Imaginários - Volume 4

Imaginários - Volume 4 Nazarethe Fonseca...




Resenhas - Imaginários - Volume 4


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Leitora Viciada 04/04/2012

Mais um volume de Imaginários lido, mais uma satisfação e orgulho da Literatura Fantástica nacional. Recomendo o livro, que assim como os anteriores mantém o padrão de qualidade gráfica e excelente conteúdo literário. Cada volume da série é independente, mas aconselho a ler todos, é uma coleção realmente fantástica. Vocês podem também conferir as resenhas que fiz para o volume 1, para o volume 2 e o volume 3.
Como quase sempre acontece com as antologias, alguns contos agradam mais que outros, mas todos de Imaginários valem a pena ser lidos. Este volume está bem variado.
Alguns dos contos estão à venda separadamente na Amazon em e-book e cadastrados aqui no Skoob.

O primeiro conto é O Cão, uma história de Fantasia Medieval muitíssimo bem escrita. O autor Leonel Caldela criou uma corte onde o protagonista é o filho do Duque que ama seu cão mais que tudo. Os feéricos são espécies incapazes de criar. Todos se misturam numa narrativa ótima, com um final chocante, surpreendente. Eu amei o conto da primeira até a última linha. Um dos melhores contos que já li.

Em seguida Ela, de Fábio M. Barreto. O autor mostra com boa habilidade dois acontecimentos paralelos, em grande contraste. Possui uma narrativa fluida e naturalmente detalhada, de forma a transportar o leitor para ambos os ambientes. Destaque para as sensações novas e descobertas sofridas pela protagonista.

No conto de Georgette Silen, O Anel e A Pérola Solitária, a magia e o fantástico se mesclam a delicadeza e elegância. Através de uma narrativa ágil e bela, interligando a natureza a seres fantásticos, a autora complementa a trama com elementos juvenis, como as dúvidas da adolescência, o bullying e as descobertas. No caso da protagonista, essas descobertas vão muito além... do comum. Poderia gerar um livro Young Adult sobrenatural muito melhor que vários do mercado.

O quarto conto é Primeiro de Abril: Corpus Christi de Luiz Bras e um dos mais criativos, principalmente nos nomes utilizados. Me senti meio perdida na narrativa um pouco corrida e fui obrigada a imaginar certas coisas, mas o impasse foi resolvido. A história diverte.

Nazarethe Fonseca escreveu um conto vampiresco: Névoa e Sangue. A história vitoriana apresenta um vampiro clássico, sem medo de sugar sangue de suas vítimas. Uma obsessão do patrão pela empregada e um famoso assassino em série fazem parte da narrativa atraente. A ironia da história está nos nomes das personagens principais: Edward, Jacob e Mary Elizabeth - excelente!

O Incrível Congresso de Astrobiologia de Cris Lasaitis vem em seguida e é o mais curto da coletânea, no entanto causa um grande impacto no leitor. Refleti sobre como somos pequenos no Universo. A autora realiza essa proeza num texto criativo e curioso, com bom humor. Ótimo desfecho.

Em Brazil Reloaded de Antonio Luiz M. C. Costa desbravamos um futuro onde a organização política, os blocos socioeconômicos e as potências mundiais são bastante diferentes das condições atuais. O texto é ágil, frenético e instigante. A estrutura e o mundo criado pelo autor são convincentes e realistas. O Capitão Nascimento me pareceu uma referência ao de Tropa de Elite.

Claudio Brites é o próximo autor com seu conto Bons Inimigos. Uma história inteligente e inusitada, com uma narrativa não linear feita através de flashbacks interrompendo o acontecimento central: um grupo de desconhecidos (sendo um cadáver) presos num ambiente fechado. Me lembrei de alguns filmes e apesar da semelhança inicial, o autor provou originalidade com um desenvolvimento e desfecho cheios de ousadia.

Com A Chave de Renato A. Azevedo o leitor mergulha num mundo de Realidade Virtual e o que parecia uma história comum torna-se mais interessante no decorrer dos fatos. Seria um ótimo enredo para um game cheio de ação, porém o final foi muito previsível para mim, mas sem perder a graça, já que o texto é bem escrito.

O último conto é escrito por Erick Santos Cardoso e cortado em fragmentos, dividido em situações, de forma leve e sagaz. O Turista traz um texto simples, que esconde sentimentos, dúvidas e pensamentos complexos. A narrativa franca e direta consegue equilibrar-se com a curiosidade do leitor em relação ao protagonista, seus encontros e desencontros e suas andanças de país em país. Amazon | Skoob

Após ler os quatro volumes da série, posso dizer realmente que a recomendo. Agora aguardo o lançamento de Imaginários 5 e o em Quadrinhos, me tornei fã da série.

Contos que mais gostei: O Cão; O Anel e A Pérola Solitária; Névoa e Sangue; Brazil Reloaded. Foi muito difícil (bastante!) escolher os que mais gostei, minha vontade era de escolher todos!

Trechos:
"E ele nunca ganhou um cão. Sempre tive um pouco de pena. Era uma troca bem evidente, que simbolizava o que sabemos das fadas: era mais forte e mais rápido, e podia ser jovem para sempre, se seu pai permitisse. Mas estava sozinho." O Cão, Leonel Caldela.

"Retraçar a história geológica dos planetas era trabalho das sondas exploratórias, mas Ela tinha a incumbência de aprofundar esse conhecimento e inseri-lo nas equações, além de respeitar as regras locais e alterar apenas o necessário." Ela, Fábio M. Barreto.

"Podia distinguir facilmente cada tipo de folha ou de flor pelo cheiro. Sentia as vibrações dos minúsculos insetos e seres noturnos que vagavam por perto, via os movimentos claramente, mesmo no escuro, e o vento morno era mais intenso na sua pele do que nunca foi." O Anel e a Pérola Solitária, Georgette Silen.

"Conectado, o Chapeleiro agora pode tentar conversar com as vozes sibilantes da cidade. É a primeira vez que um mestiço máquina-homem faz isso. Espontaneamente, eu quero dizer." Primeiro de Abril: Corpus Christi, Luiz Bras.

"Edward lutava com toda sua força de vampiro, mas dentro do corpo humano de Jacob havia um demônio tão feroz e violento quanto ele." Névoa e Sangue, Nazarethe Fonseca.

"Por todo esse tempo, nunca havíamos tentado contato com os humanos, até porque eles ainda são muito primitivos para compreender o significado da diplomacia, e poderiam entender a nossa intromissão como entendem uns aos outros: como uma ameaça." O Incrível Congresso de Astrobiologia, Cris Lasaitis.

"Já o tal American Way não significava nada para Jamal. Sua mãe não tinha essa nostalgia, nem as amigas delas. E ele, pessoalmente, não tinha más lembranças da ocupação pelas tropas do Pacto de Xangai." Brazil Reloaded, Antonio Luiz M. C. Costa.

"O terceiro homem está à beira do fogão, fritando a carne com capricho cirúrgico, seu olhos arroxeados parecem salivar, ao contrário dos outros, encolhidos como se sofressem de alguma cãibra no estômago." Bons Inimigos, Claudio Brites.

"Dois guardas de terno preto, imensos, bloqueavam o primeiro degrau da escada, e Arisia pensou se valeria a pena apanhar a espada katana dobrável oculta dentro da bota direita." A Chave, Renato A. Azevedo.

"Ele decide ir para o aeroporto de Dubai no dia seguinte e pegar um voo para a Tailândia, tomar sangue de cobra, ver templos e brincar de budista por uns dez dias antes de trocar de terno em Milão." O Turista, Erick Santos Cardoso.
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Josué de Olivei 05/09/2011

Psicodelia fantástica.
(Resenha originalmente postada no blog www.depositodedesatinos.blogspot.com)


Este quarto volume da série “Imaginários”, da editora Draco, foi um dos muitos lançamentos que chegaram ao público durante a quinta edição do Fantasticon, Simpósio de Literatura Fantástica ocorrido entre os dias 12 e 14 de agosto em São Paulo. Novamente no papel de organizador esteve Erick Santos, editor da Draco, repetindo o duplo papel exercito no terceiro volume da série, já resenhado aqui (triplo, uma vez que também há um conto seu no livro). Reunindo autores em sua maioria conhecidos dentro do fandom do gênero fantástico brasileiro, a coletânea repete a qualidade do volume anterior, elencando textos que passeiam entre as muitas temáticas possíveis do terror, fantasia e ficção científica.
Vamos a um breve comentário sobre os contos da “Imaginários Volume 4”.
O cão – Leonel Caldela
O conto de abertura nos apresenta um cenário de fantasia onde humanos convivem em constante tensão com fadas – ou seres feéricos, como também são chamados. O filho de um duque humano narra suas aventuras ao lado do melhor amigo, um cachorro, da infância à maioridade, numa vida pontuada por encontros com os misteriosos lordes feéricos. Texto muitíssimo bem escrito, rico em descrições e ótimo no que diz respeito ao desenvolvimento do protagonista-narrador. O autor opta por não fornecer explicações para certos dados e acontecimentos – nunca fica claro o porquê de as fadas não serem capazes de criar, por exemplo, o que as prende num ciclo de cópia do que é humano –, o que apenas salienta o caráter fantástico e misterioso da trama. O desfecho honra todo o bom desenvolvimento – a cena final é particularmente impactante –, embora certa decisão tomada pelo protagonista aconteça de maneira um tanto gratuita, sem que seja possível entender sua motivação. Uma falha pequena num conto de grande qualidade.

Ela – Fábio M. Barreto
Um misterioso ser – a Ela do título – chega a um planeta inabitado com a missão de analisa-lo e povoa-lo de acordo com as condições apresentadas por seu ambiente. Longe dali, os últimos sobreviventes de um planeta em ruínas tentam desesperadamente escapar de seus perseguidores, uma raça alienígena impiedosa que não descansará enquanto não extermina-los por completo. As duas narrativas correm em paralelo, com maior concentração na primeira, que impressiona pela atenção dispensada pelo autor à complexidade do planeta. Também é importante para a trama a descoberta, por parte d’Ela, de sentimentos que até então só conhecia como conceitos, à medida que faz previsões sobre possíveis futuros naquele ambiente onde florescerá vida. Trata-se de um texto relativamente curto, embora a prosa encorpada do autor chame a uma leitura mais lenta e atenciosa, sem transformar o conto numa experiência arrastada ou enfadonha.

O Anel e a Pérola Solitária – Georgette Silen
Moira, desde sua infância, se vê cercada por estranhas vozes que só ela consegue ouvir. Com quinze anos recém completos e uma estranha vontade de liberdade e contato com a natureza, a adolescente presencia um estranho fenômeno quando é atacada pelo valentão do colégio, e a partir daí começa uma teia inimaginável de descobertas. O conto tem um tom claramente infanto-juvenil, apresentando alguns dos principais elementos que comumente são associados à histórias direcionadas a essa faixa etária: a descoberta da identidade, a sensação de não pertencimento, repressão e bullyng sofridos sem motivo. A autora é bem sucedida ao retratar as mudanças – obviamente mágicas – sofridas por Moira ao longo do conto, descrevendo-as numa prosa ágil e elegante; peca um pouco, a meu ver, no uso excessivo dos pontos de exclamação, que parecem a todo momento querer reforçar um clima fantástico que já está lá. Não compromete o conto como um todo, no entanto.

Primeiro de Abril: Corpus Christi – Luiz Bras
De longe o conto mais doido da antologia, e digo isso no bom sentido. A trama – o que mais se pareceria com uma – segue um grupo de ciborgues em meio ao colapso de uma cidade que se tornou consciente e agora age por conta própria. O grande barato do texto é marcadamente a prosa, elemento que o destaca em relação aos outros textos da coletânea. É bastante difícil entender o que realmente está acontecendo nas páginas, de modo que, em certo momento, o leitor tende a abstrair esse detalhe e embarcar na experimentação do autor. Como ponto fraco, eu apontaria uma certa incompletude do texto, que desperta mais perguntas que respostas ao final da leitura.

Névoa e Sangue – Nazarethe Fonseca
Os vampiros não podiam deixar de dar as caras. Na história ambientada na era vitoriana, um rico chupador de sangue desenvolve uma extrema obsessão por uma criada, Mary, que obviamente desconhece as necessidades sanguinolentas de seu patrão. O conto apresenta vampiros à moda antiga, do tipo que não tem escrúpulos quanto a matar para se alimentarem – nesse sentido, é uma sacada bastante irônica da autora batizar o vampirão protagonista de Edward. A obsessão, veículo condutor da narrativa, não me pareceu bem construída; nunca conseguimos entender realmente o que Mary tem que excita tanto seu empregador-vampiro. O texto não tem grandes atrativos, mas também não apresenta falhas monumentais. Divertido, pouco mais que isso.

O Incrível Congresso de Astrobiologia – Cris Lasaitis
Nesse breve conto – o menor da coletânea –, a autora do bacaníssimo “Fábulas do Tempo e da Eternidade” (já leu minha resenha?) apresenta a bióloga Lima C., convidada para o MCXI congresso de Astrobiologia por seres que nunca sabemos realmente quem são. Trata-se de um texto simpático e imaginativo, quase todo conduzido (e bem conduzido) em segunda pessoa, que versa sobre a pequenez humana em relação ao universo. Para ser lido de uma vez só.

Brazil Reloaded – Antonio M. C. Costa
Ambientado nos Estados Unidos décadas no futuro, o conto segue o ex-presidiário Jamal, que se envolve numa situação fora de controle após aceitar fazer um arriscado serviço para uma célula política radical. O texto de ritmo ágil é o mais recheado de ação entre todos os da coletânea, embora esta nem sempre soe convincente. Por outro lado, o cenário criado pelo autor é curiosíssimo: nele, os EUA são tudo menos a potência de hoje, e país como Brasil e China ocupam o lugar antes pertencente aos yankees. Há momentos divertidos, sobretudo quando entra em cena o capitão Nascimento – qual semelhança com aquele capitão Nascimento é mera coincidência, ou não –, que trás boas doses de brasilidade à narrativa.

Bons Inimigos – Claudio Brites
Um dos textos mais complexos do livro. A narrativa não linear se concentra em três desconhecidos que uma dia acordam num ambiente fechado, juntamente com um cadáver que inicialmente não se sabe quem é. Através de flashbacks vamos entendo, bem lentamente, o que os levou àquela situação. Texto muitíssimo bem conduzido, prosa sólida e estilosa, trama sombria e carregada de suspense. O único problema, a meu ver, é a narrativa paralela, que acompanha uma tribo de índios durante a complexa preparação para um ritual de execução. O final causa dúvida e estranheza, pois não se enxerga ligação entre as duas, além de certa semelhança temática, o que torna a experiência um pouco decepcionante. Abro o parêntese, no entanto, para um possível não entendimento da minha parte.

A Chave – Renato A. Azevedo
Uma ciber-mercenária em missão a mando de um ciber-mafioso se lança contra diversos ciber-inimigos numa ambiente virtual que pode ser fatal. Conto de pegada ágil e bastante divertido. A trama vai ganhando novos contornos e proporções, e o que se pensava simples vai se mostrando mais e mais complexo. O autor peca na condução dos diálogos, excessivamente expositivos em sua maioria, e também em certa cena de ação que envolve uma corrida de motos, que, apesar de muito bem escrita (sugando elementos dos videogames), não acrescenta muito à trama. Os personagens são estereotipados e os caras maus são maus e pronto. O texto fica melhor do meio para frente, quando as primeiras reviravoltas surgem. A reviravolta final, no entanto, me pareceu um tanto forçada.

O Turista – Erick Santos
O editor da Draco faz sua estreia como autor num conto que, junto com o de Brites, forma uma dupla e tanto. A narrativa em forma de quebra-cabeças acompanha um homem em suas andanças na Europa, enquanto lida com algumas mulheres e as próprias pirações. É o tipo de texto que convida, ou melhor, clama por uma segunda leitura para que se consiga encaixar as peças em seus devidos lugares, destacando-se também pela escrita seca e carregada de melancolia. O autor realmente consegue delinear o isolamento do personagem e mergulha o leitor na neura de descobrir, afinal de contas, o que está acontecendo com ele. O que não é tarefa simples, dada a não linearidade e a fragmentação do texto. Esperemos que o editor se aventure mais vezes como autor.



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