Beatriz 07/04/2016EmocionantePra resenha completa e com Gif no link abaixo.
Minha história com o livro começou quando fui intimada a assistir ao filme O Quarto de Jack. E como eu sabia que havia o livro, não havia deus no mundo que me faria assistir antes de ler, então corri procurar um exemplar e ler antes de ser amarrada ao sofá.
Eu li em menos de 10h, em uma sentada. Quando dei por mim, já havia terminado, foi rápido. O tempo parou enquanto eu lia. Eu gosto muito de livros com visões infantis, e apesar do livro ser escrito por um adulto, ainda tem aquela inocência e doçura da vida.
O livro:
Quarto é narrado inteiramente por Jack, um menino de 5 anos que tem todo o seu mundo dentro de um quarto. Aquilo é tudo o que ele conhece e vai conhecer, as pessoas de sua vida são sua mãe e o velho Nick, que ele nunca vê. Mas ele se diverte e é muito feliz nesse lugarzinho, sua mãe, que ele chama de Mãe e em nenhum momento ouvimos falar o nome dela, faz de tudo para que ele seja feliz e conheça as coisas.
""É esquisito ter uma coisa que é minha e não é da Mãe. O resto tudo é de nós dois. Acho que meu corpo é meu, e as ideias que acontecem na minha cabeça. Mas as minhas células são feitas de células dela, quer dizer que eu sou meio dela. E também, quando eu digo pra ela o que estou pensando e ela diz pra mim o que está pensando, nossas ideias de cada um pulam na cabeça do outro, que nem lápis de cera azul em cima do amarelo, que dá verde.""
É interessante como coisas banais, para crianças são especiais. Jack gosta da TV, de assistir Dora Aventureira, mas sabe que não pode assistir muito pois seus miolos podem derreter. Tem o Guarda-Roupas, que é onde ele vai dormir, apesar de sempre acordar na Cama. Cada objeto, cada pequena cosia para ele é especial, é como amigos. É muito emocionante ver essa inocência em seu olhar, o que deixa a leitura muito fluida e prazerosa.
""Quando eu tinha quatro anos, eu achava que tudo na TV era só TV, aí eu fiz cinco e a Mãe desdizeu que uma porção de coisas eram só imagens do real e falou que o Lá Fora era totalmente real. Agora eu estou no Lá Fora, mas acontece que um monte dele não tem nada de real.""
Mas assim que ele completa 5 anos sua mãe vem com um papo estranho, de que existem coisas a mais lá fora, fora da Claraboia, coisas como Primos, Tios, Avó e Avô. E ele fica assustado, não consegue ligar com tudo isso, é muita coisa, muito estranho. Mas o pior de tudo é quando sua mãe inventa umas coisas estranhas, e diz que eles precisam fugir, mas pra que fugir? O quarto é bom, tem tudo o que eles precisam. Mas sua mãe insiste que não, que aquilo é ruim comparado com o que podem ter.
""O La Fora tem tudo. Agora, toda vez que eu penso numa coisa, como esquis ou fogos deartifcio ou ilhas ou elevadores ou ioios, tenho que lembrar que eles sao reais, acontecem todos juntos de verdade no La Fora. Isso deixa minha cabeça cansada. E as pessoas tambem, bombeiros, professores, ladroes, bebes, santos, jogadores de futebol e gente de todo tipo, eles todos estão mesmo no Lá Fora. Mas eu não estou lá, eu e a mãe, nós somos os únicos que não estão lá. Sera que ainda somos reais?""
E é com essa promessa de que existe cosias melhores que ele aceita fazer a cosia mais corajosa que já fez na vida.
Opiniões:
O livro, como eu disse é pequeno, e não trata de estupro, nem de sequestro, trata de conhecer o mundo. De enxergar as coisas com olhos inocentes. Nos da a oportunidade de ver as coisas com aquele véu magico que existe nos olhos das crianças, mesmo as coisas feias e horríveis.
Além disso, em todo lugar que eu olho para as crianças, os adultos quase todos parecem não gostar delas, nem mesmo os pais. Eles chamam os filhos de lindos e tão bonitinhos, mandam as crianças fazerem tudo de novo para eles poderem tirar fotos, mas não querem de verdade brincar com elas, preferem tomar café conversando com outros adultos. Às vezes tem um bebezinho chorando e a Mãe dele nem ouve.
A relação de Jack com sua mãe é preciosa e pura, nos emocionamos e nos revoltamos com a Mãe, mas nós a compreendemos, nos apaixonamos por ela também. É com graça que a autora nos faz refletir sobre lugares seguros e sobre o conforto das crianças. Nos faz refletir e refletir a cada pagina sobre a percepção delas.
""No Quarto eu ficava seguro e o Lá Fora é que assusta.""
Tudo o que sabemos do livro é sobre percepção do leitor, o autor deixa pontas soltas e algumas coisas semi esclarecidas. O que faz com que cada pequena informação seja útil e vital para esclarecer completamente o contexto. O resto, que não seja a inocência e percepção de Jack, fica de segundo plano. Mas é lindo, você se apaixona por Jack, sente medo e coragem por ele. Se orgulha dele.
O livro é dividido em partes, temos a parte do Quarto, da fuga, da adaptação do Lá Fora e do depois. E vemos a evolução desse menino, que continua a narrar as coisas através do seu filtro de prioridades, que não é o mesmo do leitor. Vi quem não gostou dessa característica, mas, penso eu, esse é o diferencial do livro. Se quiser ler alguma coisa mais profunda e detalhada sobre sequestro e estupro leia outra coisa.
Algumas pessoas ficaram um pouco incomodadas com a feiura das pessoas mostrada no livro. Como elas parecem egoístas e mesquinhas, mas na verdade a maioria de nós somos assim. O livro é uma criança boa e inocente que nasceu no inferno, não esperem a Madre Teresa vir ao socorro ajudar, pois não é assim que as coisas funcionam. Porque o mundo é feito de pessoas, e pessoas são feias, as crianças não enxergam as coisas com profundidade, não tem a percepção de saber o porque alguém faz o que faz, só questiona o porque fez.
Então, as vezes nos irritamos com as pessoas do Lá Fora, assim como nos irritamos com pessoas do Nosso Mundo. O livro é humano, trata os personagem como humanos, não escondendo seu lado biológico, suas cicatrizes ou sua feiura.
O Quarto é um livro pesado e dramático, que nos faz refletir sobre uma porção de coisas, que foi maravilhosamente escrito pela versão da inocência. Então, vale sim a pena ser lido e discutido, refletido e lido de novo.
site:
https://aquimerablog.wordpress.com/2016/04/05/quarto-de-jack-resenha-do-livro/