spoiler visualizarGeovana Rodrigues 19/10/2022
“Ana Paula Maia é o Tarantino brasileiro”
Pelas minhas andanças no mundão da internet, me deparei com essa frase: “Ana Paula Maia é o Tarantino brasileiro” e assim que terminei de ler mais uma obra dela, essa comparação fez mais sentido ainda. Mas na minha cabeça, ela vai ainda além – um dos nomes de peso na literatura - intensa e angustiante!
Em ‘carvão animal’ acompanhamos a história de 2 irmãos de uma cidadezinha do interior, Ernesto e Ronivon. Um bombeiro e um cremador que lidam com carvões cotidianamente. Um apaga e o outro acende. Os dois, líderes de momentos de extermínio. Agora relacione essas infos com o título do livro – ISSO MESMO! Sensacional!
A escrita é tão crua, mostrando nossa nudez e pequenez nesse mundo imenso – a cada metáfora que a autora fazia e eu ia absorvendo, mais cansada minha mente ficava, porém, de um jeito bom, o que é bizarro! Assim como os outros livros dela que li, ela escreve sobre pequenos recortes de uma população que por muitas vezes ficam apagadas. A rotina de sobrevivência, os atos que são feitos no automático e as coisas que precisam passar por cima, arrepia e deixa um mal-estar em quem lê.
Além dessa sensação, o frio se faz muito presente – seja na relação entre personagens, seja na vida ou pensamentos... são introspectivos e distantes. Os irmãos, passam por tudo juntos, ajudam um ao outro, mas não há nada além desse companheirismo gelado.
"Tu és pó, e ao pó tornarás."
Gostei muito da forma que a autora retratou a rotina de Ronivon – ele era responsável pela cremação dos corpos da pequena cidade. Até que um dia acontece um acidente terrível, com muitas vítimas fatais, e Ronivon precisa dar um fim na pilha que cresceu além das capacidades do crematório. E só digo uma coisa: ler as cenas dele resolvendo isso, grudou de tal forma na minha mente, que tive algumas noites insones, pensando se isso acontece por aí mesmo (o que sinceramente, eu acho que sim).
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