spoiler visualizarEvan 05/05/2012
A melhor concepção do vampiro dos últimos tempos.
Li "Deixa-me Entrar" versão portuguesa de " Let the Right One In" do escritor sueco John Ajvide Lindqvist,após ter assistido ao filme homônimo do diretor também sueco Tomas Alfredson. O que dizer desta obra? O filme é sensacional basaeado também em uma história sensacional e inovadora.
O FILME
O filme conta com o roteiro do próprio Jonh Ajvide Lindqvist; e o que me impressionou bastante e me cativou, foi o tom realista se sobrepondo ao clássico fantasioso que envolve a figura típica do vampiro usado na maioria das histórias. O filme tem uma fotografia belíssima contrastando cenas dos apartamentos escuros e semi vazios de Oscar o garoto e Eli a menina, com a paisagem gelada e ampla do inverno sueco servindo para acentuar a solidão que permeia a vida das personagens. Os amantes de filmes de ação podem não gostar da combinação da trilha sonora e da sequência de filmagem que dá ideia de um filme lento, quase parado. Outro ponto magistral de Tomas Alfredson são as cenas de violência e morte que estão em off scene e acontecem apenas na mente do espectador. O filme com certeza foi feito com baixos recursos e tem algumas falhas que chegam a ser ridículas, mas não desabonam em nada a obra num todo. Tomas Alfredson também acertou em cheio na escolha dos atores que fazem os protagonistas. A Suécia não tem atores mirins e a pequena ( que cresceu ) Lina Leanderson e o garoto Kare Hedebrant dão um show de representação (apesar de alguns tropeços) que é toda a consistência do filme.
O LIVRO E A HISTÓRIA
O que cativa em "Let the righ one in" foi a maneira como o escritor J. A Lindqvist desenvolveu e o diretor Tomas Alfredson soube aplicar com maestria as mensagens quase inperceptíveis que estão por trás da história. Nos vemos apoiando e torcendo por uma dupla composta de uma assassina fria e de um futuro psicopata que fará as vítimas para saciar a sede de viver da pequena Eli. Na história isto está claro, mas ficamos tentados a acreditar no contrário, na inocência e na beleza da amizade e amor de Eli e Oscar. Analisando o início do filme/livro, vemos Hakan o protetor humano de Eli que inicialmente se passa por seu pai. Apresentado como um tipo asqueroso e sem escrúpulos ( que no livro além de tudo é um pedófilo que gosta de garotos, sendo está a chave para uma das surpresas da história que não fica clara no filme) que faz as vítimas para saciar a fome da pequena vampira. Hakan é na verdade devotado á Eli e faz de tudo para protegê-la inclusive se auto-mutilando para que não seja reconhecido e com isso possam ligá-lo a Eli. Mas é gritante a maneira desprezível como ela o trata. No filme é passada a ideia que um dia Hakan foi um menino como Oscar que foi atraído por Eli passando a ser seu cumplice e fazer suas vítimas e que depois de ficar velho e imprestável e colocado de lado( No filme da versão americana "Let me in" em que a capa da versão portuguesa foi baseada,essa ideia é levada ao extremo). Chega a chocar a maneira com Eli o mata , apesar de ser o próprio Hakan quem implora por isso por estar preso e sem saída (no livro esta parte aconteceu de forma diferente porém com o mesmo resultado). Sem seu protetor, Eli passa a assediar Oscar com mais intensidade. Em nenhum momento fica claro que Eli tenha algum interesse amoroso por Oscar, pois nesse ponto ela é cheia de evasivas. Pode-se pereceber isso nas mensagens que ela escreve para Oscar, chega a decepcionar o "eu gosto muito de você" quando estamos esperando um "eu te amo".
Um ponto que não fica claro no filme, e que o próprio Tomas Alfredson em entrevista falou do cuidado que tomou, pois o tema pedofilia é complicado de se abordar sem gerar alguns mal-entendidos. Mas que no livro o autor vai desenvolvendo aos poucos e em pequenas doses que vão sendo aumentadas até a revelação que choca momentaneamente e depois é esquecida e passa a ser uma coisa quase natural até para o próprio personagem Oscar. Eli fala para Oscar se ele gostaria dela mesmo que ela não fosse uma garota. E esse fato acaba se diluindo na ideia que Eli não seria uma garota porque é na verdade um vampiro. Mas o livro vai mais fundo nessa questão e chegamos a chave da pedofilia de Hakan que é propenso a garotos. Eli fala para Oscar que não é nem menina, nem menino, nem velha, nem nova, não é ninguém. E quando Oscar pergunta o seu nome ela diz que é Elias. Mas isso é nome de menino. Oscar diz espantado . E Eli responde apenas, pois é. Mais á frente, Eli conta que era um menino antes de virar vampiro, e que foi castrado, e que se passa desde então por menina; por ser mais fácil para uma menina sobreviver. A princípio Oscar se sente estranho por ter até beijado outro garoto, mais depois e aos poucos vai se acostumando com a idéia e no fim Oscar e leitores acabam esquecendo que Eli um dia foi um garoto.
Oscar desde de o início da história, sonha em se vingar de seus agressores de forma violenta. E quando é anunciado nos noticiários algumas mortes causadas pelo assassino misterioso, ele fica desejando que o próximo bem que poderia ser um dos garotos que o perseguem. Tudo na trama é jogada aos poucos e em pequenas doses para ir acostumando o espectador que no final acaba sendo conivente e torcendo para que os protagonistas se deem bem. O final da história também segue o mesmo padrão de deixar para o espctador a decisão de imaginar um final feliz ou trágico. O final é aparentemente feliz pois Oscar é salvo por Eli de seus perseguidores que são todos mortos. Eles acabam fugindo e a hsitória termina com Oscar dentro de um trem levando Eli escondida num baú. Porém, é perceptível que o ciclo se inicia e que Oscar vai ser o novo Hakan, responsável por sua proteção e alimentação.
Sobre "Let me in". O diretor Matt Reeves fez o remake americano de "Let The Right One In" e o filme estreiou em outubro de 2010. O roteiro feito por Jonh Ajvide Lindqvist foi aproveitado e revisto por Reeves. A história é mesma não mudando quase nada, o cenário no Novo México e particularmente identico ao da Suécia. O garoto aqui se chama Owen e é interpretado por Kodi Smith Mcphee de "A Estrada" e a menina se chama Abby e é interpretada por Chloe Moretz, de "Kick Ass" Não podemos esquecer de citar o talentoso Richard Jenkins de "Dança Comigo?" e "Querido Jonh" no papel do "pai". Reeves não fez muitas mudanças e o filme não é ruim de forma alguma e tem algumas partes que surpreendem. Os atores mirins também são bons. Richard Jenkins interpreta convincentemente o papel de "pai" na forma de um protetor já cansado de ter que proteger a pequena vampira; o que está mais próximo do livro de J.A.Lindqvist do que o Hakan do filme original que era um completo pateta em determinados momentos.
Mas o filme peca pela falta de sutileza, se na versão original temos mais tempo para degustar algumas cenas como o do ataque a mulher mais velha ( A Virginia, que tem toda uma história no trama e a cena do filme sueco do ataque dos gatos também é fantástica) e sua transformação. No filme de Reeves essas cenas dão a impressão que foram feitas á "toque de caixa" tal é a pressa com que foram desenvolvidas. Tem ainda a cena desnecessária, onde o goroto vê uma foto do "pai" ainda jovem junto com a pequena vampira, descaracterizando todo o mistério que existe em torno do garoto seguir a vampira. Pois se no livro esta parte inexiste, e no filme original o espectador fica em dúvidas quanto a isso, no filme de Reeves até o protagonista tem a certeza completa, é decepcionante.
No final das contas o filme não é ruim, e para quem é amante do tema vampiresco surge como uma opção de um bom filme. Entretanto está longe de superar o filme de Tomas Alfredson.
Na minha humilde avaliação, numa pontuação máxima de 5 estrelas, o filme "Let me In" ficaria com 4 estrelas, O livro de John Ajvide Lindqvist, ficaria com 5 estrelas e o filme de Tomas Alfredson com 10 estrelas.
Tá certo, eu confesso, babei mesmo no filme. Achei demais.