spoiler visualizarIngrid 06/01/2024
A MULHER NÃO GANHOU O PRÊMIO CAMÕES À TOA
É uma obra cheia de nuances que são difíceis de explicar, ainda mais para quem entra em contato com a escrita da autora através desse texto, como foi o meu caso. Em primeiro lugar, vale citar que uma obra publicada em 1973, descrevendo uma sessão de tortura e tendo uma personagem que se descreve como militante é de uma coragem e de um desaforo sem tamanhos. Aqui, mais do que sagaz e boa escritora, Lygia foi destemida!
Vale citar também o estilo de escrita em partes fluido, porém com fluxo de consciência e troca entre as pessoas (ora temos a primeira pessoa, voz dos personagens. Depois a terceira pessoa vem, sem nos avisar, para dar prosseguimento a história). É inovadora essa brincadeira "linguística", mas é bacana.
Não é um livro fácil, o começo pode soar confuso e enfadonho. Lorena é lírica demais, poeta demais, vive em outra dimensão, já Ana Clara usa substâncias que deixam seus pensamentos desordenados, o que causa muito confusão. As partes de Lia (Lião) são mais compreensíveis. Enfim, a escrita pode te vencer em uma parte da história, mas depois de se adaptar, você compreende o porquê da mulher ter ganhado o Camões.
Finalizo com uma fala da própria autora sobre suas personagens: "as personagens são como vampiros, cravam os dentes na nossa jugular e quando amanhece, voltam aos seus sepulcros até que anoiteça de novo".