spoiler visualizarTati 04/01/2012
RESENHA: TEORIA DO DISCURSO – UM CASO DE MÚLTIPLAS RUPTURAS
RESENHA: TEORIA DO DISCURSO – UM CASO DE MÚLTIPLAS RUPTURAS
No texto “Teoria do Discurso: um caso de múltiplas rupturas”, Sírio Possenti expõe suas idéias a respeito da Análise do Discurso (AD), principalmente a francesa, com as concepções de Pêcheux, Foucault, Maingueneau e outros pensadores franceses. Desta forma, em seu texto, ele tenta fazer a exposição de aspectos de uma concepção de discurso sob a ótica da ruptura.
Segundo Possenti, ruptura significa instaurar uma problemática nova, como Saussure fez com a Lingüística e Freud com a psicanálise. Assim, na AD, a ruptura pode ser eficaz para explicar o processo de conhecimento tanto no domínio do individual, quanto no domínio dos diversos campos, “já que romper com o estágio anterior, seja ele já científico ou ainda ideológico, é condição necessária ora da cientificidade, ora da implantação de determinada teoria”. (POSSENTI)
No campo da interpretação, pode se dizer que a AD formula uma teoria da leitura que se institui rompendo fundamentalmente com a análise de conteúdo, pois a medida em que a lingüística reivindica uma semântica como um de seus componentes, a AD rompe com ela. Em se tratando de língua, a concepção que se tem é de que ela não é transparente, ou seja, que a AD não aceita que, dada uma palavra, seu sentido seja óbvio, como se a palavra pudesse referir-se diretamente à coisa. Possenti afirma com categoria que, sob esta perspectiva, a AD propõe que uma língua funcione segundo regras próprias de fonologia, morfologia e sintaxe, e mais, ela tem uma ordem própria. No caso da pragmática, revela Sírio, a ruptura com a AD causa outra ruptura com a psicologia, principalmente em sua modalidade cognitiva, pois implica um certo conhecimento da língua, do mundo, das regras, por exemplo.
Para a AD, o texto não é uma unidade de análise. Desta maneira, ela não associa texto e contexto e nem enunciados a contextos. Agora, com relação ao sentido, a AD rompe com esses estudos e apresenta outra versão: o sentido de uma palavra se resolve na medida em que uma delas pode ser substituída por outra, e o conjunto delas pode produzir um efeito de referência, de identificar objetos do mundo e partir de uma visão menos objetiva.
A respeito da enunciação, Sírio Possenti nos explica de maneira clara que, na AD, há diversas maneiras de conceber a enunciação, mas que duas são fundamentais. Uma se ocupa de avaliar certas marcas na língua e em que medida que elas são elas mesmas. A outra verifica em que medida a produção dos enunciados é marcada por procedimentos metaenunciativos. Sobre o acontecimento, sua noção é crucial para a AD, pois sua relação com a enunciação é concebida como um fato que não se repete e por que sua relação com a história é matéria-prima para a noção de acontecimento. No entanto, explica Possenti, a AD não concedeu ao acontecimento um lugar privilegiado, pois preferiu o repetível e o estrutural.
A idéia de interdiscurso é, conforme diz Possenti, certamente uma das principais características da AD, pois ele também é submetido à lei da desigualdade - contradição - subordinação que caracteriza o complexo das formações ideológicas. Para finalizar, para a AD não há falante, locutor e muito menos emissor. Há sujeito, que por sua vez, é assujeitado, que não é livre e não está na origem do discurso. Assim, resume Sírio Possenti, a AD rompe com a concepção de sujeito uno, livre, caracterizado pela consciência e tomado como origem.
RESENHA: ANÁLISE DO DISCURSO: Introdução à Linguística
O texto “Análise do discurso”, de Fernanda Mussalin, apresenta uma introdução bastante clara da AD. Trata-se de uma obra bastante útil para os que desejam se aventurar na disciplina. A autora descreve a fundação da AD, passando por todas as suas fases; também, suas duas linhas teóricas (francesa e anglo-saxã), citando alguns dos teóricos mais importantes a partir de Pêcheux e Dubois, considerados os fundadores da AD.
Segundo a autora, a linha francesa da AD, da qual faz parte Pêcheux, se diferencia da Anglo-Saxã por não “considerar como determinante a intenção do sujeito; considera que esses sujeitos são condicionados por uma ideologia” (Mussalin, p 113), enquanto que a Anglo-Saxã “considera a intenção dos sujeitos numa interação verbal como um dos pilares que a sustenta” (Mussalin, p.113). Contudo, as duas correntes são convergentes quanto ao que é específico do estudo da disciplina: a “discursivização”.
De acordo com o texto, o surgimento da AD tem influência marxista, é, portanto, uma disciplina que dialoga com a sociologia, além de outras áreas, como a História e a Psicanálise. A Análise do discurso procura, portanto, analisar as construções ideológicas em um texto e os seus efeitos possíveis em um determinado contexto.
A AD surge com Pêcheux e Dubois, como já dito, mas é influenciada pelo projeto anterior de Althusser, que já visava, dentro de uma tradição marxista, desvelar o funcionamento das ideologias por meio da linguagem. Esta teoria, no entanto, não dava conta dos discursos, pois sua base era estruturalista. Surge, então, o projeto da AD de Pêcheux, que procura romper com o estudo das estruturas da língua, passando, então, para questões relativas às ideologias e aos sujeitos.
Na primeira fase da AD, Pêcheux introduz o que chama de “máquinas discursivas”, estruturas discursivas que determinam as produções do discurso. O projeto tem influência do pensamento de Lacan, para quem os discursos são atravessados por outros discursos, e os sujeitos, ora conscientes, ora inconscientes destes discursos, estão sempre “presos” a certa ideologia. O sujeito, então, não é dono do seu dizer, está autorizado a dizer apenas o que lhe permite a “máquina”, de acordo com o contexto social e ideológico no qual está inserido.
Na segunda fase da AD, ainda se trabalha com as máquinas discursivas, mas o objeto passa a ser as relações entre as máquinas, pois a idéia de máquina fechada em si, começa a ser desconsiderada, principalmente devido à influência de Focault e sua “formação discursiva”, que considera estas formações abertas e “invadidas” por outras FDs. “A desconstrução da maquinaria discursiva só ocorrerá na terceira fase da AD” (MUSSALIM, p. 120), ainda com Pêcheux, quando as FDs são consideradas dependentes entre si, mas, agora, formadas por interdiscursos, palavra chave para entendermos esta fase.
Para a AD o contexto histórico e social é importante em suas análises, uma vez que os sujeitos são formados num dado contexto, que carrega consigo ideologias que afetam os sujeitos, conscientes ou inconscientes deste processo. Por isso, o sujeito, em todas as fases da AD não é visto como dono de seu discurso, ou de sua vontade, pois o sujeito está assujeitado ao seu inconsciente, às imagens que traz em sua mente, fato que pode ser verificado pelo esquecimento, também chamado de “ato falho”.
Como um dos grandes nomes da Linguística moderna, Bakhtin é citado (como não poderia deixar de ser) por Mussalin, que apresenta a contribuição deste filósofo para a AD. O conceito de dialogismo (utilizado por Bakhtin), por exemplo, é de grande valia para a Análise do Discurso moderna, que sustenta que os discursos são atravessados por outros discursos, permitindo uma pluralidade de sentidos.
De acordo com a autora, a AD, por ser uma disciplina que leva em conta a interdisciplinaridade que a envolve, poderia ser vista por alguns numa situação de fugacidade; no entanto, a AD não corre este risco, pois o único perigo seria perder a sua especificidade, o que não ocorre com a Disciplina.
APANHADO GERAL SOBRE AS RESENHAS.
Ambas as resenhas dissertam a respeito da analise do discurso (AD), principalmente a francesa e seus pensadores, cuja origem teve influencias marxistas como conseqüências a análise do discurso dialoga com outras áreas. A análise do discurso tem por finalidade analisar as construções ideológicas em um determinado contexto.
De acordo com Possenti, a idéia de interdiscurso como característica da AD, também é submetido à lei da contradição que caracteriza o complexo das formações ideológicas. Do mesmo modo Mussalin “considerar como determinante a intenção do sujeito; considera que esses sujeitos são condicionados por uma ideologia” (Mussalin, p 113).
Tanto Fernanda Mussalin, quanto Sírio Possenti destacam como o principal pensador da AD francesa Pêcheux, que procura romper com o estudo das estruturas da língua, e valorizar as questões relativas às ideologias e aos sujeitos.
Os autores tratam que o sujeito, não é livre e não está na origem do discurso, isto é, o sujeito, não é dono do seu dizer, está autorizado a dizer de acordo com o contexto social e ideológico no qual está inserido.
Conclui-se que o sujeito, não é visto como dono de seu discurso, ou de sua vontade, pois o sujeito está assujeitado ao seu inconsciente, da mesma maneira, Sírio Possenti trata que AD rompe com a concepção de sujeito uno, livre, caracterizado pela consciência e tomado como origem.