Rafaella 25/07/2013
" Não podia ter mais que sete ou oito anos. Como adorava a música, o movimento, o ato de disciplinar o corpo; a barre fixada na sala do porão quarenta anos atrás ainda continuava ali, onde Lizzie outrora desempenhava os exercícios diáriosm a pequena série constante de passos: pliés, battements, port de bras, observando-se no espelho na parede do outro lado. Ainda treinava regularmente." Página 16
Por minhas três últimas solicitações à Bertrand Brasil vocês já devem ter percebido o quanto gostei das obras da autora Marcia Willett. Confesso que acabei solicitando Casa de Verão porque fiquei interessada no lançamento e gostaria de conferir a obra, mas quando li a biografia de Willett foi amor a primeira vista, afinal, ela é ex-bailarina. Vergonha de mim, mas o que me atraiu para a leitura quando já tinha a obra em mãos foi este pequeno fato. E que surpresa ao atestar que a obra era realmente boa. Isto me motivou a escolher A hora das crianças para leitura e a reação foi a mesma com o primeiro livro da autora a ser publicado pela Editora Bertrand Brasil, e, para fechar o ciclo, solicitei A Gaiola e acredito que a surpresa e minha reação foi inesperada. Vou explicar os motivos ao longo da resenha e vocês poderão entender melhor esta minha reação um tanto exagerada, mas já inicio este meu relato avisando que a obra é de leitura obrigatória. Fato. Não é puxa-saquismo para a editora nem para a autora, mas tenho certeza que ao conferir pelo menos uma das obras da Marcia Willett você entenderá o que estou falando. A leitura de A Gaiola é muito comovente e vai deixar você de boca aberta quando encerrar o livro. Tenho certeza que ficará assim como eu, querendo mais e mais.
" - Posso acreditar - diz Felix, com sinceridade; a essa altura, já fora vezes suficientes à Gaiola para compreender que não havia nada de banal em Pidge, tampouco em Angel. A atmosfera cheia de calor humano e de tranquilidade tem uma qualidade curativa; ele consegue rir e provocar as duas sem o receio daquelas interpretações errôneas que, com Marina, resultam em gélidos e longos silêncios." Página 68
Lizzie Blake é uma atriz bastante conhecida por seus trabalhos e, em algum momento de sua vida, se vê confrontada com o passado. Perdeu o marido há pouco tempo e como sua mãe, Angel, e Pidge também já se foram a mulher acaba sendo motivada a buscar informações sobre seu passado. Quando pequena mudou com sua mãe, a atriz Angelica Blake, para junto de Pidge e a casa ficou conhecida pelas três como A Gaiola. Isto porque o nome de Pidge, em inglês, significa pombo e para mostrar aos visitantes o significado do nome dado à morada das três uma gaiola com três pombinhas foi colocada pendurada sobre o piano. Trinta e cinco anos depois Lizzie se vê sem rumo e retorna à gaiola, porém algo a assombra, e, a pequena gaiola que sempre estava pendurada não se encontra mais na casa. Pouco depois a mulher encontra um cartão que Angel enviou anos antes para Pidge e algumas memórias fluem para a superfície, fazendo-a se lembrar dos momentos felizes que teve junto da mãe, Pidge e Felix. Esta ida para o passado, em pensamentos, a motivou a ir para Dunster atrás do camarada de infância e amante de sua mãe que ela não via desde que tinha 11 ou 12 anos.
" Por que deveria encontrar alguma coisa ali para aliviar-lhe a dor ou responder às suas perguntas? Loucura pensar que Dunster guardasse algumas respostas." Página 158
Conhecendo um pouco mais sobre a vida na Gaiola, vamos agora conhecer um pouco mais sobre a vida de Felix Hamilton. Quem pode culpar um homem com seus trinta e tantos anos, constantemente posto na parede por sua mulher e seu ciúmes doentio por encontrar o amor, e uma família, nos braços de outra? Em uma de suas idas para Bristol, Felix vai ao teatro em companhia de seus amigos e acaba conhecendo Angelica Blake e tornam-se amigos. O sentimento acaba evoluindo e os dois se envolvem emocionalmente, sendo que em suas idas mensais para a cidade faz visitas à Gaiola e suas passarinhas. Lizzie era apenas uma criança quando conheceu Felix e o amor de um pai, chegou até a insinuar que ele poderia ser seu pai se quisesse, mas com toda a delicadeza do mundo o camarada diz que já tem um filho, Piers, e a garotinha acaba ficando interessada em conhecer mais sobre o garoto. Em uma ação inconsequente de Angel, Marina descobre sobre o caso do marido e coloca um ponto final na relação.
Piers, anos depois, já é avô e mora com sua nora, Tilda, e seu neto Jake em Michaelgarth. Casa em que foi muito feliz em sua infância compartilhada com o seu avô, David, e homônimo do filho falecido recentemente de Piers. Por conta disto, Tilda passa a viver com o sogro e com ele vêm a inconveniente Alisson, que lembra bastante Marina em alguns aspectos como o do ciúme e posse de Piers. Por uma jogada do destino Piers reconhece Lizzie e acabam conversando, a conversa tomou um rumo bastante delicado e ambos acabam abalados por terem compartilhado um passado, mesmo que indiretamente.
" - Minha pobre Tilda. - Piers balançou a cabeça. - Isso não precisa ser uma espécie de disputa pelo seu afeto. Saul ou David. Aldershot ou Michaelgarth. O amor não é um bem finito, há bastante para todos. Pare de se inquietar e siga em frente. Sei o que David diria: ' Vai nessa, amor. A vida é curta demais." Página 394
Não sei como continuar a resenha sem soltar os benditos spoilers, isto é, se eu ainda não tiver escrito algo a mais. Com o desenrolar da história e os acontecimentos em Dunster você irá mergulhar a fundo no passado de Lizzie, Angel, Pidge, Felix, Marina e Piers e vai entender todas as consequências que esta "infidelidade" teve na vida de todos. Como já mencionei anteriormente e o livro também o fala, a dor e a perda foram os catalisadores para Lizzie ir atrás de seu passado e entender tudo o que aconteceu em sua infância. O caso da mãe, a partida repentina de Felix, a vida do camarada com Piers e tudo mais que teve influência direta em sua criação. O livro mescla situações que estão no presente e passado, mas nada que deixe a leitura muito confusa. O início da leitura não me chamou atenção, não que seja ruim, muito pelo contrário a escrita de Marcia Willet é impecável, mas acredito que não tive conexão direta com Lizzie no início. À medida que sua busca começa a ter resultados a leitura dá uma guinada e é impossível largar o livro, se eu dispusesse de tempo teria terminado a leitura em horas.
A capa remete à gaiola e seus passarinhos que era pendurada acima do piano e teve papel essencial no reencontro de Felix e Lizzie. A personagem que mais me encantou foi Tilda e seu jeito espontâneo de encarar a vida e tudo aquilo que lhe aconteceu nos últimos meses. Saul também é um personagem bastante interessante e que dá brilho à narração. O único ponto negativo da história, não que conte muito para minha avaliação, foi a inclusão da história de Gemma e Guy que terminou sem quaisquer conclusões. Entendo o ponto da autora de inseri-los na história (afinal, ela é irmã de Saul), mas acredito que este fato poderia ter sido melhor trabalhado na obra. Independente disto, só tenho que afirmar que esta obra está em minha lista de favoritos.
" Vi aquela mulher hoje em Dunster. Aquela atriz. É sua amante, não é? Tinha uma criança com ela. Não será sua filha, por algum acaso?" Página 395
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