A História

A História Elsa Morante




Resenhas - A História


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mpettrus 20/11/2020

A Maternidade Dolorosa de Ida Ramundo na 2ª Guerra Mundial
“A História” é um romance popular carregado de denúncias e reflexões sobre questões sociais e políticas que envolveram a guerra e as relações humanas, o individualismo e a desinformação, além de, do ponto de vista sociológico abordar o problema da desigualdade social e de gênero. É um romance ambientado nos bairros populares de Roma, permeado por um espírito de protesto, exaltando personagens humildes e valorizando-os em detrimentos dos personagens poderosos, oferecendo a nós leitores, uma opinião clara e definida, a partir do ponto de vista dos excluídos, sobre os fatos históricos.

O argumento utilizado pela autora de usar como papel central a maternidade para defender o papel feminino na determinação do percurso intelectual e cultural dos indivíduos foi assertivo e pontual, porque a crueza da realidade que nos é exposta nessa história se depara com o lirismo das suas palavras e a construção de imagens fortes nos oferece ao mesmo tempo desenhos delicados de personagens frágeis. Por isso é tão essencial nesse aspecto a identidade feminina da protagonista do romance assim como a criança enfraquecida pelas crueldades da história como ocorreu ao pequeno Useppe.

Eu fiquei maravilhado em constatar depois de cem páginas lidas o porquê de a autora escolher a "mater dolorosa" como protagonista para estabelecer um diálogo, mesmo em silêncio, o que Elsa faz recorrentemente com maestria e perfeição, com tantas outras mães sofredoras e piedosas. A personagem Ida Ramundo me pareceu a proposta de representação da maternidade, a partir de diversos personagens que encarnam o “ser mãe” como um processo de construção da individualidade e de expressão de si mesmo perante o outro. Nós, leitores, somos convidados a ver essas mães. E nos apaixonamos pelas suas jornadas e trajetórias até o fim de suas vidas.

O mutismo de Ida, a fraqueza intelectual de Nino, o infantilismo da linguagem de Useppe, as dores psicológicas de Davide Segre, a fábula da Cachorra-Lobo Bella, e tantos outros personagens que passearam pela jornada desse romance demonstraram as suas limitações na luta pela sobrevivência e por um lugar na história. Um lugar nessa história italiana marcada por longos períodos de guerras, miséria, fome e um forte senso de individualismo. E de maneira brilhante e perspicaz, levando um certo lirismo e poesia na obscuridade humana, Elsa Morante, conseguiu narrar em tom de fábula fatos culturais e históricos de um século permeado de um extremo ao outro pela violência em suas mais variadas formas que a mente humana pode inventar e concretizar.

Sem dúvidas, foi o melhor livro das minhas leituras de 2020.
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jota 23/04/2011

UM LIVRO PARA FICAR NA HISTÓRIA
O título? Justamente A História, escrito pela italiana Elsa Morante, lançado em 1974 com estrondoso sucesso em seu país. O escritor Victor Giudice, um admirador entusiasmado do livro, fez uma apresentação para a segunda edição brasileira da Record, em 1996. Sua sinopse: "Numa tarde de 1941, o soldado Gunther, jovem nazista, aproveitando uma parada de seu batalhão em Roma, resolve dar um passeio solitário pelas ruas da cidade. Numa delas, encontra Ida Ramundo, professora primária e viúva. A solidão conduz o moço ao desejo de violentar a mulher. Ida permanece indefesa devido ao terror que lhe é imposto pelas conseqüências históricas. Gunther morrerá dois dias depois, no entanto, deixa nela a semente do menino Useppe e da gigantesca trama que faz deste romance o maior painel de ficção dedicado aos efeitos da Segunda Guerra Mundial."

Giudice prossegue em sua apresentação do livro para o público brasileiro: "Elsa Morante serve-se da História, representada friamente em seus fatos e suas datas principais, para reduzi-la a outra história, anônima, nunca transposta aos bancos escolares, mas que deve ter-se repetido, com pequenas variações, em cada um dos milhões de seres que, a exemplo de Iduzza Ramundo, se viram arrebatados em seu rastro de sangue.

"O extraordinário sucesso europeu do livro de Elsa Morante é um reflexo da consciência de uma coletividade que se vê individualizada e, sobretudo, humanizada, num relato da própria desumanidade de que foi vítima.

"É importante atentarmos para o realismo sugerido nas páginas de A História, romance de tipo tradicional, escrito com as mesmas técnicas empregadas a partir da segunda metade do século XIX. Elsa Morante não inventa motivações literárias de ordem formal com vistas à comunicação da linguagem pura e simples, sem nada proclamar. A romancista tem muito mais a dizer em suas frases despojadas, para construir um universo literário que acaba por confundir-se ao outro universo, concrteto e cruel, de onde foi extraído.

"O caso da professora Ida Ramudo e seu bastardo Useppe, entrelaçando-se a infinitas ramificações, é um sintoma das disponibilidades obscuras do Homem e uma denúncia ao que foi feito e a tudo que ainda se pode fazer em matéria de criminalidade oficial. Porque, segundo Elsa Morante através de seu personagem Davide Segre, a guerra é uma cerimônia oficial dos governos. Um conjunto de tratados, negociações, acordos e conferências, que, no fundo, nada mais são do que um plano terrível, cuja finalidade única é provocar tragédias individuais.

"Qual será a verdade dos interesses de uma minoria para esfacelar a vida num planeta que se caracteriza pela existência da vida?

"Não seriam suficientes as formas de felicidade que a vida oferece em troca da harmonia do ser para os seres?

"Elsa Morante procura responder com A História. Mas é uma pergunta nublada pela presença de um binômio que nunca será explicado em sua totalidade: nazismo-fascismo. A loucura de um ridículo contágio, capaz de persistir como ideologia de destruição e desgraça. No final do romance, os fatos da História tornam a sobrepujar e a engolfar os fatos anônimos. Entretanto, o leitor já não é o mesmo do início, pois sabe que alguma coisa intangível e monstruosa pode acontecer com ele, tão indefeso quanto a professora Iduzza, naquela tarde distante de 1941."

Dentre os admiradores do livro, encontrava-se o cineasta Pier Paolo Pasolini, que o resenhou em 1974, para a revista italiana Tempo, onde diz que “O último romance de Elsa Morante é um poderoso volume de 661 páginas [a edição brasileira tem 604 páginas], e o seu “sujeito” é realmente aquele que diz o título, isto é, a História.” E não foram apenas os intelectuais italianos que se entusiasmaram com a obra, mas os leitores comuns também. Tanto que três meses após o lançamento, mais de 450.000 exemplares haviam sido vendidos na Itália. Fato que, então, tornou o livro o maior best-seller de todos os tempos no país.

Durante cerca de vinte anos Elsa Morante esteve casada com o também escritor Alberto Moravia, com quem competia, sem alcançar o mesmo sucesso dele, porém. Deixou várias obras, mas nenhuma com o alcance de A História. De todo modo, A ilha de Arturo, lançada no Brasil somente em 2009, foi bem recebida pelo público e pela crítica especializada.

Elsa Morante – A História, Rio de Janeiro, Ed. Record, 1996.
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Joana 03/01/2015

Ótimo livro passado durante a S. G. Mundial. História contada de modo diferente e cativante. Um grande drama e uma personagem inesquecível, Ida Ramundo.
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Dante 12/07/2020

A Histótia com grandes histórias. - Elsa Morante.
Narrativa carregada de história real. Insere o leitor perfeitamente no cenário de conflitos mundial. Faz sentido seu título. Fiquei com pena da Nora, nunca sentiu o que é um gozo e teve um fim terrível. Este é um romance genuíno.

Este livro invoca todo tipo de sentimento da nossa alma. Uma pobre professora de origem judaica é estuprada com brutalidade por um nazista, além de desperta sua doença de espasmo que já tinha se livrado e com este trauma volto. Agora ela vai enfrentar dar à luz a este filho, o medo que ela sente a todo momento. A autora com maestria consegue nos colocar na pele dessa pobre, mais muito forte, mulher. Sentimentos que arrancou de min, raiva, ódio, revolta, Tristeza e algumas alegrias com as bobeiras de Nino, Usep e Bella.
Impressionante, este livro é um resgaste da verdadeira felicidade. No meio do caos, desgraça em todo canto, ataques aliados por bombardeiros, nazistas da SS caçando Judeus, Fascistas Italianos caçando não arianos e recrutando os jovens para morte certa. Uma pequena criança consegue brincar no meio dos escombros da sua casa. Escondidos para não serem capturados as crianças diverte -se com nada. A felicidade da pobre Ida, sua única preocupação é garantir a segurança do seu pequeno bastardo. Não sabia do que se esconder, nazistas da SS, Fascistas Italianos ou as Fortalezas Voadoras dos americanos que fazia descer o inferno sobre suas cabeças. O êxodo da população sendo levada como gado para moradias arranjadas de qualquer maneira para alojar a pária da sociedade. E no meio disso tudo, você percebe a felicidade motivada pela inocência das crianças. E até jovens mães de 13 e 14 anos que foram estupradas, tiveram os filhos e continuava brincando e com a mente desligada do caos, seguindo esse êxodo com seus parentes que a essa altura, ter um filho mesmo que por violação era para todos o mínimo dos problemas. Os nazistas roubam seus corpos, os Fascistas roubam suas almas e os aliados destroem seus sonhos.
Está é a vida dos cidadãos simples como nós. Que são guiados por lideranças maléficas.
Incrível como o ser humano tem uma capacidade extraordinária para adaptar. Os refugiados e Ida e seu pequeno filho. Com o passar dos dias e diversos eventos, acostuma com a vida naquele gueto. Estabelecem uma grande família com os demais refugiados. Ao passar perto por engano de um vagão de trem carregado de seres humanos, amontoados de uma forma pior do que se transporta gado. Nossa brava mulher de origem judaica entra em pânico temendo ser descoberta e sua única preocupação é proteger seu pequeno mestiço alemão-judeu. No meio disso tudo a autora, majestosamente, mostra os levantes comunistas, os jovens lutando contra os nazistas e fascista. Como aquela ideia de liberdade e comunhão fortifica em um território de desgraças, isto é, os jovens queriam defender sua pátria e o comunismo com os levantes das guerrilhas, proporcionava uma opção além de esperar a morte, seja pelas mãos nazistas, fascista ou os bombardeiros das famosas fortalezas voadoras dos EUA (O B-17 Flying Fortress). Por Roma jogava uma aquarela de sangue de diferentes povos.
Fiquei chocado, as cenas que a narrativa nos introduz é impactante. A brutalidade animalesca que os nazistas mataram duas guerrilheiras foi muito triste. A autora com maestria soube muito bem trabalha estas cenas. E as de torturas de outros guerrilheiros. Este livro, alterna entre a história dos personagens principais, mas ao mesmo tempo contém muitas micro histórias, talvez mais significantes para toda trama do que as dos personagens centrais. São tantas micro histórias que até me esqueço da trama principal. E mesmo quando a trama volta para os personagens principais, percebemos a degradação física e mental da personagem central. Devido aos horrores da guerra, fome, humilhação e exaustão. Uma professora praticando pequenos furtos para alimentar seu pequeno filho bastardo. Assim como os personagens secundários. História grande......
Que narrativa boa. Amando todos personagens. Quando mais aprofundamos nas suas cabeças. Até o personagem Nino que não me agradava, agora passo a entender melhor suas escolhas e decisões. Ele foi solado fascista, soldado nazista, guerrilheiro comunista, anarquista e agora se tornou capitalista. Um personagem complexo, tomando muitas decisões, erradas motivadas por medos, enganos e sonhos irreais. Até o Davide que achava um beberão depressivo. Com o tempo percebemos o quanto profundo é o personagem. Um anarquista ferrenho, judeu e de família burguesa. Para fomentar uma possível revolução resolve trabalhar em fábrica. Assim de acordo com ele, teria seu lugar de fala perante os operários e viriam ele como um irmão trabalhador. Nesse meio tempo, sua família e toda levada para os terríveis campos de concentração. É incrível como a autora vai armando uma teia é nós entregando de pouco em pouco os detalhes dessa enorme História com tantas histórias. Os relatos dos solados italianos que congelaram na Rússia tudo muito bem feito, bem trabalhado e extremamente articulado.
Não tem coisa pior, quando você odeia um personagem, posterior quando você o entende melhor, passa a gostar e do nada ele se vai. A autora, soube muito bem articular esse tipo de sentimento. Me emocionei muito, fiquei com a sensação que fui injusto com este nobre personagem. Todas as cenas de sua vida, sua trajetória, suas humilhações, suas vitórias e frustrações. Seus desejos e sonhos. Não tem nada pior quando um personagem bem trabalhado é morto. Porque ele se torna real, na nossa mente.
A vida da Ida é uma montanha russa. Quando acaba um desespero, inicia outro pior. E contra esse, a guerra é diferente. O pequeno Usep, uma criança inteligente e esperta, o jovem poeta e sua cadela Bella, proporciona várias risadas. A cachorra babá e suas fugas para ouvir os passarinhos melodiar. O sentimento de pena que a autora nos faz sentir para com Davide é muito impactante. Um personagem que perdeu toda sua família no campo de concentração, perdeu todos seus amigos nas guerrilhas contra os fascistas e nazistas, perdeu seu único e último amigo verdadeiro de acidente, perdeu sua amante assassinada. Se entrega agora a profunda depressão, usando drogas, bebidas, desejando não viver mais, que a vida além morte seja a inexistência, pelo fato que já sofreu demais durante sua vida. E se existe céu e inferno, ele certamente dizia, iria para o inferno é sofrer para sempre.
Davide sem dúvidas é o personagem mais surpreendente de toda trama. Seu discurso contra o fascismo e o poder como raiz de todos os males humanos é, magnífico. Todos deveriam ler, livros de época nós ilumina. Esclarece muitas questões. O pequeno mostra alguns traços terríveis.
Esperava um final bom. Porque desde a página 500, a narrativa segue entre passagens vazias de brincadeiras da criança Usep e sonhos motivados por alucinógenos do Davide, nosso nobre anarquista depressivo.
Devo dizer, o que foi isso. Muito tempo que um livro não consegue arrancar de min emoções tão fortes, lágrimas e desespero para ler sem parar cada palavra, cada frase, cada página. As 50 últimas páginas, a narrativa fica freneticamente. E você lendo e desejando não acontecer o que ficou óbvio nas últimas 100 páginas. Mas, de fato acontece, de uma maneira mais terrível ainda. Este grande livro, com um título instigante, "A História " é justamente isso, uma Grande História, baseado em fatos reais. Com personagens tão vivos com suas personalidades profundas, sonhos, desejos e acima de tudo, as frustrações, humilhações. Acompanhamos a vida de Ida, no meio da segunda Guerra mundial. Lutando para cuidar do seu filho bastardo, que veio ao mundo por um ato terrível, um estrupo. Ida o ama, juntamente com seu primogênito Nino, que por diversas vezes, ajudava cuidar do pequeno Usep. Nino, se comporta com um típico adolescente encantado por seu Duce. E descobre da pior maneira que o venerável e infalível Duce é apenas um homem. Depois vira, nazista e também descobre que o Fuhrer é apenas um velho louco com uma loucura contagiante. Então vira guerrilheiro comunista e luta contra com os fascista e nazistas. Depois chega à conclusão que o Stálin é um sanguinário como os outros dois é que o comunismo é apenas mais uma forma de governo que lidera pelo medo e terror, com uma máscara de boa civilização. Então vira anarquista e depois de tantos processos descobre que anarquismo nunca faria uma revolução. Virá capitalista, e depois de negócios e embates. Chega à conclusão que nenhum sistema vale a pena lutar e perde seu pouco tempo de vida. Que a verdadeira revolução como seu amigo Davide menciona, seria feita de dentro para fora de cada ser humano. Sem intervenção de sistemas e homens. Mas, infelizmente, a humanidade está longe de alcançar está iluminação. O livro, é de tirar o fôlego, narrativa de época, baseado em fatos reais, apresenta a todo momento, o decorrer da segunda guerra e seus acontecimentos, embates, revoluções, vitórias e derrotas.

Biografia da Autora
Elsa Morante nasceu em Roma em 1912, e com exceção de um período durante a Segunda Guerra Mundial, residiu em sua cidade natal até a sua morte, em 1985. Desde a idade de treze anos, Elsa Morante publica alguns textos em diversos jornais infantis, e aos dezoito anos decide se consagrar à literatura, deixando sua família e seus estudos. Colaborou com o hebdomadário Oggi de 1939 a 1941. Casou com o escritor Alberto Moravia em 1941 — o casal viria a se separar em 1962, sem jamais se divorciar — e encontrou por seu intermédio muitos dos pensadores e escritores italianos da época. Durante a guerra, ela acompanha o marido no exílio de 1943 a 1944.
Morante publicou seu romance Menzogna e sortilegio em 1948, obtendo o prêmio Viareggio; mais tarde, é laureada do prêmio Strega com seu romance L'isola di Arturo, em 1957. Ela viaja para a Espanha, URSS, China e em 1960 aos EUA, onde ela se relaciona com um jovem pintor, Bill Morrow, que se suicida em 1962. Em 1974 publicou La Storia, que suscitou polêmica, e depois Aracoeli, em 1982. Doente após uma fratura do fêmur, ela tentou se suicidar em 1983. Morante recebeu em 1984 o Prêmio Médicis por Aracoeli. Ela morre em Roma em 25 de novembro de 1985.
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Ricardo Rocha 02/03/2016

confesso que me sinto confuso pra escrever algo.
o livro aborda para mim não todo o painel de temas que aborda, mas essencialmente um único:
como a História ultrapassa, atropela, nossas histórias pessoais. Como é composta, por outro lado, por uma infinidade de prantos e alegrias anônimas que jamais chegarao a ser registradas nos livros de "História". Tudo em volta é lindo mas sempre e sempre fortalecendo esse tema principal
acabei de ver o livro na biblioteca, peguei o cartao, é pouco emprestado. mais um exemplo de como reconhecimento e fama estão distantes
um livro realmente bom e mais isso. essencial
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