Clio0 19/01/2012
Um livro de terror e suspense que vai agradar qualquer um, mas principalmente nós, brazucas, pelo simples fato de que há muita coisa aqui que podemos identificar na nossa sociedade.
Sou fã incontestável de livros que misturem terror e suspense, porém esse me surpreendeu agradavelmente não apenas por ser muito bem escrito, mas por poder ser facilmente relacionado com coisas religiosas que reconhecemos aqui no Brasil. Vou tentar explicar isso melhor:
A maior parte da população do país é ou foi católica, sendo que a maioria se define com o estranho termo de católico não-praticante, que em outras palavras significa “sou católico, mas não presto muita atenção”.
Diferentemente, nos EUA, católicos são minorias e a maioria dos livros terror-suspense com cunho demônio-religião não são escritos por católicos, ou seja, a Igreja Católica é quase sempre apresentada de uma forma caricata, preconceituosa, ou iconicamente diferente. Pode parecer uma coisa boba, mas é como assistir um filme que diz que os índios inventaram a capoeira.
O autor, então, se esmera em colocar uma visão que mistura toda a liturgia dogmática católica contra o demônio, antagonista no livro. O resultado é algo que verdadeiramente se parece com relatos históricos validados não apenas pelos infames arquivos da Santa Inquisição, mas também por qualquer um que já tenha, mesmo que por curiosidade, assistido uma missa na TV.
Toda a história é conduzida por um trio que ao final se define por uma crente convertida (não sentido de crer em Deus, independente de igreja), um agnóstico e um ateu. Eu não concordo com algumas das posições que o autor fez os personagens apresentarem ou assumirem, mas não há como negar a profunda eficiência com que ele descreveu o processo de conversão para os teístas, o absenteísmo dos agnósticos, e a fúria negacionista de alguns ateus.
É óbvio que o ateu foi apresentado de uma forma tão fanática quanto o padre que realiza o exorcismo e é, ultimamente, possuído pelo demônio. Sua negação à existência de deus não é apenas reflexo, no livro, de sua experiência como cientista, mas também como o resultado de um abuso sexual cometido por um padre confessor na sua infância.
Em uma série de acontecimentos cuja lógica e coerência tem que ser aplaudidas, apesar de seu fanatismo e clara manipulação para formação de opinião, o ateu liga toda a para-normalidade dos acontecimentos, e alguns dos problemas atuais da Igreja Católica, com o impulso sexual, numa manobra das teorias de Freud que é de cair o queixo.
Se toda a discussão religiosa não bastasse, o autor ainda implica em uma torrente emocional dos personagens que faz com que qualquer um se identifique com algo ou pelo menos simpatize com alguma descrição. Sentimentos como pavor, desespero e fervor são amplamente utilizados para criar uma das melhores descrições de frenesi que já tive o prazer de ler.
Finalmente, se você leitor está mais acostumado ao gênero, dificilmente ficará uma noite sem dormir. Mas, o estilo, a organização e a dedicação que o autor aplica nessa obra são mais que suficientes para criar uma leitura que não apenas vai proporcionar diversão, e sim, talvez como aconteceu comigo, o façam procurar mais obras desse autor.