Renato.Augusto 13/10/2023
Um livro romantizando o militarismo e morrer na guerra
A história do livro se passa na Terra, no futuro, em uma sociedade pós 3ª Guerra Mundial, os governos todos enfraquecidos abriram espaço para os militares veteranos de guerra assumirem o poder.
A sociedade que foi construída por esses militares era uma ditadura em que você só poderia ser um cidadão completo (com direito a voto e a ocupar cargos políticos) se você fosse um militar reformado, e para os criminosos, dependendo do crime cometido você poderia ser açoitado ou até mesmo executado em praça pública. As escolas, assim como as escolas brasileiras durante a ditadura militar, tinham uma disciplina de "Educação Moral e Cívica", chamada no livro de "História e Filosofia da Moral, ministrada por um militar reformado e que indocrinava os estudantes com as ideias vigentes do governo. Após se formar, se você resolvesse se alistar, também receberia toda a indocrinação possível do serviço militar, para que, quando saísse e ganhasse o direito de votar, sempre votasse no programa do governo. Imagina se todas as pessoas do mundo que pudessem votar fossem iguais nosso querido ex-presidente Bolsonaro, que maravilha seria.
Durante a trajetória do protagonista, o planeta Terra entra em Guerra com uma raça alienígena de seres que parecem insetos ou aranhas, essa raça chegou a atacar o planeta Terra e destruir a cidade de Buenos Aires, mas antes disso já haviam ocorrido batalhas entre os aliens e o nosso planeta. Quem são esses aliens exatamente? O que eles querem? Como o conflito começou? QUEM começou o conflito? Nenhuma dessas perguntas é respondida no livro, ele segue estritamente o ponto de vista de um membro do exército, que no caso fica totalmente no escuro de por que e contra quem está lutando.
Ao longo do livro, vários dos soldados companheiros do protagonista morrem em batalha, às vezes ele lamenta a morte, às vezes só comenta do ocorrido ("fulano comprou a dele"). Tão logo isso acontece, alguém é promovido pra entrar no cargo que ficou vago.
Em livros assim, você espera que cedo ou tarde aconteça alguma coisa para subverter toda a narrativa e mostrar as falhas de uma sociedade militarizada desse tipo, e eu fiquei o livro inteiro esperando isso, mas não é o que acontece. O protagonista Johnny acaba gostando do que ele faz, todas as ações do exército são enaltecidas no livro inteiro e o exército é retratado como um lugar composto apenas por pessoas heróicas e altruístas. Ou seja, o conteúdo do livro é o que realmente o autor pensa, ou pelo menos chega perto. Lendo discussões na internet entre pessoas bem mais entendidas de Heinlein, ao que parece a visão política dele se aproximaria mais de anarcocapitalismo, o que explica muita coisa.
Em 1997 foi lançado o filme homônimo ao livro, a história desse filme diverge do livro em vários pontos, porém ainda assim as ideias gerais da história do livro são exploradas, com a diferença que o diretor do filme tem bom senso e satiriza tudo do começo ao fim, (além de ter cenas de ação bem legais). Por isso eu recomendo o filme bem mais que o livro.