Evy 07/12/2022Meu primeiro livro do autor e já fiquei apaixonada por sua narrativa. Nesta história, Moacyr Scliar foi simplesmente genial por vários motivos que vou pontuar nesta resenha, mas em especial na forma como nos prende às paginas e nos faz mergulhar para dentro dessa história surreal e simplesmente apaixonante.
A história acontece no interior do Rio Grande do Sul, e já preciso elogiar a ambientação perfeita que Moacyr traz para a história, o que adoro na literatura nacional, já que nos sentimos mais próximos de lugares que conhecemos ou passamos a conhecer um pouquinho mais através da obra. Na tradicional e pacata família Tratskovsky nasce um centauro: um ser metade homem, metade cavalo. É isso mesmo que vocês leram. Um centauro. O nome dele é Guedal e é o quarto filho de um casal de imigrantes judeus russos.
A partir desse evento fantástico, que coloca o romance de Scliar entre a fábula e o realismo, a história se desenrola com Guedali passando por todas as agruras de ser uma criatura diferente em meio a sociedade dita como "normal". Solitário, excluído dos olhares que poderiam julgar a ele e sua família, cresce apaixonado por leitura e remoendo pensamentos e sensações que outros podem ter e sentir, mas ele não.
A um dado momento vai fugir da casa dos pais, não querendo mais atrapalhá-los ou causar vergonha a família e no caminho conhece Tita, uma também centaura em Porto Alegre, com quem se casa e vive às escondidas. Vivem uma vida razoável até que decidem viajar para o Marrocos onde vão tentar uma cirurgia super arriscada que promete transformá-los em pessoas normais.
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O tempo passa, a gente deixa de se ama, e fica se perguntando, para que afinal serve a vida?"
A metáfora do centauro é usada por Scliar como forma de abordar o preconceito e a dificuldade de aceitar e conviver com as diferenças da sociedade e das pessoas individualmente. Vai tratar dos conflitos psicológicos e sociais internos e externos ao personagem Guedali ao tentar se encaixar de alguma forma nesse mundo sendo quem é. Sua narrativa sensível e fluída nos envolve de tal forma que sentimos as dores e confusões de Guedali, nos questionando também sobre a vida e a sociedade.
Uma obra espetacular, com um final surpreendente que amarra muito bem todo o enredo e uma narrativa fantástica. Literatura nacional de qualidade. Super recomendo!