Adriana F. 13/06/2011
Este livro foi um presente de uma amiga querida. Amiga que conhecia minha expectativa diante de temas que tanto aprecio: faroeste e terror. E grandes expectativas podem levar a grandes decepções.
Não digo que este querido presente tenha sido uma grande decepção, mas ficou aquém das minhas expectativas, de fato. Mesmo porque não sou crítica literária e minhas opiniões são apenas... minhas opiniões!
O livro é lindo, de muito bom gosto quanto à escolha das imagens e é ecologicamente correto (impresso em papel reciclado). Sobre a edição, os contos apresentam alguns erros de português, com exceção de Sombras (Marcel Breton), principalmente vírgulas, problemas com "este" e "esse", concordâncias temporal e verbal, palavras "comidas", etc... O mais recorrente são as vírgulas muito fora de lugar, separando sujeito de verbo e outras mais, que quebram a fluidez na leitura e que eu, particularmente, tenho problemas.
Sobre o tema, a princípio considerei a ideia fantástica, muito criativa, mas conforme avançava na leitura comecei a achar tudo meio cansativo, muito repetitivo e sem originalidade. Claro, os autores não tinham como saber o que cada um estava escrevendo, mas ainda assim, creio que como a maioria focou no "lugar comum", acabou deixando a leitura cansativa. E imagino que isso seja um problema de coletâneas com temas pré-definidos e eu, como não tinha experiência alguma com uma obra assim, realmente não sabia o que esperar. Uma dica: não leia tudo de uma vez. Leia dois ou três contos por semana, talvez, intercalando com outras leituras. Creio que isso tirará o teor "cansativo".
Dos vinte contos, posso dizer que a maioria é mediana, não está mal escrita, logo, não digo que são contos ruins quanto à forma. Porém, o conteúdo de alguns deixa a desejar. Por isso, fiz uma média ponderada da nota de cada conto, dando as 3 estrelas para o livro como um todo (média de 3,4 na verdade).
Apenas um conto levou 1 estrela (Sally), pois apesar de não estar mal escrito, não gostei da simplicidade e o desfecho deixou muito a desejar, permanecendo uma lacuna, sendo um tanto inverossímil. Na verdade, me decepcionei com este conto, porque o começo estava muito bacana e o final descambou. Dois contos levaram 2 estrelas, nove contos levaram 3 estrelas, quatro contos levaram 4 estrelas e quatro contos levaram 5 estrelas.
Mas é sobre as histórias de 4 e 5 estrelas que quero falar. E aqui insiro alguns poucos spoilers que, na minha opinião, não entregam a trama, mas ainda assim podem ser considerados spoilers.
Contos de 4 estrelas:
** Demônios da Escuridão - Tânia Souza **
Sou uma grande fã do estilo da autora. Li este conto umas 5 ou 6 vezes e apesar de saber que a Tânia consegue fazer melhor, tenho um carinho muito especial por ele. É um conto de terror. Mas é triste, melancólico... O foco não está nas presenças sobrenaturais, mas sim em sentimentos muito naturais e humanos. Este conto é, sem sombra de dúvidas, um dos meus grandes favoritos, junto com o do Alfer Medeiros e André Bozzetto Jr. Não dou nota 5 porque além de saber que a autora consegue fazer melhor, uma parte ficou meio perdida no conto, achei meio desconexa e desnecessária, que foi a companhia inusitada que a personagem principal encontrou no beco.
** As desventuras do pequeno Roy - Jota Marques **
A história deste conto foge um pouco aos padrões dos demais, por isso merece as 4 estrelas. Conto cujo personagem principal é o pequeno Roy, o autor resgatou a inocência da infância, dos Cowboys x Índios e toda uma época que fez parte da nossa História até bem pouco tempo atrás. O terror é inserido de maneira leve, mas como o foco é a criança protagonista, creio que está na medida certa.
** Ainda dói? - Davi M. Gonzales **
Conto de apenas quatro páginas (o menor da coletânea), muito bom, de fato! Original, narra um paciente numa cadeira de dentista. O dentista, como de costume, fala sem parar, contando seus "causos". O desfecho é divertido e inesperado.
** Só o dinheiro dos mortos - Yvis Tomazini **
Adorei este conto. A narrativa flui muito bem, de maneira descontraída, leve e divertida. Ele levaria 5 estrelas não fosse pelo desfecho um tanto previsível e um pouco "corrido". Mas é um conto muito bom! Pretendo conhecer outras histórias do autor.
Contos de 5 estrelas:
** O gigante, a curandeira e a lutadora de Kung-fu - Alfer Medeiros **
Conto irreverente, com muita propriedade o autor misturou terror com humor e o resultado foi excelente. A história é original, possui muitas referências (prestem bastante atenção, leitores!) que enriquecem sua escrita e geram boas gargalhadas! Com certeza um dos meus contos favoritos!
** A balada do Coyote - André Bozzetto Jr. **
A princípio você pensa que a ideia deste conto é simples. Uma família arruinada em dívidas. Cobranças, vinganças, um justiceiro... Mas a história é muito bem narrada, o elemento sobrenatural muito bem colocado (para quem conhece o autor, acho que não será surpresa, para o deleite dos fãs!) e a questão das músicas foi uma grande sacada! Adorei ser surpreendida pela explicação das canções. E o desfecho, creio que foi o melhor, pois além do terror, havia um outro problema - talvez maior ainda que o sobrenatural - envolvendo aquela família. Gostei demais também por ser fora do núcleo "saloon do Billy Monstrengo". Perfeito! Meu grande favorito junto ao do Alfer Medeiros.
** Duas Lendas - Chico Pascoal **
Talvez o melhor conto do livro, muito bem escrito, original e que também foge do "lugar comum" proposto nesta coletânea. No entanto, apesar de reconhecer a excelência deste conto, ele não me é tão querido quanto os dois anteriores e não sei explicar o porquê. Mas ainda assim, repito: é, provavelmente, o melhor conto do livro.
** Sombras - Marcel Breton **
Ideia muito boa, o autor utilizou muito bem a proposta da coletânea, fugiu da mesmice e criou uma história aterrorizante. Descrições muito bem utilizadas e neste conto temos um diferencial: a história é narrada em primeira pessoa pelo apache Hodoken. Aqui o personagem foi melhor utilizado. Além disso, é o único que não possui nenhum erro de português (ou a história me prendeu suficientemente bem para que não os notasse!).
Enfim, recomendo a leitura de maneira descompromissada e sem pressa, saboreando conto a conto, com intervalos entre um e outro. Fazendo assim, com certeza a obra será melhor aproveitada!