spoiler visualizarBubu 01/02/2018
Transformar é agir, e agir, amanhã, será matar, enquanto ela ainda não sabe se matar é legítimo.
O Homem Revoltado rendeu ataques intelectuais e rupturas de/com os intelectuais comunistas e surrealistas franceses da época. É um ensaio sobre a condição humana, o absurdo, e política.
A revolta é o movimento consciente pelo qual um homem se volta a si mesmo e rejeita sua condição. Essa negação não é renúncia, pois rejeita a condição em nome de algo que é afirmado: um princípio, uma espécie de natureza humana, que reivindica unidade, clareza, razão, justiça.
Após retomar as ideias sobre o absurdo e suicídio contidas n’O Mito de Sísifo, o autor as relaciona com a revolta e defende que “A solidariedade dos homens se fundamenta no movimento de revolta e esta, por sua vez, só encontra justificação nessa cumplicidade. Isso nos dá o direito de dizer, portanto, que toda revolta que se permite negar ou destruir a solidariedade perde, ao mesmo tempo, o nome de revolta e coincide, na realidade, com um consentimento assassino.”
Em seguida, segue a evolução da Revolta nos contextos histórico-filosóficos da humanidade, de um mito grego ao comunismo da época. “Ao segui-lo em suas obras e nos seus atos, teremos que dizer, a cada vez, se ele continua fiel à sua nobreza primeira ou se, por cansaço e loucura, esquece-a, pelo contrário, em uma embriaguez de tirania ou de servidão.”
“Se não se acredita em nada, se nada faz sentido e se não podemos afirmar nenhum valor, tudo é possível e nada tem importância. [...]
Aparentemente negativa, já que nada cria, a revolta é profundamente positiva, porque revela aquilo que no homem sempre deve ser defendido. [...]
Enquanto isso, eis o primeiro progresso que o espírito de revolta provoca numa reflexão inicialmente permeada pelo absurdo e pela aparente esterilidade do mundo. Na experiência do absurdo, o sofrimento é individual. A partir do momento de revolta, ele ganha a consciência de ser coletivo, é a aventura de todos. [...] a realidade humana, em sua totalidade, sofre com esse distanciamento em relação a si mesma e ao mundo. [...] essa evidência tira o indivíduo de sua solidão. Ela é um território comum que fundamenta o primeiro valor dos homens. Eu me revolto, logo existimos.”
Denso de críticas filosóficas, O Homem Revoltado não pretende, sabiamente, ser um sistema filosófico acabado, porém, isso de modo algum diminui seu valor. Em 1957 Camus foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura por sua “importante produção literária, que com uma séria visão clara ilumina os problemas os problemas da consciência humana em nossos tempos”.
“Nós escolheremos [...] a ação lucida, a generosidade do homem que compreende. [..] Nasce então a estranha alegria que nos ajuda a viver e a morrer e que, de agora em diante, nos recusamos a adiar para mais tarde.”