Livy 23/06/2011
Em busca do passado!
indiretamente. Não conheço nada muito além da história de meus pais. De certa forma, isto é um tanto triste, pois não sei nada sobre minha árvore genealogica, e quem foram meus ancestrais. Não sei se houve guerreiros, sofredores, revolucionários, trapaceiros, ou algum nome importante na minha história familiar. Claro, isso não é problema nenhum para mim, eu convivi todos esses anos com isto, e vou continuar vivendo. Mas para Lucy Jarret, esta passou a ser uma questão muito, muito importante. De certa forma, ela se sente presa a um passado de dor e remorso, devido a morte abrupta de seu pai, que ocorreu a muitos anos, em Lago dos Sonhos, cidade onde vivia, e da qual se sente muito culpada.
Lucy Jarret, é uma jovem aventureira que já viajou muito, estudando e trabalhando, conhecendo novas culturas e tendo uma boa vida. Mas no fundo ela nunca sentiu-se verdadeiramente feliz, não importando aonde estivesse, e sente que falta algo da qual precisa resolver. Talvez o passado seja seu maior problema.
Atualmente ela vive com o namorado Yoshi no Japão, mas está enfrentando dificuldades para conseguir um novo emprego. Ela recebe notícias de sua mãe, que sofreu um acidente de carro, sem gravidade, mas decidiu que era hora de a visitar em Lago dos Sonhos, nos Estados Unidos. Quando ela chega, percebe que tudo à sua volta mudou. A mãe dela se recupera rápido do acidente e está bem, além de ter conhecido um homem que tem tudo para fazê-la feliz: Andy. Seu irmão Blake, também está com a vida resolvida: irá se tornar pai e acaba de aceitar a proposta do tio para trabalhar na Mestre dos Sonhos, a fábrica de fechaduras criada pelo bisavô e que é simbolo da família. Fora isso ela vê que o tio está muito parecido com seu falecido pai, mas que, apesar de se mostrar solicito e bom, esconde muitos segredos. Além disso, nesta volta ao passado, ela acaba reencontrando seu ex-namorado e eterno amigo, Keegan, que agora possui um lindo filho, Max. Ok! Muitas mudanças para uma pessoa só enfrentar. Mas ainda tem muito mais por vir.
Por acaso, em um dos cômodos fechados da casa de sua mãe, Lucy encontra uma carta endereçada a seu bisavô e também muitos papéis antigos. Estes papéis apontam pistas da existência de uma antepassada da qual Lucy jamais tinha ouvido falar. Para ela, toda a sua história familiar, contada até o presente momento, é de seu avô, que com apenas 15 havia presenciado o cometa Halley passar em 1910. Na época o fato causou uma série de notícias a respeito do cianogénio, gás letal presente na cauda do cometa, que criou um clima de pânico mundial. Mas foi enfrentando este medo que o avô de Lucy, saiu a noite, admirando a beleza do cometa. Aparentemente tudo havia começado aí...até agora.
Lucy começa a investigar, descobrindo aos poucos mais evidências da existência de sua parente desaparecida na história genealogica de sua família. Ela descobre vitrais, cartas e pontos que ligam muitos de seus antepassados, e aos poucos ela vai montando o quebra cabeça, formando a rede e as conecções, até que consegue compreender o passado e descobrir a identidade da misteriosa mulher, dona das cartas, assim como conseguir compreender sua própria história e identidade.
O livro trata também do suffrágio feminino, e da luta das mulheres pelo voto. Uma das passagens das quais mais gostei no livro, foi quando Lucy está lendo um trecho de uma das cartas de sua antepassada e pensa:
"Tornei a verificar a data - 1916. Contada por Rose, a história não parecia tão distante. Fiquei imaginando como teria sido a minha vida se não houvesse tido a oportunidade de estudar, trabalhar ou mesmo conhecer os fatos mais básicos sobre meu corpo. Por trás da minha independência escondia-se uma história difícil, como as ruínas das fábricas sob a superfície tranquila daquelas águas. Com a perspectiva dos séculos, os direitos que eu considerava naturais subitamente me pareciam muito recentes."
Neste trecho eu tive este mesmo sentimento. Aliás, boa parte da beleza do livro está aí: no passado, mostrando a importância que ele tem em nossas vidas, e em como não somos nada sem nos conhecermos e darmos valor a tudo o que veio antes de nós. Foram nossas antepassados que contruíram nosso presente, e somos nós que estamos construíndo o futuro.
O livro me lembrou também, em muitos momentos o Julieta de Anne Fortier, mas não comparo aqui ambos, pois apesar de algumas semelhanças, ambos tem estilos e tramas bem diferentes.
Kim Edwards escreve com fluidez e tem uma narrativa maravilhosa. Mas, infelizmente, um ponto que não gostei foi a repetição de descrições, em diversas passagens do livro. Isso não é de todo ruim, claro, mas incomoda um pouco, tornando o livro, em alguns pontos um pouco maçante. Apesar disso, sua narrativa minuciosa é o que dá ao fator histórico tanta graça, e em momentos, em que a natureza tem evidência, realça a beleza da cidade.
Eu esperava um pouco mais do livro, mas pelo que se propõe, o livro é muito interessante e tem uma trama envolvente e instigante, com um final até mesmo surpreendente.
Este é um livro que trata de descobertas, tanto do passado quanto da própria identidade. Também é um livro que não se trata apenas de um mero romance, mas mostra o amor incondicional e absoluto de uma mãe por sua filha, atravessando décadas e séculos, e até mesmo gerações. A beleza do livro, e a sutileza das emoções, do passado, e da vida das pessoas, tanto as que convivem conosco, quanto as que habitaram o mesmo chão no qual pisamos hoje, é muito interessante e emocionante. Acompanhamos a jornada de Lucy pelo passado, mas acima de tudo em resgate de si mesma!