Vanessa 26/10/2015
No zênite, de Duong Thu Huong
Esse livro renderia facilmente um filme ou uma novela pela riqueza do conteúdo e dos personagens. A construção do enredo, a distribuição dos capítulos, tudo faz a história permanecer interessante. Em suas 550 páginas, não há momento em que a história arrefeça ou no qual a escritora se alongue demais. E ao mesmo tempo em que as coisas acontecem, recebemos ensinamentos morais e reflexões de uma grande sabedoria.
Há uma frase no livro que diz muito sobre toda essa narrativa: “há um tempo para sonhar, um tempo para amar, um tempo para odiar”. É o que lemos aqui. Através de todos os personagens vemos histórias de ambição, sonho, amor, amizade, traição, vingança, felicidade, abnegação, decepção, enfim, toda uma gama de sentimentos e toda a angústia do ser humano. E não são elementos esparsos, mas intimamente relacionados. Tudo está conectado. E tudo sempre gira em torno do amor, em qualquer de suas formas e qualquer que seja o seu destinatário (algo ou alguém).
Os personagens se dividem em núcleos que acabam se integrando no decorrer da narrativa. E o personagem principal é o Presidente. É sempre assim que o chamam, não há um nome para ele no livro, e essa despersonalização faz todo sentido.
O Presidente está em constante autojulgamento. Decepcionado com o resultado de sua criação, ao ver que o ideal sonhado tornou-se um troféu de guerra, e que por esse sonho fez escolhas martirizantes, ele não encontra paz no fim de sua jornada.
Frequentemente tem visões com quem debate suas angústias, culpas, medos e, especialmente, suas escolhas. Às vezes se trata dele mesmo em outro momento da vida, às vezes é o ditador chinês Man mostrando todos os “erros” cometidos, e outras vezes é seu grande amor, perdido para sempre.
E no decorrer da história do seu povo, da luta do movimento da Resistência e da própria vida do Presidente, vamos conhecendo outros personagens complexos, como o amigo leal Vu e sua esposa Vân (não tão leal), a interessantíssima família do lenhador Quang, a solitária Vui, o ambicioso e desmedido Sau, entre outros.
Todas as histórias são ricas e se conectam perfeitamente. É uma leitura longa, mas muito válida.
Por toda a narrativa sentimos que o Presidente busca uma forma de redenção antes de seu fim, uma forma de contornar as consequências e orientar seu povo, pois não se conforma com o fato de que seu sonho de democracia se transformou em uma nova ditadura.
Mas, como o próprio livro diz, “cuidado, a história não é escrita apenas uma vez, como um epitáfio gravado em um túmulo. ”
Aos que se aventurarem, desejo uma boa leitura.
Um abraço,
Vanessa Correia