Cursed City

Cursed City Marcelo Amado...




Resenhas - Cursed City


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Annie 21/06/2011

Saindo de Cursed City
A primeira coisa que você deve saber sobre “CURSED CITY – Onde as Almas não tem valor” é que este é um livro de contos. Muitas vezes as pessoas não prestam atenção no resumo da obra e perdem esse detalhe (que acreditem, é importante!). São 20 autores, escrevendo sobre uma paisagem no Velho Oeste do estado americano do Texas. Rota de fuga para foras da lei, alvo de constantes ataques por parte dos Apaches, ninho para todas as falhas morais que um ser humano possa imaginar existir.

O lugar que num passado fora conhecido por Golden Valley, é descrito nos contos durante o período de 1845 a 1870. Ali, naquele tempo, a cidade já não conta com os gloriosos tempos da busca por ouro e sequer a ferrovia conseguiu ser construída (ou melhor, reconstruída).
Naquele lugar esquecido por Deus e temido até pelo Diabo, são relatados todos os tipos de atividade sobrenatural. E foram esses acontecimentos que levaram o Golden Valley a perecer nos pesadelos de todos como Cursed City.

Toda a descrição do lugar feita no livro me lembrou 2 coisas:
1) O seriado Deadwood da HBO - Na verdade, a cada ‘passo’ que eu dava para dentro desse pedaço do inferno, eu conseguia me lembrar das ruas de Deadwood e todo o clássico clichê do Western americano. Isso na minha opinião facilitou a visualização do livro, tendo em vista que vi pouquíssimos filmes nesse estilo e nunca havia lido nada sobre o Velho Oeste.
2) Uma música da banda The Eagles, intitulada ‘Hotel California’. Várias estrofes da música combinam com a cidade. Principalmente quando diz que "você nunca poderá partir".

Como todo livro de contos, nem sempre a gente aprecia 100% do que foi escrito. Aqui eles vão abordar os desastres constantes e horrores que ocorrem na cidade por vários prismas. Bestas indescritíveis, fantasmas desordeiros, espíritos com sede de vingança, zumbis...e também todas as tentativas frustradas de fugir daquele lugar.

O anoitecer só trás mais escuridão e sombras: não há outra coisa a fazer senão se trancar em casa ou no saloon e torcer para não ser pego por alguma força sobrenatural. Aos temeimosos e desbravadores, o final quase sempre é o mesmo: um amontoado de entranhas e sangue formando um lamaçal pelas ruas da cidade.

Existem alguns personagens constantes na cidade. Pessoas que estavam por lá durante esse período e presenciaram a maioria dos fatos, como por exemplo o velho Billy Monstrengo (dono do Saloon local aonde se encontram as únicas mesas de carteados e as damas para todos os tipos de diversão), o prefeito (que se esconde com sua família numa fortaleza construída às custas do dinheiro que desviou da Prefeitura) e um índio desertor chamado Hodoken (que é o que você vai conhecer como o mais próximo de um médico para socorrer os habitantes).

O cargo de xerife é tão movimentado quanto os gritos que correm na noite da cidade. Já se perdeu a conta de quantos usaram a insígnia. Não há como ser um xerife nessa cidade sem assinar uma sentença de morte prévia. Ou você vira a cara para o que acontece, ou você é morto no curso de alguma investigação sobrenatural. Ainda existe a Igreja local que nunca tem sua construção terminada e a Ferrovia, que se torna um grande mistério na cidade.

Os contos que mais me prenderam foram “Número 37”, “A balada do Coyote”, “Deixe-me entrar”, “Sally”, “Descanse em paz” e “Sombras”. Os personagens, cada um em sua ‘realidade’ são muito sólidos e me fizeram interagir com seus jeitos de pensar e suas lógicas..algumas vezes bem deturpadas.

No geral é um livro interessante, com histórias interessantes. O acabamento é muito bem feito. O que me incomodou (e muito), foram as margens serem muito estreitas (não sei se é assim que se fala) e a letra ser pequena. Isso dificultou a minha leitura, me deixando até mais cansada pra ler durante horas, como eu costumo fazer.
Marcelo Amado 09/06/2011minha estante
Obrigado pela resenha =)

Vamos rever essa questão do tamanho das margens e da fonte. Obrigado pela dica.




Adriana F. 13/06/2011

Este livro foi um presente de uma amiga querida. Amiga que conhecia minha expectativa diante de temas que tanto aprecio: faroeste e terror. E grandes expectativas podem levar a grandes decepções.

Não digo que este querido presente tenha sido uma grande decepção, mas ficou aquém das minhas expectativas, de fato. Mesmo porque não sou crítica literária e minhas opiniões são apenas... minhas opiniões!

O livro é lindo, de muito bom gosto quanto à escolha das imagens e é ecologicamente correto (impresso em papel reciclado). Sobre a edição, os contos apresentam alguns erros de português, com exceção de Sombras (Marcel Breton), principalmente vírgulas, problemas com "este" e "esse", concordâncias temporal e verbal, palavras "comidas", etc... O mais recorrente são as vírgulas muito fora de lugar, separando sujeito de verbo e outras mais, que quebram a fluidez na leitura e que eu, particularmente, tenho problemas.

Sobre o tema, a princípio considerei a ideia fantástica, muito criativa, mas conforme avançava na leitura comecei a achar tudo meio cansativo, muito repetitivo e sem originalidade. Claro, os autores não tinham como saber o que cada um estava escrevendo, mas ainda assim, creio que como a maioria focou no "lugar comum", acabou deixando a leitura cansativa. E imagino que isso seja um problema de coletâneas com temas pré-definidos e eu, como não tinha experiência alguma com uma obra assim, realmente não sabia o que esperar. Uma dica: não leia tudo de uma vez. Leia dois ou três contos por semana, talvez, intercalando com outras leituras. Creio que isso tirará o teor "cansativo".

Dos vinte contos, posso dizer que a maioria é mediana, não está mal escrita, logo, não digo que são contos ruins quanto à forma. Porém, o conteúdo de alguns deixa a desejar. Por isso, fiz uma média ponderada da nota de cada conto, dando as 3 estrelas para o livro como um todo (média de 3,4 na verdade).

Apenas um conto levou 1 estrela (Sally), pois apesar de não estar mal escrito, não gostei da simplicidade e o desfecho deixou muito a desejar, permanecendo uma lacuna, sendo um tanto inverossímil. Na verdade, me decepcionei com este conto, porque o começo estava muito bacana e o final descambou. Dois contos levaram 2 estrelas, nove contos levaram 3 estrelas, quatro contos levaram 4 estrelas e quatro contos levaram 5 estrelas.

Mas é sobre as histórias de 4 e 5 estrelas que quero falar. E aqui insiro alguns poucos spoilers que, na minha opinião, não entregam a trama, mas ainda assim podem ser considerados spoilers.

Contos de 4 estrelas:

** Demônios da Escuridão - Tânia Souza **
Sou uma grande fã do estilo da autora. Li este conto umas 5 ou 6 vezes e apesar de saber que a Tânia consegue fazer melhor, tenho um carinho muito especial por ele. É um conto de terror. Mas é triste, melancólico... O foco não está nas presenças sobrenaturais, mas sim em sentimentos muito naturais e humanos. Este conto é, sem sombra de dúvidas, um dos meus grandes favoritos, junto com o do Alfer Medeiros e André Bozzetto Jr. Não dou nota 5 porque além de saber que a autora consegue fazer melhor, uma parte ficou meio perdida no conto, achei meio desconexa e desnecessária, que foi a companhia inusitada que a personagem principal encontrou no beco.

** As desventuras do pequeno Roy - Jota Marques **
A história deste conto foge um pouco aos padrões dos demais, por isso merece as 4 estrelas. Conto cujo personagem principal é o pequeno Roy, o autor resgatou a inocência da infância, dos Cowboys x Índios e toda uma época que fez parte da nossa História até bem pouco tempo atrás. O terror é inserido de maneira leve, mas como o foco é a criança protagonista, creio que está na medida certa.

** Ainda dói? - Davi M. Gonzales **
Conto de apenas quatro páginas (o menor da coletânea), muito bom, de fato! Original, narra um paciente numa cadeira de dentista. O dentista, como de costume, fala sem parar, contando seus "causos". O desfecho é divertido e inesperado.

** Só o dinheiro dos mortos - Yvis Tomazini **
Adorei este conto. A narrativa flui muito bem, de maneira descontraída, leve e divertida. Ele levaria 5 estrelas não fosse pelo desfecho um tanto previsível e um pouco "corrido". Mas é um conto muito bom! Pretendo conhecer outras histórias do autor.

Contos de 5 estrelas:

** O gigante, a curandeira e a lutadora de Kung-fu - Alfer Medeiros **
Conto irreverente, com muita propriedade o autor misturou terror com humor e o resultado foi excelente. A história é original, possui muitas referências (prestem bastante atenção, leitores!) que enriquecem sua escrita e geram boas gargalhadas! Com certeza um dos meus contos favoritos!

** A balada do Coyote - André Bozzetto Jr. **
A princípio você pensa que a ideia deste conto é simples. Uma família arruinada em dívidas. Cobranças, vinganças, um justiceiro... Mas a história é muito bem narrada, o elemento sobrenatural muito bem colocado (para quem conhece o autor, acho que não será surpresa, para o deleite dos fãs!) e a questão das músicas foi uma grande sacada! Adorei ser surpreendida pela explicação das canções. E o desfecho, creio que foi o melhor, pois além do terror, havia um outro problema - talvez maior ainda que o sobrenatural - envolvendo aquela família. Gostei demais também por ser fora do núcleo "saloon do Billy Monstrengo". Perfeito! Meu grande favorito junto ao do Alfer Medeiros.

** Duas Lendas - Chico Pascoal **
Talvez o melhor conto do livro, muito bem escrito, original e que também foge do "lugar comum" proposto nesta coletânea. No entanto, apesar de reconhecer a excelência deste conto, ele não me é tão querido quanto os dois anteriores e não sei explicar o porquê. Mas ainda assim, repito: é, provavelmente, o melhor conto do livro.

** Sombras - Marcel Breton **
Ideia muito boa, o autor utilizou muito bem a proposta da coletânea, fugiu da mesmice e criou uma história aterrorizante. Descrições muito bem utilizadas e neste conto temos um diferencial: a história é narrada em primeira pessoa pelo apache Hodoken. Aqui o personagem foi melhor utilizado. Além disso, é o único que não possui nenhum erro de português (ou a história me prendeu suficientemente bem para que não os notasse!).

Enfim, recomendo a leitura de maneira descompromissada e sem pressa, saboreando conto a conto, com intervalos entre um e outro. Fazendo assim, com certeza a obra será melhor aproveitada!
Fabius 11/06/2011minha estante
Farei a crítica da crítica.

Suas resenhas já são famosas no mundo skoobiano, por apresentarem opiniões sóbrias e consistentes.

Aqui não é diferente.

Há uma apreciação clara e objetiva, sem preâmbulos, sobre o que realmente interessa: estética e conteúdo. A primeira é devidamente elogiada, pois o aspecto formal da obra está dentro dos padrões aceitáveis (com exceção à presença de erros de grafia, falhas de revisão - tema caro à resenhista) de beleza e temos até um fato corrente no século 21, a preocupação ecológica - o que atrai os leitores inseridos na modernidade.

Quanto ao conteúdo, nossa resenhista efetua uma análise muito direta. Criticou a forma com que foi concebido o livro, o que talvez torne cansativa a leitura de vinte contos parecidos, dando dicas de como possivelmente diminuir esse provável incômodo.

Numa tentativa de classificar os contos em termos de qualidade, faz uso da atribuição de estrelas, o que sempre serve de bom parâmetro aos leitores. Atém-se aos de quatro e cinco estrelas, sem se delongar, exprimindo apenas o necessário. Faz uma análise equilibrada, e a definição de qualidade configura-se na capacidade de surpreender, mesmo com um leque limitado à disposição, dos autores da coletânea - o que se demonstrou possível, na opinião da resenhista, em pelo menos cinco narrativas.

Interessante notar como ela, que conhece diversos autores pessoalmente, não tem compromisso com nenhum. Elogia os elogiáveis, desce a lenha nos que deixaram a desejar. E sempre com a parcialidade que a opinião própria demanda, e a imparcialidade que uma leitora experiente está apta a exercitar.

Em suma, a resenhista soube fazer, como dito no começo, uma análise sóbria e consistente, o que muito bem pode atrair a curiosidade do leitor - do bom leitor, ao menos -, inclusive a minha. Porém sem ilusões, e espero que essa crítica, como toda crítica positiva, seja bem aproveitada pelos autores e idealizadores da obra, pois sabemos que podemos sempre melhorar. Quem acha que já é perfeito, que não pode receber correções, nunca sairá da mediocridade.


Marcelo Amado 12/06/2011minha estante
Para o Fabius: "Quem acha que já é perfeito, que não pode receber correções, nunca sairá da mediocridade."

Graças a Deus, a Editora Estronho, assim como o site Estronho e Esquésito, há 15 anos, ouve o seu público. Prova disso é a troca de capas feitas com projetos em andamento e revisões até mesmo em temas propostos. As críticas bem fundadas e baseadas em fatos reais são consideradas sempre. Apenas aquelas que nitidamente são fruto de implicância ou 'vingancinha' de adolescente é que não são consideradas e realmente ignoradas.

Alguns itens dessa resenha por exemplo, podem ser aproveitadas (para os autores), mas o que me espanta é ver o seguinte:

A PROPOSTA da antologia SEMPRE, desde a concepção da ideia, foi de envolver vários autores em torno da história de uma cidade, com CENÁRIO E PERSONAGENS GUIA, o que obviamente faz com que os contos tenham muita similaridade. A proposta foi aceita pelos autores e tem sido muito bem recebida pelo leitores que entenderam a temática e sabem que um livro de contos que teve um ponto de partida determinado pelo organizador, não pode ter contos que saiam muito dos trilhos. E para quem ler o livro com imparcialidade, deixando de lado questões pessoais com os editores, vai ver que houve sim muita diversidade, considerando essas limitações impostas pela proposta inicial da editora.

É estranho inclusive alguém citar que não gostou de um determinado conto porque não houve verossimilhança (graças a Deus, pq nós publicamos FICÇÃO e não livros didáticos), conto este que tem um possessão demoníaca que leva uma pessoa a matar. Enquanto a mesma pessoa cita que um dos melhores contos da obra é um em que uma tatuagem de dragão sai do corpo da pessoa para lutar com seus inimigos. Bem verrossímil. ;-)

É isso ai... Críticas são muito bem vindas e já recebemos algumas negativas de pessoas que realmente entendem do babado. Elas estão sendo avaliadas e serão corrigidas. Mas graças a Deus, as críticas positivas têm sido muito maiores.

Abraços horripilantes,


bardo 13/06/2011minha estante
Dri...me defina o que é verossímil, faz favor.. preguiça master de procurar...


Adriana F. 13/06/2011minha estante
Roger, verossimilhança, na literatura, é a coerência que uma obra apresenta. Não tem a ver com possível ou impossível, apenas se o impossível é plausível, sabe? E toda obra TEM QUE TER coerência, ou seja, toda obra tem que ser verossímil, mesmo quando os elementos fantásticos/impossíveis sejam o tema principal.

Mas peço, por gentileza, para o Fabius explicar melhor, qdo puder.

E o exemplo eu te explico por email para este espaço não virar um chat (e tb pra não soltar mais spoilers ainda!). =)


Verônica 24/06/2011minha estante
Gostaria que tivesse falado um pouco também dos contos "3 ou 2 estrelas", acho que ia ser mais interessante pros autores uma resenha completa.


Adriana F. 24/06/2011minha estante
Olá, Verônica.

A princípio minha ideia era essa, mas para não me estender mais do que já fiz, preferi me manter no que - pra mim - a obra teve de mais positivo. Mas como citei na própria resenha, não tem nenhum conto mal escrito e a grande maioria é mediana mesmo (mediano = bom = 3 estrelas).

Eu ponderei muito antes de publicar esta resenha, pensei muito nisso que vc falou sobre ser de melhor proveito para os autores, mas como não sou crítica, realmente achei melhor focar só no que achei melhor, porque, grosso modo, o que me fez dar 2 ou 3 estrelas foi mesmo o fato dos contos não trazerem algo mais... original, digamos assim, fugindo um pouco do lugar comum.

Se vc quiser saber de algum conto em particular, posso conversar por mensagem aqui no skoob mesmo, assim trocamos opiniões. =)




Carol Mancini 13/07/2011

Cursed City - Onde as almas não têm valor.
Editora Estronho 2011
Capa e Diagramação: M. D. Amado
Revisão: Celly Borges
Ilustração do Prefácio: Anderson Siqueira
Ilustrações Internas: Public Domain Photoshop Brushes
Prefácio: Adriano Siqueira
Vários autores.
Impresso pela IBEP Digital



Falar sobre Cursed não é uma tarefa fácil, porém é muito divertida e emocionante. Sei que pode parecer estranho ou inapropriado resenhar um livro do qual se faz parte, mas quando se trata de uma antologia em que os autores selecionados não mantêm nenhum tipo de contato ou troca de opiniões relativas aos textos, a surpresa e a tomada de ciência da obra completa é muito parecida com a apreciação de qualquer outra obra. E justamente por esses motivos que acho possível falar sobre o livro além de outro fator. Quando você pensa em um conto dentro de uma proposta com um cenário tão rico e detalhado como o desta antologia, é inevitável arregalar os olhos - e até mesmo deixar o queixo cair - diante tantas idéias inesperadas, criativas e diferentes.
Ao todo são vinte autores, isso quer dizer que - com muita audácia e cara de pau hehe - posso falar sobre o trabalho desses parceiros que me emocionaram, divertiram e meteram algumas pulgas atrás da minha orelha ao pensar de onde vieram suas inspirações amaldiçoadas.

A qualidade gráfica dos livros da estronho como sempre é incrível, e dessa vez não foi diferente. Um trabalho que só se faz com muito amor e dedicação - não importa quanto essa frase seja piegas. O cuidado vem desde a proposta com a descrição da cidade tanto no site da editora, para que os autores se baseassem na hora de escrever suas "desventuras" e também no próprio livro para que o leitor saiba em que pedaço do inferno está pisando.
A capa e arte interna do livro mesclam elementos do velho oeste com o horror. A graça é tanta que o livro tem um furo de bala. O papel é de ótima qualidade, e todas as páginas são tematizadas. Assim como marcadores e botons que você adquiri ao comprar o livro. E o que mais se pode falar sobre a diagramação? Nada? Muito pelo contrário. Antes de cada conto há um resuminho sobre cada autor e uma foto sua em um cartaz de procurado! Um mimo tanto para o leitor como para os selecionados.
O prefácio está por conta de Adriano Siqueira. E pra quem não sabe muito sobre western é ainda mais indispensável. Ele trás referências importantes do gênero na televisão, cinema e quadrinhos para que, no caso de ser um fã do estilo já ir se identificando, e se não conhecer muita coisa, ter uma trilha amarelada de poeira velha para se guiar caso resolva buscar mais do gênero.
Cursed é um livro para apreciadores de faroeste, de horror, e de aventuras fantásticas.
As ilustrações, apesar de serem banhadas no horror, tem uma característica que beira a ironia. O riso leviano também é reflexo do desespero não é? São muito bem trabalhadas e fazem grande par com a diagramação.

Alfer Medeiros abre as portas para Golden Valey - nome original da, então, Cursed City. Seu conto "O gigante, a curandeira e a lutadora de kung-fu" é uma historia em que permanece a ação e o mistério. Tudo ocorre muito bem ambientado em uma noite na cidade, vivida por gente de fora que sabe muito bem o que vieram buscar.

"Oricvolver" de Ghad Arddhu, não poupou no inusitado. Ele nos leva para a ferrovia abandonada e depois para a noite em Cursed. Uma máquina fantástica, um belo plano, um diabrete - que eu adorei, diga-se de passagem - e o terror realmente "quase" indescritível e fantástico que geram esse outro pedaço da loucura que é essa cidade, são as trilhas de seu conto. Muito ousado.

Depois, "Numero 37" de minha autoria, pode-se dizer que trás um pistoleiro diferente e alguns demônios. Que ao menos eu me diverti criando. Do resto não posso falar porque ai não seria resenha, seria propaganda (rss).

"Por um punhado de almas" tem o grande forte na descrição da história e do cenário. Cirilo S. Lemos faz uma submersão detalhada na vida empoeirada que seu personagem se depara e dos antagonistas, os humanos e os nem tanto. Um grande desenrolar do horror e um passeio pela igreja tomada por algo demoníaco são igualmente trabalhados com um ótimo fim.

André Bozzetto Jr. é o convidado da antologia e em "Balada de um coyote" trás, sem dúvida, o personagem mais engraçado do livro. Divertido e rápido, se passa nos arredores da cidade e não tem nada muito horripilante. Nesse caso a fantasia e o inusitado estão mais fortes que o medo. Está aí um diferencial.

"Just like Jesse James" é o mais nojento na antologia. E isso é muito bom! Alliah cavou nas feridas do velho oeste com a falta de higiene e desleixo. Além de trazer elementos já conhecidos dos amantes do gênero, a mistura de ficção cientifica com o próprio western, ela nos envolve na podridão e no fatídico.

Personagens distorcidos dos estereótipos são sempre bem vindos, e o protagonista criado por Georgette Silen é isso. Todo o cenário sujo de cheiro podre de Cursed também está nesse conto, ao lado de índios nada convencionais. Interesses corruptos dividem lugar com a aventura e mistério existentes no conto "A mão esquerda da morte" que fortalece a cruel verdade de Cursed City.

Verônica Freitas tem um grande feito em "Deixe-me entrar". Tanto a personagem e os cenários foram muito bem construídos, onde começo, meio e fim da trama foram criados com dedicação. Uma história onde o horror está em todas as linhas, causado tanto por vandalismos humanos quanto interesses das criaturas sobrenaturais e o fim da inocência.

Tânia Souza com "Demônios da escuridão" cria uma aventura emocionante. Uma protagonista em busca de vingança e uma maldição muito palpável e surreal sobre a cidade - um tanto ambíguo, mas assim que é! Ela lapidou as situações com veracidade e tudo é muito descritivo e visual. Onde o passado são as raízes de um presente caótico e injusto.

Romeu Martins caprichou na referência histórica e no modo de falar dos personagens. Tem uma cena de mais tensão, mas o conto ficou firme no dialogo. Tem quase a característica de um capítulo ou introdução de uma história maior. Mesmo assim, cheio de surpresas.

M.D. Amado (organizador) se junta à turma de bandidos com o conto "Nem sempre a fé te salvara" que trás um personagem carismático - para os padrões do velho oeste - e uma história com um começo saudosista seguido por intrigas e interesseiros, além de uma viajem no mundo dos mortos e grande envolvimento com as características da cidade. (O mesmo personagem em outra aventura você encontra no livro “Sagas 2 – Estranho Oeste” da Editora Argonautas).

"Sally" é um conto muito sexual e forte. Valentina Silva Ferreira não poupou na descrição e no psicológico da sua protagonista. O ruim é que a história acaba de repente. Não da pra saber se foi proposital ou não, o que de fato não chega a prejudicar o trabalho da moça que foi ousado e cativante.

Jota Marques fez algo muito criativo, desde a escolha do personagem principal que é um menino, o que vemos pelo título "As desventuras do pequeno Roy", até a forma de abordar o conto do ponto de vista do garoto. Mas também é a história mais sensível e triste. Existe uma leveza que aos poucos é tomada pela calamidade e tragédia. (Vale ressaltar que nesse conto especificamente houve alguns probleminhas de revisão, algumas palavras parecem sobrar nas frases.)

"Aquele que vendia vidas", da autoria de Ana Cristina Rodrigues, traz o mal vindo de fora da cidade, como se cursed não só produzisse o horror, mas como se atraísse para seu solo o que há de pior fora de seus limites. Existe certo quê de justiça nas revelações e desfecho, onde nada parece acontecer por acaso.

Agora temos outra história com toques irônicos. Chico Pascoal parece ter firmado sua trama em um humor negro muito bom, além de escrever com talento. Toda palavra parece ter sido pensada lapidando os parágrafos. Surpresas não faltam em "Duas lendas" com seus acontecimentos inesperados e um ar incrível de decadência.

Ainda na leva da comicidade o conto de Davi M. Gonzales traz sua cara já no título. "Ainda dói?" começa com um diálogo inusitado e a aventura é contada por um personagem ao outro. Também se influenciou pela mistura de velho oeste e ficção cientifica. Deve ser a história mais inusitada e, ao mesmo tempo, com um começo razoavelmente simples. Uma grande idéia sem sombra de dúvida.

E parece que as aventuras engraçadas se firmaram nessa parte quase final do livro. Yvis Tomazini trás personagens bem trabalhados e super vivos na sua trama "Só o dinheiro dos mortos", mesmo onde os nomes sugerem personagens tipo. Ninguém em nenhum momento é o que parece ser e quando chegamos ao fim nos sentimos meio bobos se fazendo a pergunta "Como eu não percebi isso?". E tambem não falta horror vindo de um modo bem inusitado.

"O fantasma de Franklin Stuart" trás de volta a seriedade e o peso de Cursed City. Uma trama incrível em que as verdades se revelam das maneiras mais cruéis. Lucas Rocha criou motivos concretos para tudo que ocorre. Crueldade e sangue sublinham os acontecimentos dessa história totalmente nos padrões da antologia.

Zenon mantêm a densidade nas páginas. O caos de "Descanse em paz" esta tanto na cidade amaldiçoada como na mente do protagonista. Ele traz uma visão muito bem pensada da morte e não mediu o tamanho das surpresas no desfecho. Um conto bem construído e envolvente. Adorei o nome do personagem principal também.

E agora tudo fica mais difícil porque Marcel Breton foi incrivelmente ousado. Ele parte do ponto de vista de um dos personagens principais de cursed e faz com outros o inimaginável. Seu conto "Sombras" fala do lado de fora sobre o dentro, brincando com mergulhar e se distanciar da cidade. O horror esta lá muito bem colocado, inclusive ele trabalha com os parâmetros - ou seriam paradigmas? - de micro e macro onde tudo está inteiramente ligado. E foi muito bem escolhido pra fechar a antologia.

"Cursed City - Onde a alma não tem valor" alem de inovar na proposta com um gênero não comum na literatura fantástica nacional, nos traz um nível muito bom nas histórias selecionadas. Acho impossível que qualquer um que leia não aprecie e se envolva com pelo menos um conto pois apesar de se passarem no mesmo cenário e terem características recorrentes, eles possuem uma grande criatividade e peculiaridade devido às marcas e gêneros de cada autor. Fora que a plasticidade do livro o torna um exemplar da literatura pra se ter em casa.
É claro que para leitores não acostumados a livros de contos, fique um pouco cansativo, afinal gosto é gosto. Mas o bom trabalho que é esse livro merece a leitura até desse público que não sairá decepcionado.
Mais uma vez parabéns a Estronho e aos autores que embarcaram nesse projeto.
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Amanda Reznor 17/06/2011

Red Dead Redemption Under Nightmare
A Estronho conquistou mais um degrau do pódio com a deliciosa reunião de contos promovida ao redor de Cursed City, a cidade amaldiçoada onde nem corpo, nem alma, nem demônio ou deuses têm vez!

Ao feitio de um Red Dead Redemption Under Nightmare, histórias brotam das rupturas ressecadas do solo texano e invadem o faroeste com o que de melhor as criaturas mais profanas do terror e do grotesco podem oferecer aos leitores, shows de cancã com pernas arrancadas, saiotes violados e muito álcool regando as feridas purulentas...

Nenhum santo ou reza livrará os moradores e os transeuntes de Cursed City da escrita impiedosa desses autores habilidosos, que laçam o leitor com suas palavras bem atadas e o prendem à cerca das páginas do início ao fim da chacina!

Permita-se encarar de frente essa disputa, arme-se com seus melhores pesadelos e dispare seus olhos pelas folhas mais amaldiçoadas das estantes brasileiras antes que... Bang!

Você esteja morto.
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A.Z.Cordenonsi 15/07/2011

Take me down to the Cursed city Where the ghost is teen and the girls are pitty
Primeiro, sobre o livro em si. Como uma legítima publicação da Estronho, o acabamento gráfico é impecável. Muito bom mesmo. O toque do buraco causado por um suposto tiro no canto superior esquerdo é muito bem sacado. Parabéns aos editores.

Quanto aos contos, como qualquer obra deste gênero, há para todos os gostos. Vou citar aqui aqueles que mais me chamaram a atenção:

Por um punhado de almas, do Cirilo S. Lemos, é um conto muito bem elaborado, onde o autor arriscou ao estabelecer uma narrativa não linear, o que não é muito fácil. O resultado é muito interessante.

A Balado do coyote, de Andre Bozzetto Jr., faz uma homenagem a um dos melhores filmes de todos os tempos(O Poderoso Chefão) e, por isso, entra no rol dos meus favoritos.

A mão esquerda da morte, de Georgette Silen, compete como um dos melhores contos da coletânea. A autora captou a essência do velho oeste, adicionando a dose certa de "estronhice" que faz jus ao título da coletânea.

Nem sempre a fé te salvará, do M.D. Amado, também está entre os melhores do livro. O personagem central é muito bem construído, misturando uma dose ácida de humor às bizarrices que frequentam a cidade amaldiçoada.

As desventuras do pequeno Roy, de Jota Marques, também merece menção. A trama é envolvente e cresce em expectativa e suspense até um final que, se não é surpreendente, é bastante corajoso.

Para todos que gostam de histórias de velho oeste ou de suspense/terror, o livro é um prato cheio.
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Guto Fernandes 15/10/2011

Cursed City, outrora conhecida por Golden Valley, é uma cidade incrustada no interior do meio-oeste americano, em meio a cânions e desertos que já viveu seus melhores dias sendo que hoje abriga somente um punhado de almas condenadas.
Tomada por forças do mal, Cursed City é um local onde até mesmo o Diabo tem medo de andar a noite e seus habitantes vivem trancados em meio ao temor e o álcool, vivendo cada segundo das longas noites como se fossem eras. Os esperançosos rezam para o sol chegue mais rápido enquanto que os desafortunados para não terem que agüentar outra lua sob aquela cidade maldita.
Certo é que quando o sol se põe somente a escuridão tem vez naquelas paragens.
Cursed City foi à primeira das antologias editadas pela Estronho Editora que tive o prazer de ler e esta me surpreendeu tanto pelo cuidado com a diagramação quanto pela qualidade dos textos. Seguindo a proposta de sua linha editorial, cujos títulos em catálogo e seus futuros lançamentos tendem a explorar vertentes poucos ortodoxas da literatura e promoverem ótimas misturas de gênero, esta antologia reuniu vinte autores para mostrarem como seria a visão de cada um sobre o velho oeste permeado por criaturas fantásticas e seres de outros mundos.
O resultado desta mistura de elementos, que pode ser chamada de Weird West ou Oeste Estranho, resultou numa das melhores, e mais coesas, coletâneas de contos que li até então. Por conta de determinados itens do regulamento da seleção, que exigiam a presença de certos elementos da cidade fictícia, cada conto, mesmo criado por autores diversos, conseguiu manter o ritmo e o clima da narrativa ao longo das duzentas e quarenta páginas de Cursed City.
Outro ponto muito importante de ser frisado é a qualidade dos contos. Em geral as pessoas tendem a preterir a leitura de antologias, mesmo as feitas por autores únicos, por conta da variação do nível dos textos apresentados. Em Cursed City esta preocupação é inexistente, uma vez que de todas as obras selecionadas tem atrativos para todo o tipo de leitor.
O único ponto negativo com relação a publicação que acho interessante de ressaltar diz respeito a margem interna do livro, que prejudica em alguns momentos a leitura por esconder o final das frases próximas a costura. Quanto a diagramação, tanto interna quanto externa, a editora merece muitos elogios, pois oferece um livro de qualidade gráfica bem superior ao que muitas das editoras.
Em “O gigante, a curandeira e a lutadora de kung-fu”, de Alfer Medeiros, o conto que inicia a antologia, temos uma improvável união de pessoas em busca de vingança. A narrativa seria algo trivial se não fosse o detalhe do alvo deles já ter passado para o outro lado. Trabalhado muito bem com a narração onisciente, o conto tem ótimos momentos de ação que são permeados por humor sarcástico que o tornam uma leitura rápida e divertida.
O conto seguinte, “Oricvolver”, de Ghad Arddhu, narrado sob a perspectiva em terceira pessoa, conseguiu de maneira primorosa unir o clima western com a clássica busca do herói de fantasia e seus sacrifícios. O ritmo da narrativa também ajuda em muito a conduzir o leitor, impulsionando-o nos momentos certos e dando pequenas pausas dramáticas para angariar a profundidade de certas ações do protagonista.
“Número 37” de Carolina Mancini infelizmente não me agradou por dois motivos: o primeiro pela quebra da narrativa feita pela autora para apresentar as personagens ao longo do desenvolvimento. O outro ponto ruim foi o uso um pouco exagerado de palavras em inglês, principalmente adjetivos. Embora um ou outro fosse interessante, outros acabam se tornando enfadonhos (e podem prejudicar a leitura de alguns leitores). Porém vale frisar que a qualidade da narrativa e o emprego dos elementos-chave do cenário foram bem-feitos tendo o desfecho do conto marcado por uma boa dose de mistério.
O conto de Cirilo S. Lemos, “Por um punhado de Almas”, foi um dos que mais me surpreendeu. Primeiramente pela maneira como a narrativa foi apresentada: fugindo da forma tradicional de desenvolvimento, o autor inicia o conto com uma cena e depois salta para um flashback que explica todo o contexto que levou o protagonista a tal situação voltando depois ao desfecho da primeira cena. O segundo ponto consiste na escolha dos elementos para compor a atmosfera do conto, que uniu tons de terror com um pouco de ficção científica.
“A balada do coyote” de André Bozzetto Jr. traz uma história que pode ser considerada como clichê – o fazendeiro que perde muito dinheiro e não quer pagar e que logo recebe a visita de seu credor com seus meios escusos para receber a dívida –, porém em Cursed City nada é o que parece ser. Partindo deste ponto o autor envolve sua narrativa na emblemática presença de um pistoleiro que não parece ser tão hábil quanto os boatos ao seu respeito. E o desfecho do conto, no mínimo inesperado e interessante, torna esse pequeno texto um dos melhores da antologia.
Os contos seguem com “Just like Jesse James” da autora Alliah e que apresenta um bêbado desafortunado e algumas de suas teorias de conspiração. Unindo boas doses de suspense, assombro e mistério bem distribuídos ao longo da narrativa, “Just like Jesse James” te conquista por conta da descrição muito bem feita pela autora e pela imprevisibilidade dos acontecimentos que convergem em seu desfecho.
“A mão esquerda da morte” de Georgette Silen aborda o lado religioso de Cursed City, contando a chegada de um novo padre ao maldito local, mas também se desenvolve em outro núcleo que torna a leitura dele ainda mais interessante. Com as duas tramas desenvolvendo-se paralelamente o leitor consegue divisar o panorama em ambas as frentes e a mistura dos elementos oferecida pela autora garantindo satisfação com relação ao rumo tomado no final da narrativa.
“Deixe-me entrar” de Verônica Freitas tem seu mérito pela união de uma trama intricada e cheia de reviravoltas com um clima de tensão e terror que se estende desde o desespero inicial da protagonista até os momentos finais em que ela consegue virar o jogo. Achei bem articulada a narração quanto ao desenvolvimento, passando de um leve drama a cenas com certa ação sem que o conto sofresse impacto no seu ritmo por conta desta mudança.
Tânia Souza, que também tem um poema na abertura da antologia, traz “Demônios da escuridão” que trabalhou muito bem a interlocução de flashbacks com o curso natural da narrativa. Utilizando o primeiro para embasar a trama e o segundo para desenvolvê-lo a autora consegue criar uma atmosfera que uni a vingança e a inocência da protagonista algo que envolve o leitor durante toda a leitura.
“Domingo, sangrento domingo” de Romeu Martins foi uma das surpresas dentre os contos que fazem parte de Cursed City. O primeiro ponto é a presença do diálogo bem coloquial entre os personagens que consegue trazer a narrativa para mais perto do leitor e em seguida o desenrolar da trama, e suas reviravoltas, que tornam o desfecho do conto bem interessante e diferente. Além do título que é muito mais profundo em sua origem do que se esperar ao deparar-se com ele.
Em “Nem sempre a fé te salvará”, M.D. Amado conseguiu criar um clima que em sua essência aborda a dualidade entre o medo e a fé nas pessoas de Cursed City. Então entre ritos indígenas, duelos entre fantasmas e traições o autor apresenta outro lado da cidade, conduzindo o leitor a uma peculiar reflexão a respeito do que realmente protege os moradores daquele pedaço de terra maldito.
“Sally” de Valentina Silva Ferreira é a princípio um dos contos menos sobrenaturais dentre os apresentados na antologia. Porém este é um detalhe que torna a evolução da narrativa algo envolvente, gerando no leitor a expectativa do momento em que este elemento será introduzido. Assim como em “Domingo, sangrento domingo” me surpreendi com o texto por conta da maneira como a autora, de maneira brilhante, conduziu a trama para um desfecho no mínimo inesperado.
“As desventuras do pequeno Roy” para mim foi um dos contos que mais se sobressaiu dentre os demais por conta do ponto de vista escolhido pelo autor para desenvolver sua narração. Adotando a inocência de um menino e seus sonhos com cowboys e apaches combatendo em meio as ruas de Cursed City, Jota Marques conseguiu criar ao mesmo tempo um ar de terror e humor que caminham mãos dadas até a conclusão.
Ana Cristina Rodrigues merece destaque por conta de seu ótimo conto “Aquele que vendia vidas”. Embora nos tenhamos outros contos elementos bem exóticos este em particular me chamou a intenção por aproveitar-se de outro elemento sobrenatural muito conhecido da cultura americana. Valendo-se disto a autora foi capaz de criar um conto dentro da temática da antologia, porém distinto dos outros em seu cerne, o que torna sua leitura ainda mais atraente.
“Duas lendas” de Chico Pascoal foi outro dos contos que não conseguiram me satisfazer por completo. Achei um pouco confusa a narrativa nos momentos finais, embora tenha gostado bem de como o autor conduziu o início e o meio do conto, apresentando uma das lendas a que o título se refere e mostrando o caminho para a criação da segunda.
“Ainda dói?” de Davi M. Gonzales é uma lembrança daquelas conversas que as pessoas costumam ter com seus barbeiros e médicos já conhecidos antes do atendimento. Esse é um fator que contribui muito para a evolução da narrativa, que é feita diretamente por um personagem a outro. Em um relato surreal temos abduções, fantasmas e dispositivos que tornam a velha broca do dentista obsoleta. Ponto positivo para o autor ao valer-se de uma dose de ficção científica no velho oeste.
“Só o dinheiro dos mortos” de Yvis Tomazini é um conto bom, porém que poderia ser ainda melhor se houvesse reduzido o número de personagens importantes para seu desenvolvimento. O enredo é interessante e envolvente, mostrando uma tentativa de golpe por parte de um advogado, mas que acaba por se perder ao colocar vários outros elementos diretamente na ação. No trecho final tive que reler a passagem para entender o que acontecia com quem tamanha fora a confusão feita com reviravoltas e traições.
Lucas Rocha em “O fantasmas de Franklin Stuart” mistura um pouco de corrupção com o desejo de um injustiçado ter seu algoz punido. Embora não seja um enredo que se destaque por engenhosidade, aos poucos você já consegue descobrir a verdade por de trás de certos fatos, é um conto bem escrito e que cumpre seu papel de guiar o leitor para uma agradável volta em Cursed City.
“Descanse em paz” de Zenon é a penúltima parte dos relatos sobre a antiga cidade de Golden Valley e é um dos que tem um desenvolvimento e desfecho mais profundo, e desesperador para o protagonista. Também é um dos com os melhores diálogos e que causou mais impacto quando terminei de lê-lo.
Encerrando a antologia, “Sombras” de Marcel Breton que é um conto escrito com a intenção de relatar alguns momentos importantes da vida do apache radicado em Cursed City, Hodoken. Sendo narrado em primeira pessoa conseguimos ter uma maior sensação do terror e da tensão experimentada pelo personagem e com isso imergimos melhor dentro da história.
Ao terminar de lê-los restaram duas coisas: a vontade de passar novamente uma noite ouvindo o uivo dos lobos enquanto as moças do saloon de Billy Monstrengo servem um pouco de bebida assim como a imagem do cenário de RPG Deadlands que lembra em muito a aura de Cursed City.
Espero que em breve a editora queira repetir essa volta ao passado e trazer novos contos destas terras amaldiçoadas. Enquanto está não vem poderemos nos contentar com uma outra antologia cujo tema é similar ao de Cursed, Sagas Vol. 2 – Oeste Estranho da Editora Argonautas.
E embora em Cursed City as almas não tenham valor, os contos que esta traz merecem em muito serem lidos e apreciados pela qualidade e prazer que a escrita destes autores podem proporcionar.
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