Andréa Bistafa 26/04/2016http://www.fundofalso.comClaudia Blaise nunca havia conhecido seus pais ou avô, morando e vivendo exclusivamente com sua avó por dezoito anos. Contudo, Geórgia esconde muitos segredos da neta, principalmente em relação aos seus antepassados. Cursando a faculdade de farmácia e com uma picape novinha ganhada em seu aniversário, Claudia levava uma vida normal até o inesperado ocorrer: o falecimento da sua avó. Como se não bastasse, um misterioso embrulho lhe é entregue pelas mãos de seu vizinho Klaus: um testamento de seu falecido avô Alfredo, onde Claudia herda uma casa de mais de três mil metros quadrados, junto a um molho de chaves.
Com a perda de Geórgia, Claudia decide se afastar da casa onde moraram juntas e segue em direção ao norte com o intuito de desvendar sua misteriosa herança. Perto da mansão, Claudia se depara com uma pousada, onde resolve passar a noite, pois a neblina é muito densa no Vale dos Segredos, região onde fica a Baixa Montanha.
Quando a garota finalmente reserva um quarto para pousar, tem um enorme susto: todos da hospedagem parecem conhecê-la. Sabiam até mesmo o seu nome! José Pereira, o dono do estabelecimento, garante ser amigo de seu falecido avô e saber que um dia ela apareceria por lá.
Maurício, caseiro da mansão e filho adotivo de José Pereira, é quem a ajuda a chegar à mansão e desvendar seus milhares de cômodos. Apesar da expressão séria, ele é um rapaz muito bonito e, de certa forma, encanta Claudia. Já na mansão, a garota se depara com uma série de acontecimentos inexplicáveis: a aparição de um vulto na biblioteca (sim, sua mansão possui biblioteca própria e até mesmo uma piscina dentro do banheiro!), desmaios repentinos ou, pior ainda, Claudia tem a certeza de ter desmaiado antes mesmo de terminar de subir todos os degraus até a suíte, contudo, acordou deitada sobre a cama. Como isso ocorreu? Além de ter presenciado uma sensação muito estranha, como se alguma força a controlasse, fazendo-a agir sem pensar.
Como se não bastasse, ela descobre um temperinho especial à base de ervas batizado em todas as refeições servidas na pousada. Por que a estariam drogando? A explicação de Maurício, contudo, não convence, ou melhor, não faz sequer sentido! Segundo ele, o tal tempero faz com que as visões estranhas proporcionadas pela mansão diminuam. Sem contar o espelho que ela encontra em seu porão, que descobre ter sido alvo de muitas discórdias no passado. Claudia simplesmente não consegue entender o que se passa ao seu redor.
Um espelho de mão ovalado e límpido, pedrinhas coloridas encrustadas simetricamente na moldura envolvendo o vidro, devolvia o olhar de sua observadora, que lia atentamente a inscrição antiga: Delenda [...] Seja o que for, é uma palavra bonita, achou ela, admirando o próprio reflexo sem se dar conta de que, ao mesmo tempo, era também analisada por um temível observador... (p. 167)
Paralelamente a isso, uma antiga história vai se revelando, envolvendo o triângulo amoroso Maurício, Eduardo e Maria. Mas agora Eduardo está morto, e, é claro: foi encontrado dentro da biblioteca de Claudia e, o pior, Maria a acusa de assassinato!
Pesadelos, revelações e muitos mistérios acompanham Claudia em sua viagem até a Baixa Montanha, indo muito além do que ela jamais imaginou encontrar. Tempestade de relâmpagos (sprites), um espelho que esquenta misteriosamente, visões através de sonhos, feitiçaria, rituais satânicos, demônios e muita obscuridade serão necessárias para montar o quebra-cabeça do passado oculto de sua família e de sua árvore genealógica.
A história é bem original, mesclando cenas sobrenaturais com feitiçaria e satanismo, mas sem perder o tom leve da narrativa e fugindo totalmente dos clichês. Confesso que a história tomou rumos que eu não imaginava, realmente me surpreendendo. A narrativa é forte e as forças malignas deste livro não são nada boazinhas, como em outros livros do gênero.
A narrativa é original e envolvente. A escolha das palavras pela autora deu um toque especial ao texto, que é trabalhado utilizando a melhor forma da linguagem culta, exceto, é claro, nos diálogos. Apesar de um quê rebuscado, a narrativa flui de forma rápida e envolvente, com mistério atrás de mistério, instigando a imaginação do leitor. Entretanto, há alguns pontos em que a leitura exige uma concentração minuciosa, por exemplo, no capítulo Revelações, onde muitos mistérios e ligações são revelados, exigindo extrema atenção do leitor para o completo entendimento.
O livro conta com muitos personagens secundários, alguns possuindo maior importância que outros. A protagonista é bem caracterizada, sendo uma garota determinada, corajosa e totalmente independente, apesar da pouca idade. Na verdade, achei Claudia bem madura para uma garota de apenas dezoito anos. A existência de muitos personagens, contudo, pode confundir o leitor em alguns trechos, requerendo uma atenção maior na leitura.
Eu gostei muito de todos os cenários da história. Desde a casa de sua avó e principalmente a mansão. Tudo é bem detalhadinho, realmente transportando o leitor para dentro da narrativa. A mansão repleta de cômodos dá um ar de lugar secreto e misterioso, contribuindo muito para o clima de suspense e mistério do romance.
Os diálogos são verossímeis e específicos para cada personagem e personalidade.
A capa é linda e chamativa e a diagramação está impecável! Há imagens ilustrando cada capítulo, fontes diferenciadas para trechos específicos, como as cartas e os sonhos, a primeira letra de cada capítulo é toda trabalhada, sem contar as frases que antecedem um novo capítulo, são sensacionais e instigam a imaginação do leitor, pois revelam segredos e são descritas de forma quase poética. Mas infelizmente passaram alguns erros de revisão e isso é sempre muito triste de encontrar rs.
A lua, que alta brilhava, alto lançava seus raios estava extática com toda aquela movimentação em torno do Vale. Mas apenas os mais sensíveis, como a mente fragilizada de Mariel e a superfície polida do espelho, podiam de fato compreender os seus efeitos quando o Delenda deu sinal de vida, imantado pela força selênia, as criaturas ao redor do lago se agitaram enquanto outras, dado o alerta que precede as boas-vindas, alinharam seus regimentos, no paralelo da fina película que separava os territórios, seus ânimos exaltados simultaneamente amainados pela mãe lunar: sosseguem, crianças: o banquete não tardará... (p. 189)
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