A honra perdida de Katharina Blum

A honra perdida de Katharina Blum Heinrich Böll




Resenhas - A honra perdida de Katharina Blum


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Brito 11/03/2021

Heinrich Boll
Livro simples, seco, directo, contido, breve. Constrói uma crítica arrasadora a uma sociedade que mastiga seres humanos, ou, se se quiser, em que mastigar seres humanos faz parte do processo do viver. Processo em que, além de se descartar o indivíduo, se constroem verdades pronto-a-vestir em que há procedimentos e mecanismos que promovem difamação e formas de violência psicológica perfeitamente aceitáveis numa sociedade democrática. A situação é, infelizmente, de uma actualidade de tirar o fôlego, é impossível não reconhecermos nesta sociedade a nossa sociedade das informações falsas que circulam sem qualquer feed-back, e onde cada grupo, pessoa, instituição, tem os seus objectivos e tudo faz para os atingir. Claro que o prémio para o desempenho mais abjecto, roçando o surrealista, vai para o jornal Zeitung.
A escrita seca, depurada, ao estilo de um documentário, aparentemente objectivo, descrevendo sem emoções os acontecimentos, contrasta com a riqueza da realidade emocional e, já agora, com a vulnerabilidade e integridade da personagem principal que é visceralmente dissecada, interpretada e, sobretudo, coisificada. E que no fim se revolta e, por paradoxal que pareça, mata por dignidade. Contradições que uma sociedade que não perde tempo a pensar nas consequências pode provocar, há sementes de violência que nascem da defesa do que há de mais sagrado em nós. Sinceramente, só posso dizer, hoje em dia ainda é pior.
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Pandora 30/05/2020

Katharina Blum é uma moça discreta e batalhadora que um dia se envolve com um homem procurado pela polícia e vê, de um dia pro outro, seu mundo ruir, pelas ações da polícia e da imprensa.

Ela trabalha como doméstica, é responsável e organizada, boa com cálculos e muito inteligente. É muito querida por seus patrões, que, inclusive, ajudam com o financiamento de seu apartamento próprio. Até que na quarta-feira anterior ao Weiberfastnacht - um tradicional festejo ocorrido na quinta-feira que antecede o carnaval alemão - ela vai a uma festa na casa da madrinha, onde conhece Ludwig Gottën e sua vida vira de cabeça pra baixo.

A narrativa é feita em tom de investigação, com apresentação de fatos, testemunhas, depoimentos à polícia e publicações de um veículo da imprensa denominado simplesmente JORNAL, que faz de tudo para impingir a Katharina uma culpabilidade que simplesmente não existe. Seu passado é investigado, sua casa vasculhada, seus amigos interrogados e sua imagem é deturpada a ponto de provocar na moça reações inesperadas.

O próprio Böll foi rotulado como ‘mentor intelectual do terrorismo’ pelo jornal Bild ao criticar uma matéria em que, sem provas, o jornal acusava o grupo de extrema esquerda RAF (Fração do Exército Vermelho) de um assalto a banco. Ao defender em um artigo ‘a manutenção de garantias fundamentais do estado de direito, como a presunção de inocência e integridade da pessoa’, uma grande polêmica se instaurou: de um lado, com o ataque a Böll por veículos de comunicação e políticos conservadores, em especial do partido da União Cristã Democrática; do outro, por meio de manifestos assinados por figuras públicas a favor do escritor e da liberdade de pensamento. Böll foi investigado pela polícia, teve sua casa revistada e sua briga jurídica com o Bild durou quase uma década.

Em tempo de tantas fake news, um livro mais do que atual para discutirmos a Liberdade de Imprensa e a Responsabilidade Ética na divulgação de fatos e no perigo de pré-julgamentos.

Lembro da lamentável e triste história da Escola Base, em São Paulo, quando os donos e outras pessoas ligadas ao colégio foram acusados de abuso sexual infantil por duas mães de alunos, o que desencadeou um espetáculo midiático que arrasou a reputação dos envolvidos. Que, enfim chegou-se à conclusão, eram inocentes. Mas aí o mal já estava feito, não é?
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Leila 10/10/2023

A Honra Perdida de Katharina Blum do autor alemão Heinrich Böll, publicada em 1974, aborda questões profundamente atuais, como a disseminação de fake news e seus impactos devastadores na vida das pessoas. A leitura deste livro foi uma experiência fascinante, pois demonstra como uma história escrita há tanto tempo ainda pode ser tão relevante e pertinente nos dias de hoje.

A trama do livro gira em torno de Katharina Blum, uma jovem mulher que vê sua vida ser abruptamente destruída depois que ela é envolvida em uma série de matérias difamatórias do "Jornal" após passar uma noite de carnaval com um até então desconhecido, que estava sendo vigiado pela polícia por envolvido em vários crimes, a partir daí a vida de Katharina toma rumos inimagináveis. O autor explora de forma magistral a maneira como a mídia sensacionalista e a opinião pública podem destruir a vida de uma pessoa, criando uma atmosfera de histeria em torno dela. Isso é particularmente atual, considerando a era das redes sociais e a cultura do cancelamento, onde as vidas das pessoas podem ser arruinadas por acusações infundadas e informações falsas.

A história de Katharina Blum é uma reflexão sobre como a busca por notícias ráoidas e a falta de responsabilidade da mídia podem levar a sérias consequências para as vidas das pessoas. Ela se torna uma vítima da sede de sensacionalismo dos meios de comunicação, que estão dispostos a sacrificar a verdade em nome do lucro e da audiência. Essa crítica à mídia é uma parte central da narrativa e continua a ser relevante em um mundo onde a desinformação e as fake news são disseminadas de forma generalizada.

Além disso, o livro também aborda questões de privacidade, liberdade individual e as consequências devastadoras da perda da honra e da reputação. Katharina Blum é uma personagem profundamente tocante, e sua história nos faz refletir sobre a fragilidade das vidas humanas em uma sociedade obcecada pela exposição pública e pelo escândalo.

Enfim, A Honra Perdida de Katharina Blum é uma leitura muito, muito sagaz, Gostei demais e recomendo.
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EduardoCDias 12/05/2021

Assassinato de reputação
O ganhador do Nobel de Literatura nos mostra como uma mídia mal informada e desonesta pode destruir a vida de uma pessoa. Katharina Blum tem sua vida e de quem a cerca destruídas por um jornal sensacionalista. E isso a leva a assassinar o repórter que produziu as matérias.
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@livrosdelei 03/01/2021

É um exercício que testa o limite do sensacionalismo
?A honra perdida de Katharina Blum? ou ?De como surge a violência e para onde ela pode levar? de Heinrich Böll é um livro bastante rápido e intenso. Escrito da maneira bem jurídica.

O livro é resultado do teste que Böll faz para ver o limite que o sensacionalismo das mídias pode causar na vida das pessoas comuns por meio de difamações e violências psicológicas. Além de ser também uma crítica que o escritor fez ao jornal alemão Bild, conhecido por ser super sensacionalista.

Nesse teste, vemos uma jovem chamada Katharina Blum, que trabalha como empregada doméstica e possui um ar empreendedor. Ela combina 100% com o seu nome: Katharina, tem origem no grego katharós, que quer dizer ?casta, pura?, e Blum é muito parecido com Blume (flor, em alemão). Logo, ela é uma moça super casta mesmo, e conhecida como ?freira? pelos seus amigos.

Katharina sempre teve uma vida parada e de pouca emoção (já que trabalhou desde os 12 anos como doméstica e sofreu abusos). Mas, em um belo dia, ela conhece um rapaz em uma festa de Carnaval, se apaixona e o leva para sua casa.

Só que, mal sabia ela (ou sabia? rs), que ele era vigiado pela polícia e suspeito de cometer assassinatos e furtos à bancos. Ele seria o conhecido ?terrorista? dos anos 70 na Alemanha (crítica latente de Böll). E Katharina é considerada pela polícia como suspeita de ajudá-lo a escapar dos olhos da polícia após a noite em sua casa.

Todos nessa obra são suspeitos da polícia, mas não do jornal. O jornal já incrimina Katharina de diversos crimes e ataca a sua moral de maneira intensa, com uma manchete nova todos os dias. Ela, que sempre foi conservadora e reservada, se vê vítima de diversas mentiras e manipulações do jornal (sem nome) que queria ganhar dinheiro às custas de seu sofrimento e exposição.

O machismo grita nessa obra. Desde as manchetes do jornal até mesmo a atuação dos policiais. Algo nojento e cheio de julgamentos. Katharina é julgada por tudo e todos do início ao fim da obra.

Aqui vemos que, mesmo em uma democracia consolidada, é possível que um indivíduo perca todos os seus direitos fundamentais. Indico fortemente esse livro!
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Evelin 13/02/2024

Todos sabemos como a mídia pode ser prejudicial quando é sensacionalista, recentemente tivemos o caso da moça que se suicidou por problemas agravados por fake News propagadas por um """"""jornal"""""" aí. Com certeza é um problema ainda não superado pela sociedade atual, e acho que estamos só caminhando para pior.
Adorei o jeito que o autor deixou bem claro, sem medo e sem eufemismos, que escreveu a narrativa com o propósito de escancarar os problemas da mídia sensacionalista. Também gostei da forma como a narrativa foi construída, posso dizer até que me liguei aos personagens e sofri um pouco tudo o que sofreram. É uma leitura divertida, reflexiva e atemporal, recomendo muito.
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Pri | @biblio.faga 01/03/2020

'O que vale a vida, mas pode valer também a morte, é não se deixar calar.'
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Curiosidade:
O carnaval alemão é conhecido como Karneval, e em cada dia de festa, de quinta-feira à quarta-feira de cinzas, há comemorações, sendo uma dos principais a de quinta (Weiberfastnacht) - época em que se passa o livro:

”A honra perdida de Katharina Blum: como surge a violência e para onde ela pode levar”, de Heinrich Böll, vencedor do Nobel de Literatura em 1972, disponível na edição primorosa da Ed. Carambaia.

O romance fora escrito em um estilo único, não linear e com aspecto investigativo, por meio de capítulos curtos como reportagens jornalísticas, frases curtas e diretas; e ao recorrer as transcrições dos interrogatórios e dos testemunhos dos personagens, o autor dá um caráter de realidade aos fatos, quase histórico, alcançando a concepção de um documentário verídico.

Outro dos méritos de Böll é a atualidade da temática, isto é, como o abuso de poder da mídia é capaz de destruir e desonrar a vida de uma pessoa, seja ela inocente ou não. A eterna dualidade entre o direito de liberdade de imprensa e responsabilidade pelos fatos e opiniões veiculadas, bem como sua relação com as investigações da polícia.

Assim, o romance levanta uma bandeira contra o sensacionalismo, as notícias falsas e os julgamentos populares com base nas mesmas — questões relevantes e importantíssimas em uma época onde muito se discute sobre o poder decisório de (des)informações e o fenômeno, embora não recente, atualmente denominado como “fake news”.

Por fim, recomendo como experiência completar o filme “O Abutre” (2014).
O filme marca a estreia de Dan Gilroy como diretor e conta com a atuação genial de Jake Gyllenhaal, e, na minha opinião, faz duras e necessárias críticas ao modelo de jornalismo moderno. Uma experiência imperdível.

site: https://www.instagram.com/biblio.faga/
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Vitor Y. 31/12/2020

A ultra exposição
Livro foi muito feliz em abordar uma estória única, porém muito factível na atualidade.

Substitua o JORNAL por qualquer rede social e seus usuários e estaremos diante de um ambiente muito propício para julgamentos sumários, difamações, fatos e declarações distorcidas, fofocas e etc. O sofrimento de Katherine é muito plausível e possível no ambiente virtual.

Nós, seja como expectador ou usuário do Facebook, ficamos à mercê disso tudo, sob a ilusória percepção que estamos perdendo alguma notícia, informação ou fato indispensável (ou fomo - fear of being missing out).
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Filipe 18/08/2021

Um livro que sofreu boicote e censura por parte de um grande veículo de imprensa é, no mínimo, interessante. Neste caso, é também necessário.

Böll narra, no ano de 1974, o poder que a imprensa tem de condenar alguém antes da justiça o fazer. O poder de acabar com a vida de uma pessoa e, finalmente, transformá-la em tudo que a acusa de ser. É interessante como o enredo se encaixa no contexto de fake news no qual nos encontramos.

Uma narrativa excelente, de tirar o fôlego. A escrita de Böll e a narrativa factual de um episódio determinante na vida de Katharina Blum são geniais.
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Ana Clara 05/02/2015

Aparentemente escrito a partir de experiências próprias o livro choca ao relatar a interferência e desrespeito brutais protagonizados pela mídia inescrupulosa na vida de pessoas que por qualquer razão se vejam ligadas a um crime ou a algum criminoso. Escrito em linguagem objetiva e dinâmica -em contraponto com o sensacionalismo do Zeitung, como alguém disse- o livro demonstra ainda, na Alemanha da década de 70, a violência institucionalizada contra qualquer um que cheire a esquerdista.
Ótima resenha, que achei por aí, sobre o livro: http://opintassilgo.org/2014/11/14/resenha-a-honra-perdida-de-katharina-blum-die-verlorene-ehre-der-katharina-blum-de-heinrich-boll/
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Anderson 10/11/2020

O tribunal da mídia
Muito bom livro! Uma metáfora bem atual sobre fake news, cancelamentos, manipulação das massas e o esmagamento do indivíduo perante as relações promíscuas entre o Estado e a imprensa sensacionalista. O tema é muito válido nestes tempos em que se desprezam garantias básicas para uma sociedade civilizada, como a presunção da inocência e o devido processo legal; em que reputações de pessoas são destruídas em julgamentos sumários no tribunal da internet, sem chance de defesa.
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Martony.Demes 09/03/2022

Eis o livro A Honra Perdida de Katharina Blum, de Heinrich Böll
A obra apresenta a temática de acusações falsas, de o quanto a imprensa pode prejudicar a honra de uma pessoa de modo injusto. Vamos aos detalhes?

De início, o livro apresenta um crime (?) e o acusado esteve na noite anterior com Katharina Blum. A partir disso, a polícia passa a tratar Blum como uma [*****]mplice de Ludwig Gotten: faz a mesma passar por longos e torturantes depoimentos, começa a fazer sugerir participação dela com base em bilhetes encontrados, supostas evidências apresentadas e que, ao final, nada prova o envolvimento dela.

Não obstante, em paralelo, um Jornal começa a divulgar e perseguir Blum de maneira implacável e injustamente. Chama ela de comunista, de terrorista, de fora-da-lei. Isso, no bojo da Alemanha Ocidental e no ápice da guerra fria que já perdurava na Europa pós-guerra.

Katharina viu sua honra ser vilipendiada de forma injusta e cruel possível! Logo ela que tinha uma vida simples, sempre trabalhou bastante, tornou-se independente, inclusive após sua separação.

Imagina aí um cenário semelhante ao "O processo" de Kafka que espremia Blum a um lugar que não tinha para onde ir! Dada situação em que se encontrava, Blum resolve ir às últimas consequências e....[Sem spoiler].

O livro é ótimo: atemporal, com uma metáfora bem atual em relação a fake news, cancelamentos em redes sociais e esmagamento de indivíduos diante determinada situação com uso de tribunal de internet e imprensa sensacionalista! Já vimos diversos casos assim em que pessoas têm sua reputação destruídas em julgamentos sumários e muitas vezes sem chances de defesa. Às vezes, quando conseguem provar a inocência já pode ser tarde demais.

Recentemente, assisti um podcast daqui de Teresina IELCast no qual foi entrevistado Engenheiro Jivago Castro o qual apresenta todas as evidências de o quanto foi injustamente acusado por um canal de imprensa daqui do Piauí há alguns anos atrás.
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Marcia.Cristina 19/09/2022

Qualquer semelhança com os dias atuais não é coincidência
O livro é uma narrativa de um crime que ocorreu na década de 70, impulsionado pela perseguição da imprensa sensacionalista. Qualquer semelhança com as fake news dos tempos de hoje não é mera coincidência.
Katharina Blum é uma jovem e bela empregada doméstica dedicada ao seu trabalho que se apaixona por um homem que conheceu na véspera do Carnaval. No dia seguinte, ela descobre que ele é procurado pela polícia. Ela acaba se envolvendo em uma trama de mentiras criadas pelos jornalistas. No início do livro temos a impressão de que se trata de um livro sobre uma assassina, mas no decorrer da narrativa percebemos que Katharina caiu de paraquedas em uma confusão que não pertencia a ela.
Lendo os relatos de como tudo se deu e das acusações que ela sofreu, concluímos que tudo se agravou devido ao fato dela ser mulher numa sociedade conservadora e preconceituosa. O livro faz uma crítica a um jornal específico que usa as acusações falsas, jogos de palavras e mentiras para vender exemplares. No decorrer da leitura, não fica claro inclusive se o homem procurado pela polícia, por quem Katharina se apaixonou era de fato um criminoso, ou se foi incriminado pela imprensa.
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