Henrique Fendrich 18/09/2019
Livro idêntico, com exceção de um conto, a "Os melhores contos de Mark Twain".
Mark Twain realmente um satírico de marca maior, que adorava brincar com as vaidades e a hipocrisia por trás do bom-mocismo com que as pessoas constroem a sociedade. Não poupava, para isso, nem mesmo o George Washington e os mitos a ele associados. Gostava de recriar as histórias bíblicas, o que, no fundo, era também uma negação da seriedade com que tais histórias eram relatadas e tratadas. Apresentava um mundo mais real, aquele em que as pessoas más não recebem um castigo do céu, mas continuam fazendo coisas más livremente, ao contrário do que os livros educativos e religiosos fazem crer.
Algumas de suas filosofias podem ser bem observadas em “Minha primeira mentira e de como me safei dela”, que não é exatamente um conto, mas uma exposição de motivos do personagem a sugerir que a “mentira silenciosa” é a tônica não apenas da vida individual, mas, principalmente, a da vida das nações, embora todos manifestem o seu repúdio à “mentira falada”.
Mark Twain sabia também prender a atenção maravilhosamente, como no conto “Uma curiosa aventura”, que não é um conto de humor, e pode ser até um conto triste, sobre um jovem suspeito de ser um espião militar, quando apenas usava a imaginação para se entreter. Outro destaque é “O demorado passaporte russo”, que poderia ser chamado até de kafkiano, se Kafka não tivesse vindo depois. “Vivo ou morto?” também é um conto dos mais interessantes, em que se nota também o acento crítico, a partir da história de um grupo de pintores miseráveis que resolve simular a morte de um deles por saber que só então as suas obras poderiam ser valorizadas.
Há até um bom drama, “O disco da morte”, mas que tem um desfecho alegre, e uma curiosa novela da Idade Média, mas, no geral, sobressaem-se textos que reforçam absurdos e ironias cotidianas.