Cristiano Rosa 01/07/2012
Diário CT: Livraria Limítrofe
Bem-vindo à minha casa. Pode entrar! Fica a vontade que vou ser bem solícito ao seu pedido e contar sobre a minha experiência com a Livraria Limítrofe. Bom, para início de conversa, eu nunca tinha conhecido um lugar tão fascinante quanto aquele. Sou amante das palavras, graduado em Letras, crítico, escritor e professor, já visitei vários lugares literários, mas nada como a Livraria.
Descobri ela por acaso. Era uma tarde de terça-feira. Estava no meu quarto quando ouvi a buzina de uma moto amarela em frente a minha casa. Saí da garagem e uma luz forte me cegou. Não estava muito quente, achei que o sol nem estava tão brilhante, mas foi o que aconteceu.
Saindo da porta, foi como se eu tivesse entrado em outra. Olhei para trás e percebi que estava realmente em outro local. Virei-me para frente de novo e eu estava lá, dentro da Livraria Limítrofe. Logo um senhor com cara de bonzinho se aproximou.
- É um prazer tê-lo aqui, meu jovem. Acompanhe-me por favor! – Disse ele, me conduzindo mais para o interiror do lugar.
- Como eu cheguei aqui? – Não me contive em perguntar.
- Era seu destino, caro Cristiano! – Disse o senhor me olhando sorridente. – Eu já esperava por você. Por favor, fique a vontade. – Disse-me, mostrando as diversas prateleiras com os mais variados e coloridos livros que se podia imaginar.
Um, lá do meio do corredor, estante da esquerda, brilhou mais pra mim do que os outros. Fui até ele e o peguei na mão. Espera! Tinha algo diferente nele: não tinha capa! Como podia? Em minhas mãos, tive a sensação de que era um livro sensível, e que eu teria de ser muito cuidadoso com o manuseio dele. Dei uma folheada e notei a bela diagramação, com páginas convidativas à leitura.
Sentei-me em um dos sofás da Livraria e abri o livro. Comecei a ler com agiliade, entusiasmo e prazer. Por meio dele, conheci muitas pessoas e personalidades diferentes. Uma mulher com sua filha, um rapaz cadeirante, um professor universitário, um jovem empresário, uma adolescente da era tecnológica, uma mulher enferma, um garoto nerd, o dono de uma editora, uma escritora com bloqueio criativo, uma jovem de luto, um rapaz metaleiro, um cinquentão culto.
A obra era mágica! Este único livro me fez conhecer muitos outros, de gêneros diferentes, como fábulas, HQs, literatura de fantasia, contos de fadas, literatura juvenil, livros pop-up, mitologia, livros eletrônicos, policial, terror, ficção científica, horror.
Notei enquanto lia, que uma senhorinha muito simpática passava pelo meu lado, no fim do corredor, cuidando-me e, cada vez que me via naquele momento mágico de leitura, dava um sorriso de satisfação. Parece que ela percebia que eu estava realmente apreciando o lugar e o volume em minhas mãos.
Entre personagens de carne e osso, e outros de tinta e papel, aprendi muito lendo aquele livro. Falava de amizade, família, morte, trabalho, juventude, e também de obras que eu já havia lido e era fã, como Peter Pan, O Mágico de Oz, Harry Potter, O Senhor dos Anéis e Sherlock Holmes.
Ao fim do livro, fechei-o, voltando a notar a ausência de capa, e ouvi passos em minha direção.
- Vou ficar com este exemplar! Quanto custa? – exclamei perguntando ao velhinho que se aproximava de mim, com cara maravilhada, parecendo que já lera aquele livro e sabia do que eu estava sentindo.
- Já é seu… Um presente meu pela visita!
- Presente? Mas é uma livraria ou bilioteca? – questionei-o interessado. E ele explicou que não vende nada ali, mas não chama o lugar de biblioteca porque não só oferece algo aos leitores, mas sim, existe ali uma troca de energias, experiêcias, mundos e conhecimentos entre ele e sua esposa com quem frequenta o local.
Tive a sensação de ter estado por horas lá, e que precisava voltar logo pra casa, pois tiha muito o que fazer. Não sabia eu que lá dentro o tempo e o espaço se comportavam de modo diferente. Despedi-me com alegria pelo que vivi ali e pena por ter de sair dali, e abri a porta e voltei à minha garagem.
O nome do livro era o mesmo do lugar onde fui: Livraria Limítrofe. O autor, Alfer Medeiros, e a editora, Estronho, pelo selo Fantas. Antes dessa obra, somente Harry Potter e A História Sem Fim me fizeram ler desse jeito. Li o livro em menos de um dia. E o que senti é inexplicável.
Fonte: http://www.blogcriandotestralios.com/?p=12564