Li 29/07/2012DESAFIO LITERÁRIO 2012 - JULHO - PRÊMIO JABUTI *LIVRO 4*Sinopse: Num pensionato de freiras paulistano, em 1973, três jovens universitárias começam sua vida adulta de maneiras bem diversas. A burguesa Lorena, filha de família quatrocentona, nutre veleidades artísticas e literárias. Namora um homem casado, mas permanece virgem. A drogada Ana Clara, linda como uma modelo, divide-se entre o noivo rico e o amante traficante. Lia, por fim, milita num grupo da esquerda armada e sofre pelo namorado preso.
As meninas colhe essas três criaturas em pleno movimento, num momento de impasse em suas vidas. Transitando com notável desenvoltura da primeira pessoa narrativa para a terceira, assumindo ora o ponto de vista de uma ora de outra das protagonistas, Lygia Fagundes Telles constrói um romance pulsante e polifônico, que capta como poucos o espírito daquela época conturbada e de vertiginosas transformações, sobretudo comportamentais.
Obra de grande coragem na época de seu lançamento (1973), por descrever uma sessão de tortura numa época em que o assunto era rigorosamente proibido, As meninas acabou por se tornar, ao longo do tempo, um dos livros mais aplaudidos pela crítica e também um dos mais populares entre os leitores da autora.
Não ia ler mais nenhum do tema deste mês, mas bati o olho nele na biblioteca, estava pertinho do de Moacyr Scliar, decidi pegar e ver se dava tempo de lê-lo também. Só li um livro da autora, que nem lembro o nome de “tão” marcante que foi, então lerei este para tirar a prova. Ele ficou em 1º lugar do prêmio em questão, na categoria romance, em 1974.
O livro é confuso. Muito. Mas porque a cabeça das personagens É confusa! Essas “meninas” são um tratado psiquiátrico... E a autora faz a descrição de suas mentes, mais até do que da época em que vivem, de uma forma muito boa.
No começo achei que mergulhar na cabeça de Ana Clara, a viciada, era o mais desconfortável para mim, várias indagações dela eram semelhantes às minhas, mas mais para o fim me vi mais em Lorena, a filosófica, a filha de família rica e problemática, lutando para se manter sã dentro de sua “concha rosa”...
“Ana Clara fazendo amor. Lião fazendo comício. Mãezinha fazendo análise. As freirinhas fazendo doce (...). Faço filosofia. Ser ou estar. Não, não é ser ou não ser, essa já existe, não confundir com a minha que acabei de inventar agora. Originalíssima. Se eu sou, não estou porque para que eu seja é preciso que eu não esteja. Mas não esteja onde? Muito boa a pergunta, não esteja onde. Fora de mim, é lógico. Para que eu seja assim inteira (essencial e essência) é preciso que não esteja em outro lugar senão em mim. (...). Ora, se sacrifico o ser para apenas estar, acabo me desintegrando (essencial e essência) até a pulverização total. (...) Acho que eu seria mais útil se estudasse medicina (...). Uma psiquiatra maravilhosa. O chato é que quando leio um livro sobre doenças mentais, descubro em mim os sintomas de quase todas, uma psiquiatra por dentro demais da loucura.”
A que menos dei atenção foi Lia, a revolucionária, jamais fiz esse papel, sempre gostei de navegar ao sabor da maré (acomodada?! É, talvez!).
Tem livros que são desconfortáveis de ler e este é mais um que o desafio me fez ir em frente no lugar de fechar e pensar: “chega, já deu!” (o outro foi “o lobo da estepe”, de Hermann Hesse), e isso geralmente só acontece quando os personagens tem uma carga emocional muito pesada e que me permite compará-los com a minha própria, quem não acha isso desconfortável?! Para mim essa parte psicológica é pior do que as descrições de tortura física que a autora faz.
Bom livro, recomendo!
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