O som e a fúria

O som e a fúria William Faulkner




Resenhas - O Som e a Fúria


279 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Fabio 14/10/2023

A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, sem sentido algum.
Som e Fúria, considerada a obra mais importante do escritor norte-americano, William Faulkner, vencedor dos prêmios Nobel de literatura, Pulitzer de Ficção, e o National Book Awards, retrata a trajetória dos Compson, uma família aristocrática sulista, em plena decadência, moral, física e financeira.

Ambientada nos anos 20, durante a maior crise econômica dos Estados Unidos, Som e Fúria, nos conta a história da família Compson em meio aos tempos de crise, ao gigantesco preconceito racial, e aos embates morais e sociais, que dividiam a sociedade americana no início do século XX.

Som e Fúria é dividido em quatro vozes narrativas distintas, escrita em Fluxo de Consciência (Técnica literária, em que procura transcrever o processo de pensamento de um personagem, com o raciocínio logico entremeado com as impressões pessoais e que exibe os processos de associação de ideias), narrados sob as perspectivas dos personagens Benjy, Quentin e Jason Compson, e Dilsey Gibson.

O primeiro capítulo, considerado um dos mais desafiadores da história da literatura mundial, nos mostra o fluxo de consciência do personagem Benjamim (Benjy), um dos filhos Compson. Um homem de 30 e poucos anos, que possui deficiência mental grave, não possui domino da fala, e que não responde pelos próprios atos, necessitando de cuidados o tempo todo. Então somos apresentados a uma narrativa ansiosa, confusa, onde o passado é misturado ao presente, e as cenas, são entrecortadas o tempo inteiro, repletas de figuras míticas e delírios mentais. Os saltos temporais desse capitulo, são tantos, que por muitas vezes, é necessário retornar ao parágrafo anterior para tentar compreender, resquícios da mente atribulada, cheia de "som e fúria" do personagem.

O segundo capítulo, ainda estamos dentro do fluxo de consciência, mas agora, do filho mais velho da família Compson, Quentin. A narrativa, fica um pouco mais fluida, que no capítulo anterior, porém, a dificuldade ainda é muito grande, porque, durante a maior parte do capitulo, Faulkner não faz uso de pontuação gramatical, o que demanda ainda mais paciência e dedicação do leitor, pois é o capitulo chave para a compreensão dos próximos episódios. Quentin, vai estudar em Harvard, e a sessão nos mostra um único dia da vida dele. A maior dificuldade do episódio, está no fato de mesclar recordações da infância de Quentin, com os fatos presentes, enquanto ele caminha perdido em devaneios e delírios pelas ruas movimentadas de Cambridge. Nesse capítulo, conhecemos melhor o relacionamento entre Quentin e a problemática irmã, Cadence (Caddie), por quem nutria os mais veementes sentimentos.

No terceiro episódio somos lançados a perspectiva de Jason, o irmão mais novo dos Compson. Ele se transformou no provedor da família, e herdou dívidas e o dever de sustentar a mãe D. Caroline, a sobrinha Quentin, manter o funcionamento da casa, e a tutela dos criados negros, Dilsey, Luster, Frony e T.P. Nesse capítulo, começamos a ter um entendimento maior da história, pois a narrativa torna-se muito mais fácil e fluida, e logo nas primeiras linhas damos de cara, com um Jason, rancoroso, amargo, misógino e racista, e que faz de tudo para subir na vida, inclusive roubar e “passar” por cima dos próprios entes. Jason é considerado por muitos, um dos maiores vilões da literatura norte-americana

Por fim, no quarto capitulo, Faulkner assume a narrativa, e nos entrega um belíssimo e poético texto. Onde Dilsey, é a protagonista, e o autor nos mostra uma nova perspectiva, que em meio a um mundo cheio de ódio, rancor e racismo, uma negra, é a “liga”, que mantem unida a família Compson (ou o que sobrou dela) e que mesmo que aos trancos e barrancos, e com a saúde debilitada, dedicou boa parte de sua vida, para cuidar de uma família, que só soube explorar de sua boa vontade.

Logo no início de Som e Fúria, percebemos, que William Faulkner, se inspirou na clássica obra Ulisses de James Joyce, e que é clara a referência ao dia de Leopold Bloom (Ulisses), no segundo capitulo, quando Faulkner narra o único dia na vida de Quentin Compson. E que em diversas partes do livro, podemos encontrar, um pouco de Joyce nas entrelinhas, nas citações e principalmente na técnica literária.

Outro fato que podemos captar facilmente na obra, é que Faulkner, muito se inspirou em William Shakespeare, Marcel Proust e Fiodór Dostoievski, principalmente no que se refere a construção de seus personagens, na filosofia de seus escritos, e no método aplicado do Fluxo de Consciência.

Durante boa parte da leitura de o Som e a Fúria, confesso, que me senti perdido, e aquele sentimento de frustação, tomava conta de mim, todas as vezes que pegava o livro em mão, e que, por diversas vezes pensei em abandonar, principalmente nos dois primeiros capítulos, entretanto, imediatamente após do final, depois de uma profunda reflexão sobre a obra, digo a vocês, amigos leitores, que a persistência é a melhor receita para vencer os primeiros obstáculos da obra, e que a perseverança será recompensada, por um final arrebatador, que toca até os mais céticos e insensíveis corações.

Em suma, Som e Fúria, é um livro desafiador de enredo simples e narrativa poderosa e complexa, que abordam assuntos “velhos” e “doloridos”, mas que são infelizmente pertinentes e atuais, principalmente nos dias de hoje.

Recomendo a todos, e principalmente aos amantes dos clássicos e leituras desafiadoras.

Antes de terminar, gostaria de agradecer as minhas amigas e companheiras de LC, que me incentivaram durante toda a árdua trajetória dessa leitura, e dizer também que, sem os debates extremamente frutuosos desse grupo, eu não teria alcançado o mínimo de entendimento dessa complexa obra.
Muito obrigado, Michela, Rogéria e Vanessa.
Carolina.Gomes 14/10/2023minha estante
Pulei essa leitura em grupo e, pelo visto, não lerei tão cedo.


CPF1964 14/10/2023minha estante
???? pela resenha, Fabio.


@Francielly 14/10/2023minha estante
Fabio,
É incrível como a sua escrita faz o leitor sentir-se por dentro da história sem ter lido o livro. Parabéns, mais uma excelente resenha. ????


-Rachel 14/10/2023minha estante
Mais uma resenha excelente, Fabio! A meta é escrever igual você um dia hahahah ??


Flávia Menezes 14/10/2023minha estante
Aaah como eu esperei por essa resenha, e aqui estou eu?fascinada! ?
Faulkner é um dos meus autores favoritos, e essa obra mexeu imensamente comigo quando li, porque me apaixonei pelas dores e amores dessa família, e aqui, na sua resenha, eu me vi relembrando cada partezinha especial dessa história magnífica.
Sua resenha me fez sentir sendo instruída por um professor de Literatura, e confesso que até já anotei aqui suas dicas para adiantar a leitura desses autores que você indica conhecer, para entender essa fonte de inspiração do Faulkner. Esse é um detalhe tão fundamental! E foi um lembrete imprescindível. ?
Uma resenha bela, poética, que fala das dificuldades de uma obra complexa como essa, mas orientando de como a atenção e persistência torna a leitura perfeitamente possível, e ainda deixa aquele gostinho de: veja por você mesmo! ??
Para mim, a ?cereja do bolo? está no contraste do título x antepenúltimo parágrafo da resenha. Que belo paradoxo você criou aqui. Estou encantada com essa sacada sua! ?
Parabéns, Fábio, meu lindo!!! Mais uma resenha brilhante que nos ensina tanto, nos encanta e nos motiva a cada vez mais a não ter medo de mergulhar nesses polêmicos clássicos da literatura. ?
Sempre sua fã, mas depois dessa? confesso que me fez ficar ainda mais! ????


-Rafaela 14/10/2023minha estante
Fábio, parabéns mais uma vez pela resenha! Um dia chego lá escrevendo tão bem quanto você, arrasou como sempre!! ???


Fabio 14/10/2023minha estante
Carolina, esse livro foi pra mim um desafio, porque, fazem anos que eu coloco ele na lista e acabo deixando sempre de lado... mas a LC acabou me animando, e fico feliz de não ter desistido... no final, vale muito a pena


Fabio 14/10/2023minha estante
Muito obrigado, Cassius!?


Fabio 14/10/2023minha estante
Ahh, Fran.... olha a maquina de escrever resenhas, por aqui!?
Muito obrigado pelas, palavras e pelo carinho de sempre!
Lisonjeado demais!??


Fabio 14/10/2023minha estante
Rachel, muito obrigado por ter tirado um tempo para ler esse textão!?
Estou lisonjeado, pelas palavras, ainda mais vindo de uma resenhista como você!
Muito obrigado pelo carinho!?
Eu que quero escrever como você!?


Fabio 14/10/2023minha estante
Ahhh Flávia, meu bem ,fico extremamente feliz que uma resenhista como você tenha gostado do meu textão! kkkkk Tenho muito que aprender ainda!
Você sabe o quanto eu evitei esse livro, do mesmo jeito que eu sei que ele esta no seu rol de melhores livros da vida!
Agradeço, pelo carinho e pelas belíssimas palavras de apoio e incentivo!??
Obrigado, eu que sou seu fã!!!?


Fabio 14/10/2023minha estante
Rafa, querida, muito feliz que tenha gostado da resenha, e lisonjeado com suas palavras!?
Vocês que é referência de resenha por aqui!!!?


Pedro 14/10/2023minha estante
Olha, até a resenha foi complexa. Fico imaginando a obra em si. ????
Excelente resenha, Fábio.


Fabio 14/10/2023minha estante
Obrigado pelas palavras, Pedro!
Bota livro complexo nisso... kkkkkkk ?


Julia 14/10/2023minha estante
Muito boa a sua resenha, Fábio :) A parte mais gratificante de ler o Som e a Fúria é quando conseguimos interligar algumas informações e, então, as coisas começam a fazer sentido hahaha. Acho difícil sintetizar a história desse livro, mas você fez um ótimo trabalho! Adorei.


Camila Felicio 14/10/2023minha estante
História com muitos fluxos de consciência são super desafiadoras kkk Resenha maravilhosa! Parabéns!


Fabio 14/10/2023minha estante
Julia, muitíssimo obrigado pelas palavras!?
Confesso que estava com receio de resenhar, sobre esse livro, justamente pela dificuldade de sintetização de uma obra tão complexa !
Fico feliz, que tenha gostado! ?
Concordo contigo, que a melhor parte dessa leitura foi quando cheguei no capitulo 4, e as coisas começaram a a fazer sentido kkkkk
No primeiro capitulo, cheguei a achar que a casa estava pegando fogo kkkkk


Fabio 14/10/2023minha estante
Bota desafiadoras nisso, Camila.... olha foi por pouco que não desisti!???
Obrigado, querida, pelo carinho e pela presença, e por tirar um tempo para ler a resenha!???
Fico feliz que tenha gostado!??


RayLima 14/10/2023minha estante
Que resenha incrível! Fiquei curiosa, pois sempre quis ler esse livro, mas não sabia nada sobre a história e que bom que agora sei dessas ?dificuldades?, quando eu resolver ler, vou chegar mais preparada hahah


Giiiii 14/10/2023minha estante
Sempre ouvi dizer que era uma leitura difícil. Mas com a clareza de sua resenha, fiquei com vontade de ler este livro, mesmo sendo uma leitura desafiadora. Obrigada pela dica, Fabio ????


A Leitora Compulsiva 15/10/2023minha estante
Oh glória; mais uma família hedionda e miserável!

Meu tipo de livro favorito, sem tirar nem pôr ? a masoquista literária em mim gosta de apreciar a decadência humana.

Se vou salvar pra ler? Já salvei! KKKKKKK.


Fabio 15/10/2023minha estante
Ray, muito obrigado pelas palavras!?
Espero que tenha ajudado a te preparar para a leitura. Apesar das dificuldades, vale muito a pena!
Obrigado, pelo carinho!?


Fabio 15/10/2023minha estante
Gi, fico feliz em ter ajudado a olhar para essa obra com outros olhos. Isso é a maior gratificação de quem resenha livros!!!!
Obrigado!?


Fabio 15/10/2023minha estante
Mi, minha querida, fico extremamente feliz que tenha tirado um tempo para ler a resenha e vir aqui! ?
Muito obrigado pelo carinho, e pela presença de sempre, e principalmente, pela companhia maravilhosa nessa LC, que para mim foi uma das mais impactantes! ???
Com toda certeza, nessa LC, Juntos vencemos!!! ???


Fabio 15/10/2023minha estante
Kkkkkkkkkk Lah, só você! ???
Se gosta de decadência, esse livro com certeza estará entre seus favoritos kkkkk


Vanessa.Castilhos 15/10/2023minha estante
Fabio, meu amigo, ler a sua resenha foi uma mistura de sentimentos... relembrando os nossos debates, decifrando e vencendo todos os desafios que surgiram com essa leitura, e no final, a recompensa ? e a grata sensação de dever cumprido: vencemos!! ???? Muito obrigada pela companhia nessa leitura inesquecível!! E como sempre, resenha impecável! Parabéns!! ?


Fabio 15/10/2023minha estante
Van, minha querida, eu que agradeço a companhia maravilhosa nessa LC. ?
Com toda certeza, muito impactante mesmo!
Obrigado pelas palavras, pelo carinho e pelos maravilhosos debates sobre essa obra desafiadora!?
Gratidão, Van!??


Gabriela_Sut 16/10/2023minha estante
Ótima resenha, como sempre! Seus comentários, mais uma vez, despertaram meu interesse por esse livro. Admito que sempre tive medinho de pegá-lo por ter a impressão de que não daria conta da leitura. Mas depois da sua resenha me sinto um pouco mais confiante kkkkk


Fabio 16/10/2023minha estante
Muito obrigado pelas palavras carinhosas, Gaby!?
Acho que todos nós já ficamos com receio de pegar um Faulkner em algum momento kkkk, porém eu digo, que aqueles que se atreveram, acabaram descobrindo um grande livro!
Só me promete voltar aqui quando terminar o livro para me dizer o que achou?


Gabriela_Sut 16/10/2023minha estante
Claro que volto, Fábio! Só vai demorar um pouquinho pra isso acontecer kkkk mas quando eu ler o livro, com certeza irei compartilhar as minhas impressões também!


Fabio 16/10/2023minha estante
Aeee... combinado!?


Mateus 18/10/2023minha estante
Que análise perfeita, mesmo desafiador? senti vontade de viver minha experiência com esse livro tão clássico.


Fabio 18/10/2023minha estante
Mateus, muito obrigado pelas palavras!?
Fico feliz em ter despertado em você essa vontade de vivenciar essa obra e desfrutar desse clássico essencial para todo amante da literatura!
Depois da leitura, venha aqui compartilhar sua experiência!


Roberta 03/11/2023minha estante
Fábio, acho que não tenho intelecto para alguns livros ?


Fabio 03/11/2023minha estante
Roberta, no inicio do livro, chega a dar um bug na cabeça, mas depois, engrena, e a leitura vai ficando mais fácil, mas devo alertar, que não é um livro fluido, e em muitas parte, principalmente na primeira metade, eu pensei em abandonar, mas fui recompensando pela perseverança


Roberta 03/11/2023minha estante
Maravilha!!! Não sei se já tinha comentado com você sobre esse livro??


Fabio 03/11/2023minha estante
Acho que não falamos sobre esse, Roberta.... pelo não que eu me recorde! kkkk
São tantos livros.... kkkkkk


Roberta 03/11/2023minha estante
Verdade ?


JosA225 28/12/2023minha estante
Só gostei da parte onde o título é explicado: mais vale uma fúria silenciosa do que um som barulhento.




Ana Sá 07/08/2023

EXISTE SPOILER DE CLÁSSICO? Uma reflexão sobre formas de encarar certos livros
Me contaram aqui no Skoob que um dia perguntaram pro Faulkner o que ele sugeria pra quem diz que não entende o que ele escreve mesmo depois de ler duas ou três vezes as mesmas passagens ou obras. A resposta foi algo do tipo "Que leiam quatro!". Pois bem, esta é a história de como eu tornei menos árdua a minha leitura de "O som e a fúria" (1929), tendo bastado ler cerca de duas vezes determinadas páginas, ao invés das quatro vezes indicadas pelo autor. E por falar em spoiler: acabei completamente apaixonada!

O enredo (e só o enredo) é simples: neste clássico do escritor estadunidense laureado com o Nobel de literatura em 1949, nos é apresentado o declínio de uma família aristocrata do sul dos Estados Unidos, sendo que cada capítulo é narrado por uma personagem, com exceção do último que é desenvolvido em terceira pessoa. Parece mesmo uma história sem complicações, já que ela é inclusive focada, de modo geral, em eventos cotidianos dos Compsons... Sim, uma narrativa simples até que a gente lê duas ou três páginas e se pergunta "WTF TÁ ACONTECENO? COMO EU VIM PARAR AQUI?".

Agora eu entendo muitos comentários com os quais cruzei. "Faulkner é muito difícil", "eu desisti deste livro no primeiro capítulo", "não dá para entender nada". Mas menos do que me desanimarem, essas impressões negativas me levaram a refletir sobre o tipo de relacionamento literário que eu queria estabelecer com este romance. Sobretudo porque eu acredito que diante de clássicos desse porte o que acaba importando mais é o "como é contado" do que "o que é contado". Ou seja, percebi que tudo bem se eu não fosse surpreendida pelos eventos-chave ou pelo final, pois o meu foco ali era conseguir me sentir à vontade para começar, continuar e terminar esse desafio. E assim eu colei todos os spoilers possíveis nas lentes dos meus óculos. Ou, em outras palavras, sabendo da fama do Faulkner, eu optei por ser cautelosa no início, e só ao ganhar confiança eu me entreguei totalmente à nossa relação. Comecei armada e terminei rendida.

Basicamente, antes de abrir o livro, eu pesquisei quem era o narrador de cada capítulo (e a questão dos nomes das personagens em si já é uma informação muito importante!) e qual era o seu respectivo lugar na família e, por consequência, na trama. E por isso eu não tive vontade de desistir, mas ao contrário. É óbvio que nada te prepara para Faulkner e que se perder faz parte da proposta, mas como foi bom me perder sem deixar de me encontrar de vez em quando (ou de vez em muito, a depender do capítulo)!

No caso do primeiro narrador, por exemplo, o Benjy, eu sabia previamente qual era a condição que determinava e explicava sua forma de narrar, então não me desgastei tendo que fazer as vezes de Sherlock Holmes, nem tive que pedir perseverança à Nossa Senhora das Leitoras Perdidas... Abraçada aos meus (quase) leves spoilers, entender o que Benjy dizia passou a me interessar menos do que a observação de como Faulkner vai construindo essa personagem através de seu modo muito particular de ver o mundo e de expressar aquilo que vê. Aliás, para mim, a composição do Benjy é das coisas mais bonitas que a literatura mundial já nos deu, um primor... pura poesia!

Minha experiência (tardia) com essa obra foi avassaladora! Estou até agora impressionada! Faulkner se revelou pra mim como um malabarista de vozes literárias que nunca deixa nada ir ao chão. Três capítulos em primeira pessoa bastante distintos entre si, com direito a um capítulo final em terceira pessoa pra não deixar qualquer dúvida sobre o que ele é capaz de fazer. Uma família brilhantemente retratada no todo e na especificidade. E não menos interessante é o fato de Faulkner não se esquivar de abordar os conflitos raciais sob diferentes prismas, sem precisar recorrer a caricaturas nem a dicotomias simplistas, respeitando a complexidade histórica que essa questão tinha no contexto a que o livro se refere. Não tem spoiler que possa arrancar nossa surpresa diante de um projeto tão bem executado! Um bom clássico sempre vai encontrar um atalho para nos marcar.

Posso não ter sido a leitora-modelo do Faulkner, já que me neguei a me lançar desprevenida ao acaso das quatro leituras de uma mesma página. Posso não ter sido a leitora-modelo do Faulkner, mas agora, quer ele me aceite ou não, estou certa de que sou (e continuarei a ser) uma leitora de Faulkner.

Obs.: Se alguém quiser saber quais spoilers me ajudaram a aproveitar melhor o livro, me manda uma mensagem privada que eu conto... "Olha o spoiler aí, quem quer spoiler... spoiler fresquinho, baratinho, só um real... olha o spoiler... leva três paga dois...!".
Ana Sá 07/08/2023minha estante
E, claro, não posso deixar de agradecer aos fãs de Faulkner que me motivaram com seus históricos mais do que positivos aqui no Skoob, em especial à Flávia, que definitivamente me contagiou e me fez repensar a minha meta de leitura deste ano! rs ??


Gleidson 07/08/2023minha estante
Muito boa sua resenha, Ana! O Faulkner impõe sim uma certa dificuldade, mas o prazer que sentimos quando conseguimos entender e assimilar o conteúdo, não tem preço! Eu até exagero um pouco quando falo dele, mas... "Se há um deus na literatura, seu nome é William Faulkner!" ?


aline203 07/08/2023minha estante
Adorei sua resenha! é exatamente isso! eu pretendo ler o livro novamente para tentar azeitar tudo que tinha pensado da narrativa da primeira vez que li rsrs...


Flávia Menezes 07/08/2023minha estante
Ana, amigaaaaaaa!!! Como eu esperei por essa preciosidade!!! Que resenha linda, e que faz um carinho na alma de quem ama essa leitura e esse autor. Eu fico muito feliz de ver que você gostou, e eu acho que uma experiência como essa de primeira sobre o Faulkner é perfeita demais!
Parabéns pela resenha, e obrigada pelo voto de confiança e por nossas trocas durante essa leitura. Foi muito gostoso ver todas as suas descobertas desse universo dele. ??
Obs.: e sobre isso da leitura ser difícil?eu li na biografia dele, sobre uma conversa com a mãe de um amigo? que dizia que ele escrevia difícil demais, e que ele deveria escrever romances para mulheres. Sabe o que ele falava? Que ele nunca disse que escrevia fácil, e que ele também tinha achado o livro dele difícil?então? que estavam empatados! ??


Jacy.Antunes 07/08/2023minha estante
Como é bom ler uma boa resenha, como essa que você fez. Você também acha que o Lúcio Cardoso leu Faulkner?


Regis 07/08/2023minha estante
Ótima resenha, AnaSah! ? ??


Ana Sá 09/08/2023minha estante
Gleidson e Aline, os históricos de vcs passaram a me chamar mais atenção justamente por causa do Faulkner! Fico feliz que tenham gostado da resenha, pois agora quero fazer parte do fã clube! ?


Ana Sá 09/08/2023minha estante
Flávia, essa nossa troca foi muito especial!! Pensei em vc a resenha toda!! ?


Ana Sá 09/08/2023minha estante
Obrigada, Regis! ???


Flávia Menezes 09/08/2023minha estante
Amiga, fiquei lisonjeada agora! ???


Ana Sá 09/08/2023minha estante
Obrigada, Jacy! ?? E siiim! Acabei lendo Lúcio Cardoso ao mesmo tempo e pensei que há ali qualquer coisa de "O som e a fúria"... O Cardoso, a meu ver, não consegue diferenciar muito bem as vozes narrativas, por isso a escolha por mudar também o gênero textual, dependendo de quem era o narrador, me parece ter sido um bom caminho pra contornar um pouco isso! Aqui todos da família falam da Caddy... Em "A crônica...", todos falam da Nina, vejo paralelos!


livroselabirintos 09/08/2023minha estante
Ana, por causa da sua resenha, vou ler ?O som e a fúria? uma terceira vez ?


JurúMontalvao 10/08/2023minha estante
só respondendo ao título da resenha, Ana: pra mim tem spoiler de clássico siiiiiiiim?


DIRCE 10/08/2023minha estante
Que alento saber que você também achou difícil. No primeiro e segundo capítulo , eu me reportei ao banco escolar, quando o professor ensinava trigonometria, os demais fluíram melhor . Já fiz releitura a consegui apreender muito que ficou para trás na primeira leitura. Sua resenha ,como sempre , não me surpreendeu nem um pouco: PRIMOROSA.


Ana Sá 10/08/2023minha estante
Juliana, foi em respeito a pessoas como você que decidi não dar spoiler na minha resenha que fala sobre spoilers! hahaha ?

Tânia, foi mto bom ter conversado sobre o livro com vc! ??


Ana Sá 10/08/2023minha estante
Dirce, sempre tão gentil! ?Pra mim, definitivamente, este é um livro pra releituras! É difícil sim, mas entrega de volta tudo que nos exige, né?


Pablo Paz 16/08/2023minha estante
Caracas, um dia vou escrever resenhas no seu nível ???


Ana Sá 17/08/2023minha estante
Pablo, vc tem uma % bem alta no meu "quero ler" justamente por causa das suas resenhas!! Estamos quites então! rs
Fico feliz que gostou! ?


Vania.Cristina 21/08/2023minha estante
Adoreei sua resenha! Parabéns! O livro está nas minhas metas do ano mas ainda não tive coragem de pegá-lo. Você me animou. Obrigada ?


Ana Sá 22/08/2023minha estante
Eu que agradeço pelo comentário, Vania! Vai ser muito legal acompanhar as suas impressões de leitura! ?


Stella F.. 27/03/2024minha estante
O início da sua resenha e a da Flávia Menezes me ajudaram a continuar depois de não entender quase nada do primeiro capítulo. Achei a escrita completamente diferente e instigante, e no fim, como falam, é só deixar levar, que os fatos vão se esclarecendo. O Quentin, a Quentin, Benjy/Maury, Jonas pai e filho, quem é filho de quem, quem é quem na história. Como salta de 1928 para 1910, quando antes pensava que todos tinham a mesma idade. E já fui relendo alguns trechos do primeiro capítulo, durante a leitura, e ao final de tudo reli de novo, e anotações que havia feito já mudaram nessa releitura.
Adorei conhecer Faulkner!


Ana Sá 15/04/2024minha estante
Stella, o Skoob nunca me envia notificação de comentários em resenhas antigas, adorei cruzar com o seu relato de leitura agora!! Vc descreveu bem o vai-e-vem que eu vivi com este livro tb!! Fico muito feliz em ter ajudado de alguma forma!! ??


Stella F.. 15/04/2024minha estante
?




Flávia Menezes 08/07/2022

QUER LER FAULKNER? SIGA O RITMO, E DEIXE QUE ELE CONDUZA.
?O Som e a Fúria?, de William Faulkner, publicado em 1929, teve em 1946 um apêndice acrescentado pelo autor, que oferece ao leitor informações detalhadas sobre a família Compson, de 1966 até 1945. E tenho que dizer que é interessante você chegar ao final da história, e se deparar com esses detalhes, que são descritos como se Faulkner escrevesse uma biografia minuciosa de cada um dos seus personagens.

?Ainda me lembro vividamente de, num inverno frio, passar dia após dia sentado na varanda enrolado num cobertor lendo ?O Som e a Fúria?, de William Faulkner?. Foi essa frase, do livro ?Minha Vida?, a autobiografia de Bill Clinton, que me fez imaginar como esse deveria ser um livro tão fascinante a ponto de fazer com que Bill se refugiasse solitário em uma varanda, com um cobertor envolta do seu corpo para lhe aquecer do frio, sem conseguir desgrudar os olhos da leitura dia após dia. E foi então que, quando 2022 começou, eu resolvi incluí-lo na minha meta do ano aqui no Skoob.

É claro que esse não é um livro de fácil leitura, e se você entrar nas opiniões do Skoob, vai ver que algumas pessoas desistiram dele logo de início. Mas aqui, eu quero ser honesta e fazer uma advertência: esse não é um livro para se ler, quando buscamos por entretenimento.

A literatura de Faulkner se caracteriza por ser uma escrita complexa, com parágrafos longos, e longos períodos com pontuação irregular, esparsa, quando não, inexistente, que se intercalam com parênteses e travessões que acolhem outros longos períodos. Essa forma de escrita é chamada de ?fluxo de consciência? (do inglês stream of consciousness), que foi inaugurada por Proust, e refinada por Joyce, Woolf e outros escritores que fazem parte do Modernismo, e exige do leitor uma profunda cumplicidade e extrema capacidade de concentração. Por isso mesmo é que Bill Clinton, mesmo sendo inverno, se distanciava de tudo e todos, e sentava-se sozinho à varanda, para se concentrar totalmente na leitura desse livro.

Antes de falar dessa história, eu gostaria de deixar uma dica para leitores que desejam conhecer o autor, mas não estão acostumados a esse tipo de narrativa, mais complexa. Em ?Para se ler como um Escritor?, Francine Prose ensina a arte do ?close reading?, que é um método que retrata a leitura atenta, densa, feita linha a linha, favorecendo uma melhor compreensão do conteúdo. Tendo feito essa indicação, parto para a resenha propriamente dita.

A história é dividida em três narrativas, e como dito acima, teve um apêndice incluído anos depois pelo próprio Faulkner, que facilita muito a entender o que realmente aconteceu com cada um dos personagens.

A primeira narração é feita por Benjamin, nascido Maury, e apelidado por Benjy, após lhe ter sido dado um novo nome, um personagem de 33 anos que sofre de uma deficiência mental. E tenho que dizer, que essa é a parte mais complexa da história, e que faz com que muitos leitores desistam da leitura. Porém, se aqui vale a dica, eu simplesmente me permiti ser conduzida na confusão, sem tentar entender demais, ou sequer compreender quem eram os outros personagens que iam sendo citados.

Foi como entrar em um furacão, sem nada ver, só sentindo o vento forte me jogando de um lado para o outro, confiando inteiramente na genialidade do Faulkner para me conduzir, e me mostrar o caminho da saída. E acho que ter me entregue totalmente ao autor e à sua obra, me fez ter uma experiência realmente incrível.

Apesar da confusão da narrativa desarticulada, e com grandes saltos cronológicos, Faulkner brilhantemente ia revelando um pouco dos personagens, suas personalidades fascinantes, e detalhes que já traziam à tona fatos importantes vivenciados por aquela família. A cena em que Caddy e Quentin se banham no rio é uma das mais belas, delicadas e cheias de emoções, e já ali, podíamos compreender todo o clima do amor incestuoso que se delineava.

É claro que, nesses momentos em que podemos ter maior clareza da história, esse narrador (ao meu ver) passa a ser não o Benjy que sofre de um severo déficit cognitivo, mas um Benjy que está do lado de fora dessa mente com grandes limitações, como se ele pudesse olhar de fora, favorecendo assim a possibilidade de trazer um pouco do que acontece ao seu redor, incluindo partes em que podemos ver com clareza a dificuldade que uma pessoa com deficiência mental possui na interação entre seu mundo interno e o externo. Uma narração tecnicamente questionável, porém, que na prática funciona muito bem.

Na segunda narração, temos Quentin, que embora seja o filho mais inteligente, a ponto de passar em Harvard, é um homem atormentado pelo seu amor incestuoso pela irmã. É delicada a forma como Faulkner vai mesclando os fatos que acontecem com Quentin, com frases que trazem os pensamentos apaixonados do personagem. Você consegue sentir a intensidade que há dentro dele, e as frases são repletas de uma poesia que encanta e emociona. Apesar de ter ficado apenas implícito o que acontece com ele, mesmo nas entrelinhas, Faulkner sempre vai deixando pistas do que acontece com seus personagens.

Já a terceira narração é feita por Jonas, o filho mais moço, que acaba ficando responsável por ocupar o lugar do pai, após sua morte, tendo que cuidar não somente da mãe, mais do irmão com deficiência, uma sobrinha a quem ele não tem qualquer afeto, e uma casa repleta de escravos a quem ele precisa satisfazer para que possam cuidar das tarefas domésticas e dos cuidados com Benjy.

Apesar de ser um homem cruel, racista, e sexista, essa foi uma parte que me tocou bastante, por ser possível sentir a dor de quem não teve escolha, a não ser ter sua vida tomada pela disfunção familiar, que o aprisiona em um papel que não é dele (o provedor da casa paterna), sendo obrigado a renunciar aos seus próprios desejos, para ter que se responsabilizar pela família que ele nunca formou. O ódio que ele tinha das mulheres, me mostrava com tanta clareza a sua frustração pelo amor que ele jamais poderia viver, pois a vida já lhe havia imposto uma esposa (a mãe) e filhos (o irmão e a sobrinha).

E quer destino mais cruel do que ser obrigado a viver de uma forma que você não escolheu, apenas por lealdade à sua família? Mesmo que ele fosse um personagem terrível, confesso que a sua dor me tocou tão profundamente, que foi impossível odiá-lo.

A quarta narrativa foi, para mim, a mais sem sentido. Trazendo o foco para Dilsey, a escrava, eu confesso que senti uma narrativa encharcada de preconceito racial e religioso, além de ter sido bem mais repetitiva, o que me pareceu fazer sentido algum, apesar de também ter incluído alguns dados que ainda não haviam sido mencionados anteriormente.

Não darei 5 estrelas pela história, por realmente ter achado um pouco frustrante esse final, não por ter imaginado algo diferente, pois a história é perfeita do jeito que ela é. Mas por ter sentido que o ritmo aqui desacelerou de tal forma, que algo ali se perdeu. E para mim, o que mais se perdeu foi a toda a intensidade das emoções trazidas pela narrativa dos personagens anteriores, tendo esta sido dispersada de tal forma que esfriou. Como uma chama que se apaga rápido demais, quando ainda estamos sentindo o calor que havia ali.

De qualquer forma, não posso negar que essa foi uma experiência fascinante. Ler Faulkner pela primeira vez é deslumbrante, pois ele nos abre a um novo mundo onde a leitura exigente nos aprisiona, nos ensina um novo caminho, e nos faz perceber que as letras também têm ritmo. E é esse ritmo que vai nos envolvendo, e nos leva a essa trama de uma família disfuncional marcada por tragédias, incesto, doenças mentais e um mundo de frustrações, em que mesmo sem conhecer onde cada passo nos levará, sabemos que tudo o que precisamos fazer é deixar que o Faulkner nos guie.
Joao 08/07/2022minha estante
Flávia, mais uma resenha maravilhosa (pra variar heheh). Você escreve maravilhosamente.
Adorei quando você falou da complexidade da leitura e em se "deixar levar". Como no momento tô lendo Ulisses (que você até faz um breve comentário sobre), têm momentos que é literalmente pra se deixar levar mesmo heheh.
Parabéns mais uma vez pela resenha e pela leitura. Pretendo ter minha primeira experiência com o autor ainda esse ano ?


Gleidson 08/07/2022minha estante
Fascinante a sua resenha! Eu acho o Faulkner um gênio! Interessante suas percepções sobre o livro como um todo. Parabéns mais uma vez pela bela resenha .


Fabio 09/07/2022minha estante
Parabéns pela resenha Flávia!
Impressionante a maneira como descreveu o livro!
Resenha digna de Flaulkner!


Flávia Menezes 09/07/2022minha estante
Obrigada, Fábio!! Que bom que você gostou. E acho que essa seria uma leitura que você gostaria muito. É bem poético, diferente? ??


Fabio 09/07/2022minha estante
Depois desta resenha, claro que vou ler!??


Flávia Menezes 09/07/2022minha estante
Depois me conta ?


Douglas Finger 09/07/2022minha estante
Ja leuu meu deuss


Douglas Finger 09/07/2022minha estante
Eu ja estava interessado em ler, agora entao depois da sua resenha.. sem palavras, parabens!


Flávia Menezes 10/07/2022minha estante
Douglas, obrigada!!! Vindo de um leitor como você, me sinto realmente lisonjeada. Tenho certeza que você vai gostar desse. ??


Ana Sá 12/07/2022minha estante
Fláviaaa, ameiii a resenha! Quando eu ler o livro, farei a seguinte resenha: "Skoobers, leiam a resenha da Flávia!". Obrigada, agora me sinto bem localizada como leitora em relação ao que pode me esperar nesta obra!


Flávia Menezes 12/07/2022minha estante
Ana, eu estou sem palavras agora. Não entenda como troca de elogios, mas ler isso de uma pessoa formada em Letras, que escreve lindamente (e cujo livro é cheio de elogios)?Puxa?. Obrigada mesmo pelas palavras. E eu vou ficar ansiosa esperando pra ler a sua resenha desse livro, que tenho certeza que vai te encantar! ??


Stella F.. 27/03/2024minha estante
O início da sua resenha e a da Ana Sah me ajudaram a continuar depois de não entender quase nada do primeiro capítulo. Achei a escrita completamente diferente e instigante, e no fim, como falam, é só deixar levar, que os fatos vão se esclarecendo. O Quentin, a Quentin, Benjy/Maury, Jonas pai e filho, quem é filho de quem, quem é quem na história. Como salta de 1928 para 1910, quando antes pensava que todos tinham a mesma idade. E já fui relendo alguns trechos do primeiro capítulo, durante a leitura, e ao final de tudo reli de novo, e anotações que havia feito já mudaram nessa releitura.
Adorei conhecer Faulkner!




Ronnie K. 26/06/2009

Narrativa assombrosamente vigorosa e exemplar
Agora sei que, com toda justiça, por que "O som e a fúria" é considerado, não raro, uma das melhores obras literárias de Todos os Tempos. Pois se trata de um romance poderoso e impressionante em amplos sentidos. Seja nos diversos estilos narrativos adotados pelo autor (quatro vozes diferentes, mais um apêndice); seja pelo Tema sempiterno que aborda (O som e a fúria trata da decadência das relações humanas, do desespero existencial, da angústia, da loucura, da relação de poder entre hierarquias sociais distintas).

A tensão e o conflito estão presentes desde as primeiras páginas do romance, quando se tem a perspectiva aflita e imprecisa da narração do demente Benjy, deficiente mental de mais de 30 anos, que não fala - somente geme, baba e urra. Porém há aqui um frescor narrativo e uma inventividade que só se percebem após vencido o enorme estranhamento inicial da tresloucada sintaxe; a seguir, na Segunda Parte, a angustiosa e não menos perturbada narração do irmão incestuso, Quentin, torna esse momento do romance uma espécie de pesadelo, uma assustadora polifonia de vozes fantasmagóricas que irrompem na tentativa de esclarecer os obscuros fatos até ali expostos.

Porém, o momento de maior êxtase na leitura e de clarividência narrativa estão reservados para as duas partes finais do romance: Quando explode a raiva, o ressentimento e o involuntário humor negro de que se traveste o discurso rancoroso e machista do irmão que ficou pra trás (trecho abaixo), enfurnado na província (ao passo que os outros dois, Caddy e Quentin, de certa forma 'ganharam o mundo'), ao qual sobrou a ingrata tarefa de sustentar (física e moralmente) a decadente família Compson. E, por fim, a narração em terceira pessoa na Parte final, que focaliza a ação nos movimentos da velha negra Dilsey e seu modo simples (porém verdadeiro a seu modo) de enxergar a vida e a decadência moral da família (do mundo?) a que servira (com fidelidade, amor e dedicação) por tantos anos.

TRECHO:

"Eu estava pensando se ela realmente tinha tão pouco respeito por mim que era capaz de não apenas matar aula depois que eu a proibi de fazer isso como também de passar na loja, me desafiando a vê-la passar. Só que ela não podia ver dentro da loja, porque estava batendo sol bem na porta, e era como tentar ver através da luz do farol de um carro, e assim fiquei parado vendo a criatura passar, com a cara toda pintada como se fosse um palhaço e o cabelo todo lambuzado e retorcido e um vestido que se uma mulher saísse na rua só com um vestido daqueles cobrindo as pernas e o traseiro, mesmo lá na Gayoso ou Beale Street quando eu era menino, ela ia parar na cadeia. Garanto que quem veste uma roupa assim quer mais é que cada homem que cruza com ela na rua passe a mão nela. E assim eu estava pensando que espécie de idiota usa gravata vermelha quando de repente me dei conta de que só podia ser um desses homens do circo, com tanta certeza quanto se ela mesma me tivesse contado. Bom, eu agüento muita coisa; se não agüentasse eu estava roubado, de modo que quando eles viraram a esquina eu saí correndo atrás. Eu, sem chapéu, no meio da tarde, tendo que correr pelos becos para defender o bom nome da minha mãe. É como eu digo, não se pode fazer nada com uma mulher assim, se ela nasceu desse jeito. Se está no sangue, não se pode fazer nada. A única coisa que se pode fazer é se livrar dela, deixar que ela vá embora para ir viver com gente da sua laia."

Há ainda um apêndice escrito pelo prório Faulkner quase vinte anos depois da publicação do romance, o qual em tom discretamente satírico e irônico, não só acrescenta novas luzes ao que foi narrado como mostra "o que aconteceu" com os principais personagens ao longo dos anos posteriores ao fim do romance.

Apesar dos exaltados méritos da obra, não é, por contraditório que possa parecer, um livro que eu recomende. Que cada um assuma para si o custo e os riscos de uma leitura tão imprevisível e nada convencional.
Carlos Patricio 29/08/2013minha estante
ótima resenha, parabéns!


Naty 30/03/2014minha estante
Sua resenha contribuiu para que eu comprasse o livro, de fato, o título me chamou atenção. O trecho que copiou para cá, é simplesmente, fantástico.


MarioLuiz 11/03/2015minha estante
Gostei da resenha, muito bem elaborada, tentei ler este livro algumas vezes e não consegui passar das primeiras paginas, achava-o muito confuso. Tenho-o dês de 1979 mas só este ano de 2015 ao me ver sem nenhum livro para ler e sem computador para navegar ou ler me obriguei a lê-lo e me fascinei!


Rosa Santana 24/03/2017minha estante
Faulkner, para mim, é o autor de três grandiosas obras:
1 - O Som e a Fúria;
2 - Luz em Agosto;
3 - Enquanto Agonizo!
Só acho dispensável o apêndice de O Som e a Fúria. Penso que as explicações desmerecem o leitor que já quebrara a cabeça decifrando os enigmas que são deixados pelo narrador, que sai do lugar comum produzindo uma obra de tal grandeza, justamente pelo quebra cabeça que cria!


Ronnie K. 30/03/2017minha estante
Sim, Rosa. Pensando bem o apêndice de O som e a fúria é um tanto dispensável sim... E do Faulkner, minha próxima empreitada é justamente Luz em agosto!


Rosa Santana 09/04/2020minha estante
E então, Ronnie K., leu Luz em Agosto? O que achou!?


Rosa Santana 09/04/2020minha estante
Já vi que leu!




Rosangela Max 07/04/2021

Desafiador.
A forma que Faulkner desenvolveu esta história é surreal!
No começo é tudo muito confuso com um monte de personagem surgindo do nada e sem uma identificação de quem eles são e nem de tempo passado, presente e futuro. E assim se mantém até um certo momento da história. Exige um esforço considerável para passar esta fase. Mas depois as coisas começam a clarear, embora algumas pontas permaneçam soltas.
Uma construção fora do comum, complexa, mas que manteve o encanto.
comentários(0)comente



Rafa 09/09/2021

Grandioso
Abusando da técnica do fluxo de consciência, o autor exprime a decadência de toda uma família. A leitura realmente é desafiadora, mas, após as 30 páginas iniciais, vc passa a entender o estilo adotado (dica: não tente compreender o enredo logo no início, pois tudo vai se encaixando). Vale dizer que, a escrita utilizada é crucial para nos colocar na mente de cada um dos personagens. O final tinha tudo pra ser épico, mas decepcionou.
Roberta 09/09/2021minha estante
Ainda estou traumatizada com esse livro ?




Vania.Cristina 29/09/2023

Tempo não linear e gritante sentimento de perda
? Experiência exigente e grandiosa. Narrativa desafiadora, principalmente nos dois primeiros capítulos. Pra mim, foi como se estivesse montando um quebra cabeça, difícil mas prazeroso. Inclusive porque alguns personagens compartilham os mesmos nomes. Por isso, ir e voltar na leitura foi natural, e desejável até. Spoillers foram amigos, neste caso, ajudando na compreensão do que estava sendo dito. ? Trata-se da história da decadência de uma família no sul rural dos Estados Unidos, no início do século passado.Os três primeiros capítulos são fluxos de consciência, cada um narrado por um dos irmãos dessa família. O quarto e último é narrado em terceira pessoa. Um apêndice final esclarece o destino dos personagens e trás novas informações. O tempo é tema recorrente e fundamental na obra, mas não é linear, cronológico. ? O primeiro narrador é Benjy, o irmão que sofre de severa deficiência cognitiva. A narrativa dá saltos no tempo várias vezes. Benjy vê o mundo de outro modo: numa cena, ele é embriagado pelo empregado negro, e não é ele quem se sente tonto, mas o mundo que fica torto, errado. Da mesma forma, é o mundo que se move quando ele está na carroça. Benjy não retém memórias mas carrega um gritante sentimento de perda. ? O segundo capítulo foi ainda mais complexo. Narrado pelo irmão, Quentin, que está sofrendo de depressão e é atormentado por suas obsessões e frustrações. A maior delas é o desejo impossível de controlar a sexualidade da irmã. Aqui também o autor brinca com o tempo, que dá saltos ora para frente ora para trás a partir de lembranças ou pensamentos. E fica difícil distinguir o que é real, o que é fantasia e o que é memória. ? O terceiro narrador é o irmão desprezível, Jason, que representa o que há de pior no mundo: egoísta, egocêntrico, machista, antisemita, racista, desconhece empatia, remorso ou compaixão. ? Aos impotentes personagens negros, os empregados da casa, que acompanham as presepadas dos brancos, só resta assistir à decadência da família e daquele mundo.
Silvia Cristina 29/09/2023minha estante
Pela sua resenha me pareceu um livro complexo


Vania.Cristina 29/09/2023minha estante
Silvia, a forma do livro é complexa, mas o conteúdo é simples com profundidade. Não sei se isso fica claro na minha resenha, mas foi um desafio prazeroso pra mim. O segundo capítulo precisei parar, pesquisar e reler pra conseguir entender. Mas nao foi desagradável, foi interessante desvendar.


Vania.Cristina 29/09/2023minha estante
A história propriamente dita é um novelão, um drama familiar


Silvia Cristina 29/09/2023minha estante
Bacana saber . Obrigada


Vania.Cristina 30/09/2023minha estante
Fiz alguns pequenos ajustes no texto da resenha. Acho que melhorei um pouco.


Henrique Sanches 30/09/2023minha estante
Parece um belíssimo quebra cabeças... parabéns pela resenha


Vania.Cristina 30/09/2023minha estante
Obrigada Henrique. É mesmo um livro belo e impressionante. Com toda a dificuldade, ainda assim visualizamos bem os personagens. Eles são fortes, marcantes, dramáticos.


Henrique Sanches 30/09/2023minha estante
Obrigado por compartilhar!!! Vou colocar este livro na minha lista...




Jorlaíne 20/08/2023

O enredo retrata a decadência dos Compson, família aristocrática do sul dos Estados Unidos. Como acontece na década de 20, o autor também faz questão de representar o racismo e a xenofobia que acontecem em meio a uma crise financeira mundial.
O livro é narrado por quatro vozes, e isso é difícil de ser identificado (por sorte me avisaram). E vi que o autor sofreu forte influência de James Joyce com seu livro Ulysses, por isso, muitas vezes, nos deparamos com frases sem pontuação e com neologismos. Além do famigerado fluxo de consciência, recurso muito utilizado por Faulkner.
Não é uma leitura difícil pela escrita do autor, mas sim pelo cansativo enredo.
Até o momento, para mim, quem melhor utiliza o fluxo de consciência é a Clarice.
Rayza.Figueiredo 20/08/2023minha estante
e a Virginia Woolf tbm ?




Michela Wakami 01/10/2023

Muito bom
O livro mais difícil que já li até o momento. Foi uma experiência inesquecível, pois meu cérebro quase fundiu. (Rsrsrs.)
O primeiro capítulo sem sombra de dúvidas é o mais enigmático, não que o segundo seja fácil, mas não supera o primeiro.
Quanto ao terceiro e o quarto, esses são um presente do autor para seus leitores, após tanto sofrimento.

Apesar de todas as dificuldades, meu coração estava disponível para se apaixonar por dois personagens inesquecíveis, Benjamin e Dilsey.

Fiz essa leitura com meus amigos: Rogéria, Vanessa e Fábio.
Sem eles eu não teria conseguido desvendar esse livro.
Muito obrigada a todos vocês por essa troca maravilhosa.

Contei também com a ajuda de dois vídeos no YouTube, que foram muito esclarecedores.
Um deles da Tatiana Feltrin e o outro da professora Munira Mutran. (Ambos contém spoiler)
Jessica M. 01/10/2023minha estante
O fato de você dizer que o cérebro quase fundiu já me fez colocá-lo na lista de "nem li, nem lerei" kkk No momento só quero leveza, estou ficando traumatizada de livros assim! ?


Michela Wakami 01/10/2023minha estante
??????
Te entendo, amiga.


Carolina165 01/10/2023minha estante
?????????


Vanessa.Castilhos 01/10/2023minha estante
Já bateu aquela saudade dessa LC, do Benjy, da Dilsey... ??? Amei!! ?


Fabio 01/10/2023minha estante
Adorei a resenha, Mi!?
Parabéns!
LC árdua, mas valeu por todas as conversas, debates e discussões.... amei demias essa LC!




spoiler visualizar
comentários(0)comente



Leila de Carvalho e Gonçalves 12/07/2018

Para Ler E Reler
Em 1929, após ter um livro rejeitado pelas editoras, William Faulkner resolveu dar uma guinada na carreira. Isolou-se e começou a escrever um romance exclusivamente para sua satisfação, sem pretensão de agradar leitores, críticos ou editores. Assim nasceu "O Som e a Fúria", responsável por sua ascensão profissional que culminou vinte anos depois com o Prêmio Nobel de Literatura.

A narrativa tem como palco a fictícia Yoknapatawpha County e aborda a decadência de uma tradicional família do Sul dos Estados Unidos, descendente de um herói da Guerra da Secessão, o General Compson. Aliás, tanto as personagens como seus ascendentes aparecem em outros textos do escritor.

Empregando o fluxo de consciência, ruptura de sintaxe e um enredo não linear, sua leitura requer redobrada atenção. Assemelha-se a um intrincado quebra-cabeças cujas peças vão pacientemente sendo encaixadas até chegar à última. De fato, nem sempre é possível entender o que está acontecendo, mas, pouco a pouco, a história vai tomando forma e o esforço vai sendo recompensado. Uma boa maneira para não desanimar (e que me ajudou) é conhecer de antemão os quatro narradores, cada qual responsável por um capítulo do livro. São eles:

- Benjamin ou Benjy Compson: Mudo e deficiente cognitivo, é o filho caçula e motivo de vergonha da família. Descreve o mundo com baixa compreensão e um raro sexto-sentido. Seu relato soa desarticulado, com pontos obscuros e para não se perder com os frequentes saltos temporais, verifique se é Versh (infância), T.P. (adolescência) ou Luster (vida adulta) quem cuida da personagem.

- Quentin Compson: Trata-se do primogênito, o escolhido pelos pais para estudar em Harvard. Neurótico e instável, defensor da honra e da moralidade, é um suicida cujo desabafo desesperado e fantasioso conforme avança, vai se fragmentando. Essa é a parte mais difícil e estudada do livro.

- Jason Compson: Irmão mais novo de Quentin, é cínico, desprezível e manipulador. Trata-se do vilão da história que, indigno de confiança, tenta passar a imagem de filho injustiçado a quem coube sustentar a família após a morte do pai. Seu relato não oferece maiores dificuldades de entendimento.

- Na quarta parte, Faulkner faz uso de um narrador onisciente, sugerindo pensamentos e ações das personagens, mas quem monopoliza a atenção é Dilsey, uma negra que trabalha para os Compsons há muitos anos e surge como a voz da razão.

No entanto, o papel de protagonista pertence a Caddance ou Caddy, a única filha do casal. Ela jamais adquire uma voz, mas permite que os sentimentos dos irmãos revelem seu caráter, aliás, é o objeto da obsessão dos três e a única que consegue escapar da relação doentia que os une, indo viver a própria vida.

Finalmente, Faulkner se inspirou num trecho de "Macbeth" de Shakespeare para dar titulo e desenvolver a história:

"Apaga-te... apaga-te breve vela!
A vida nada mais é do que uma sombra que anda...
um pobre ator que se pavoneia e se agita durante sua hora no palco e depois não é mais ouvido.
É uma história contada por um idiota
cheia de som e fúria que nada significa!"

Nota: Um apêndice foi inserido pelo autor após dezesseis anos da primeira edição. Não só traça o esboço de algumas personagens, como dá detalhes sobre o futuro.
Taci 21/07/2018minha estante
Ótimas dicas! Obrigada


Leila de Carvalho e Gonçalves 21/07/2018minha estante
Disponha.


Tohby 30/07/2018minha estante
Muito obrigada.
Eu estava ficando confusa achando que era o mesmo personagem em momentos diferentes e as peças não estavam se encaixando. Sua resenha foi muito esclarecedora.


Marcos Ferraz 05/03/2019minha estante
Ótimas mesmo. Eu já tinha desenhado uma árvore genealógica para ir entendendo os personagens. Suas dicas também ajudaram muito. O livro é difícil, mas fascinante.


Leila de Carvalho e Gonçalves 05/03/2019minha estante
Exato. O livro é um de meus favoritos e este recurso já usei para muitas obras, como ?A Biblioteca Elentar?, de Alberto Mussa.


Mari 29/03/2019minha estante
Agradeço pela resenha!!!Comecei a ler "Som e Fúria",mas parei porque estava achando a história muito confusa,então decidir vir nas resenhas para ver se compreendia melhor o livro.Sua resenha não só me esclareceu,mas também me trouxe mais animo e vontade de seguir com essa leitura.


Amanda.Santiago 04/02/2021minha estante
Achei a mulher que é minha referência nas avaliações da Amazon! ? Toda vez que via q tinha um cinco estrelas seu sabia q eu ia gostar!


Amanda.Santiago 04/02/2021minha estante
Muito obrigada por suas avaliações por lá tb! Me ajudaram muito , muitas vezes!




Aline.Rodrigues 01/05/2022

Uma obra de arte
A primeira vez que leio um livro é paro lá pela página 50 e digo: preciso recomeçar, estou perdendo algo muito precioso aqui. Que experiência, a leitura deste livro. Ele é como um tesouro: raro, difícil e reluzente.
Tão sútil, mas tão forte. Tão!
comentários(0)comente



Jordana Borges 18/04/2024

Sem dúvidas, uma das leituras mais desafiadoras que já fiz.
Vi muitas pessoas apontarem o primeiro capítulo como muito complexo, de fato é, mas nele eu ainda conseguia entender e conectar um pouco as coisas, pra mim o segundo capítulo que foi o mais denso e complicado da obra, muito confuso? Dito isso, afirmo que vale passar pelas pedras pra chegar no destino final hahaha? No capítulo 3 que é contado na perspetiva do Jason, já consegui me conectar mais com a história (mesmo ele sendo um dos personagens mais desprezíveis que já li). Quando você começa a entender a história e a encaixar as passagens de tempo você entende como Faulkner foi genial.
Vale muito a pena persistir os 2 primeiros capítulos para chegar até o fim do livro.
A análise crítica do Sartre no final do livro é maravilhosa também.
Michela Wakami 18/04/2024minha estante
Parabéns, amiga. Terminar esse livro é uma vitória!?

Ao final da leitura da vontade de sair gritando pela rua: consegui, consegui? ?????


Jordana Borges 18/04/2024minha estante
Amiga, é esse sentimento mesmo! E quando as coisas começam a fazer sentido da vontade de gritar ???

Mas todo sufoco valeu a pena ?


Michela Wakami 18/04/2024minha estante
Que maravilha!?


Flávia Menezes 19/04/2024minha estante
Que resenha boa de ler, Jordana. Esse livro é incrível por tudo isso: por ser desafiador, por ser provocador..mas ao mesmo tempo, ele nos pega de um jeito que não queremos mais largar esse homem chamado Faulkner! ?


Fabio 20/04/2024minha estante
Adorei a resenha, Jô!!!???
Parabéns!
Concordo contigo que o segundo capítulo, é o mais difícil da obra!
E que as análises do Sartre são sublimes!!!


Jordana Borges 24/04/2024minha estante
Michela, graças as suas dicas valeu a pena chegar ao final amiga ??


Jordana Borges 24/04/2024minha estante
Flávia, disse tudo, é desafiador mesmo, mas quando as peças começam a se encaixar vale a pena todo o sufoco ??


Jordana Borges 24/04/2024minha estante
Obrigada Fábio!!
Eu amei as análises do Sartre, uma das partes favoritos do livro.




13marcioricardo 30/07/2023

Dá trabalho..
Bem, se prepare. Se quiser ler este livro tem que saber de antemão que vai precisar pegar o touro pelos cornos...

Eu estava lendo o Desassossego do Fernando Pessoa e, na minha inocência, pensei que ia começar e terminar como qualquer outro, mas não aguentei e tive que intercalar com outro. Vai daí e peguei este kkk

Tipo, não tem nada a ver um livro com outro, mas ambos são difíceis. Pra ter uma noção, não dá pra entender nada nos dois primeiros terços da obra.

E, pela primeira vez, sinto necessidade de reler, pra entender bem. Com muitos e bons livros pra ler, tenho para mim que não farei releituras, pelo menos nos próximos anos, por isso vou procurar o filme.
Roberta 04/08/2023minha estante
Muito difícil




Leila de Carvalho e Gonçalves 19/11/2017

Para Ler E Reler
Em 1929, após ter um livro rejeitado pelas editoras, William Faulkner resolveu dar uma guinada na carreira. Isolou-se e começou a escrever um romance exclusivamente para sua satisfação, sem pretensão de agradar leitores, críticos ou editores. Assim nasceu "O Som e a Fúria", responsável por sua ascensão profissional que culminou vinte anos depois com o Prêmio Nobel de Literatura.

A narrativa tem como palco a fictícia Yoknapatawpha County e aborda a decadência de uma tradicional família do Sul dos Estados Unidos, descendente de um herói da Guerra da Secessão, o General Compson. Aliás, tanto as personagens como seus ascendentes aparecem em outros textos do escritor.

Empregando o fluxo de consciência, ruptura de sintaxe e um enredo não linear, sua leitura requer redobrada atenção. Assemelha-se a um intrincado quebra-cabeças cujas peças vão pacientemente sendo encaixadas até chegar à última. De fato, nem sempre é possível entender o que está acontecendo, mas, pouco a pouco, a história vai tomando forma e o esforço vai sendo recompensado. Uma boa maneira para não desanimar (e que me ajudou) é conhecer de antemão os quatro narradores, cada qual responsável por um capítulo do livro. São eles:

- Benjamin ou Benjy Compson: Mudo e deficiente cognitivo, é o filho caçula e motivo de vergonha da família. Descreve o mundo com baixa compreensão e um raro sexto-sentido. Seu relato soa desarticulado, com pontos obscuros e para não se perder com os frequentes saltos temporais, verifique se é Versh (infância), T.P. (adolescência) ou Luster (vida adulta) quem cuida da personagem.

- Quentin Compson: Trata-se do primogênito, o escolhido pelos pais para estudar em Harvard. Neurótico e instável, defensor da honra e da moralidade, é um suicida cujo desabafo desesperado e fantasioso conforme avança, vai se fragmentando. Essa é a parte mais difícil e estudada do livro.

- Jason Compson: Irmão mais novo de Quentin, é cínico, desprezível e manipulador. Trata-se do vilão da história que, indigno de confiança, tenta passar a imagem de filho injustiçado a quem coube sustentar a família após a morte do pai. Seu relato não oferece maiores dificuldades de entendimento.

- Na quarta parte, Faulkner faz uso de um narrador onisciente, sugerindo pensamentos e ações das personagens, mas quem monopoliza a atenção é Dilsey, uma negra que trabalha para os Compsons há muitos anos e surge como a voz da razão.

No entanto, o papel de protagonista pertence a Caddance ou Caddy, a única filha do casal. Ela jamais adquire uma voz, mas permite que os sentimentos dos irmãos revelem seu caráter, aliás, é o objeto da obsessão dos três e a única que consegue escapar da relação doentia que os une, indo viver a própria vida.

Finalmente, Faulkner se inspirou num trecho de "Macbeth" de Shakespeare para dar titulo e desenvolver a história:

"Apaga-te... apaga-te breve vela!
A vida nada mais é do que uma sombra que anda...
um pobre ator que se pavoneia e se agita durante sua hora no palco e depois não é mais ouvido.
É uma história contada por um idiota
cheia de som e fúria que nada significa!"

Nota: Um apêndice foi inserido pelo autor após dezesseis anos da primeira edição. Não só traça o esboço de algumas personagens, como dá detalhes sobre o futuro.
comentários(0)comente



279 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR