Thales.Santos 16/08/2023
Clóvis é incontornável
"No Brasil a maioria dos estudiosos do problema do negro ou caem para o
etnográfico, folclórico, ou escrevem como se estivessem falando de um
cadáver. Na primeira posição, conforme veremos no decorrer deste livro, o
contato entre culturas, o choque entre as mesmas, as reminiscências
religiosas, de cozinha, linguísticas e outras ocupam o centro do universo
desses cientistas. Na segunda, vemos o indiferentismo pela situação social
do negro, destacando-se, pelo contrário, a imparcialidade científica do
pesquisador em face dos problemas raciais e sociais da comunidade negra.
O absenteísmo científico transforma-se em indiferença pelos valores
humanos em conflito. E como isto o negro é transformado em simples
objeto de laboratório"
Esse trecho me pegou demais, pois quem está na academia sabe perfeitamente a frustração e decepção que é ter uma perspectiva mais radical, especialmente dentro do debate racial, e tentar trabalhar isso. Ao se ter como foco o Negro, ou o índigena, você vai sendo ensinado pouco a pouco a tratá-lo, como Clovis diz, como um objeto de laboratório, afinal, tratá-lo enquanto um agente social ativo e transformador é "militância"... E não há espaço, dizem esses acadêmicos, para "militância" dentro da ciência...
O que eles querem é isso, essa ciência positivista, pouco ou nada interessada em de fato afetar e transformar a realidade social. Quanto mais comportada e institucionalizada, sempre com essa roupagem de neutralidade, melhor. Mas sabemos perfeitamente que essa pretensa imparcialidade na verdade tem um lugar claro e definido: a manutenção do status quo.
Felizmente, temos Clóvis Moura para reacender esse ímpeto disruptivo, nos lembrando que essa ciência descompromissada e positivista em nada nos serve na nossa luta de libertação do nosso povo. Que sigamos a risca os ensinamentos moureanos e busquemos arrancar a sociologia (trago essa pelo meu interesse e área de atuação do autor, mas serve para as outras áreas também) desses velhos brancos acomodados em seus condomínios, cujo divórcio entre a prática e teoria é mais do que desejada.