spoiler visualizarLidiany.Mendes 11/03/2024
Envolvente
Escolhi esse livro como parte do meu projeto pessoal de ler escritores de países que nunca li.
Chimamanda Ngozi Adichie estava no meu radar a certo tempo, mas a obra que mais me chamou a atenção foi Hibisco Roxo.
Aqui conhecemos a história de Kambili e sua família. A história se passa na Nigéria colonizada pelos ingleses e, agora, vivendo os efeitos dessa colonização.
Trata-se de uma história que poderia ter acontecido em qualquer lugar, pois os temas abordados não estão limitados aos países africanos ou colonizados. A violência doméstica é a intolerância religiosa acontece também na Europa e nos Estados Unidos.
O mérito do livro é trazer esses temas e nos apresentar uma Nigéria que muitos de nós sequer sabia que existia. Foi maravilhoso conhecer, ainda que de forma breve, um pouco da cultura igbo.
O primeiro impulso de quem lê o livro é julgar o pai de Kambili e a Igreja Católica de forma severa. Para muitos a morte do pai de Kambili foi mais que merecida, porém, acredito que a reflexão possível seja ainda mais profundo.
Julgar o pai de Kambili ou a Igreja ou, até mesmo, o cristianismo é se igualar ao extremismo que permeia a história.
O pai de Kambili é o produto de uma colonização que se baseou no desprezo do diferente e que apresentou um cristianismo tão distante do Amor proposto pelo Cristo que se mostra caricato. Na terrível cena em que o pai castiga os filhos com água quente temos uma pequena noção do que ele passou com os padres que o educaram. A contradição é evidente. O pai se sente grato aos missionários que o educaram de forma tão severa, pois acredita que isso fez dele um homem próspero e temente a Deus. Ele é bom e caridoso com a comunidade. Ele acredita, sinceramente, que a violência que emprega em sua família é para o bem deles, assim como a violência que sofreu fez "bem" a ele. Ele não conheceu o "verdadeiro" Cristo e seu Amor alegre e pacífico. O que ele conheceu foi a intolerância que divide e causa dor. Em verdade, ele não aprendeu a amar.
Quanta sabedoria nas palavras do velho pai, o avô de Kambili! Como é possível acreditar em uma "fé" que ensina o desprezo ao próprio pai? Só isso já seria o bastante para questionar a realidade vivida pelo pai de Kambili. Porém, ele foi doutrinado demais para ser capaz de fazer isso. É exatamente por isso que doutrinações são terríveis. Impedem as pessoas de pensar por si mesmas. Nossas vivências nos moldam. Não podemos nos esquecer disso.
O contraponto da história é tia Ifeoma e seus filhos que vivem um cristianismo mais próximo da proposta de Cristo. Uma fé tolerante, compreensiva e com mais Amor.
Percebam que o problema aqui não foi o cristianismo em si, mas as pessoas e suas deturpações. Aliás, o problema geralmente está nas pessoas e na interpretação que fazem das coisas.
Para finalizar, gostaria de destacar a escrita da autora. Ela escreve de forma muito envolvente, suas descrições são relevantes e sua linguagem chega a ser poética em alguns momentos.
Uma leitura recomendada, mas precisa ser feita com Amor, pois já tem intolerância demais no mundo.