acredito que não tenha maltratado nosso nobre fidalgo ao começar com: "Muito prazer, meu nome é otário" - e, ainda sim, consegui me surpreender e rir em cada página dessa obra.
A narração, sobretudo, na segunda parte nos provoca as mais diversas reflexões acerca das proposições do autor em escrever essa história - principalmente, ao pensar que está metade foi escrita enquanto resposta as impressões e repercussões do público frente às desventuras dos famosos cavaleiro e escudeiro -, pois nota-se que a sátira não se restringe apenas às histórias de cavalaria ou à loucura por estas despertadas, mas, também, a todos nós, sociedade.
"Não vi nenhum livro de cavalaria com uma história de corpo inteiro, com todos os seus membros, de maneira que o meio encaixe com o começo, o fim com o começo e com o meio; pelo contrário, são escritos com tantos membros que mais parece que tinham a intenção de formar uma quimera ou um monstro do que fazer uma figura bem-proporcionada. Além disso, no estilo são duros; nas façanhas, inacreditáveis; nos amores, lascivos; nas cortesias, grosseiros; prolixos nas batalhas, estúpidos na argumentação, delirantes nas viagens e, por fim, alheios a todo artifício inteligente. Por isso, são dignos de desterro da república cristã, como gente inútil.?