Mariana 29/05/2018O futuro nos aguarda <3Saga Brasileira é escrito por uma jornalista, a Miriam Leitão, que defende que o jornalismo econômico tem como função traduzir o danado do economiquês pra toda a população. E é assim o texto jornalístico trabalhado no livro: simples de se entender e com muita informação.
O livro trata da história do Brasil na luta por uma economia de moeda estável. Ela cita dados desde o início do Brasil república, em que a inflação já era um problema com o nosso primeiro Ministro da Fazenda, Rui Barbosa, que imprimiu mais dinheiro do que devia. Fala do governo militar, de seus gastos públicos (que explodiram mas na frente) e da bagunça fiscal. Dos inúmeros planos de estabilidade para tentar controlar a inflação que esquentaram a cuca do brasileiro depois do governo militar: Sarney, Itamar Franco, FHC. Plano Real. Por fim, Lula. Fala do povo, explica como ele é a ponta final atingida por todas as decisões que são tomadas em escritórios com ar condicionado em Brasília. Foi ele que teve poupança tomada, que passou por inúmeras moedas diferentes e por preços que pareciam coisa de louco. Que enfrentou o caos até alcançar a segurança da estabilidade.
"Brasil e Brasília às vezes se desconectam. O país já viu isso. Várias vezes verá. Na política; na economia. É como se um dos dois, por uma fissura do universo, por um distúrbio no espaço-tempo, escapasse para outra dimensão. Capital e país correm assim juntos, mas em mundos paralelos. Não se veem, não se entendem."
Sarney, primeiro presidente civil após 21 anos de ditadura, dependia da economia como um dos critérios centrais para a população confiar no governo: os militares tinham saído do poder, mas estavam logo ali na espreita para qualquer desleixo. Congelou os preços para tentar acabar com inflação; não ouviu os economistas por popularidade política. Inflação anual acumulada chegou a 5000% (pra a gente ter uma ideia, a inflação de 2017 fechou em 2,95% ao ano). No fim de seu governo, Miriam descreve: "o país estava a um passo da oficialização do escambo." (1990)
Collor. Campanha suja contra Lula, populista porém distante tanto da oposição quanto do empresariado tradicional. Congelou poupanças, em um ato de violência contra o povo brasileiro. Abriu exceções, as chamadas "torneirinhas", em um país de distribuição de privilégios e concentração de renda. Como ponto positivo, iniciou o processo de abertura econômica (tanto o empresariado tradicional da FIESP quanto os sindicatos dos trabalhadores eram contra), que deu início à modernização do capitalismo brasileiro e abriu caminho para a estabilização.
"O país que tinha lutado contra a ditadura por 21 anos, que chorara Tancredo Neves, que tolerara José Sarney em nome da democracia, via seu primeiro presidente eleito transformar o país, em questão de dias, num Estado policial."
Itamar Franco. Apesar de ser contra a privatização, deu continuidade a ela. Privatizou 15 estatais. A privatização não era uma briga trabalhadores X capitalistas, era mais complexo que isso. O governo era dono de siderúrgicas, empresas telefônicas, distribuidoras de energia, bancos, a maior mineradora, estradas de ferro, fábrica de plásticos e da maior empresa brasileira: a Petrobras. As estatais eram onerosas, mal-administradas e seus cargos de diretoria serviam como barganha ("cabides políticos"). O processo de privatização em si teve consequências positivas (empresas passaram a dar lucro e pagar impostos) e negativas (monopólios e oligopólios formados, além do contingente enorme de desempregados), mas em balanço geral, foi um processo necessário para aumento da eficiência pública do país. O fim do governo Itamar lançou o Plano Real em 1994, que foi mais coerente e elaborado que qualquer outro já tentado. O início da estabilização da moeda elegeu FHC, que era ministro da fazenda, como presidente da república.
Fernando Henrique Cardoso. Deu continuidade ao combate da inflação. Enfrentou duas principais crises: a do sistema monetário e a crise cambial. Em seu governo, foi sancionada a Lei de Responsabilidade Fiscal (amém, senhores). Propôs metas de inflação e flutuação do câmbio. Precisava de um sucessor que não ameaçasse a estabilização do real alcançada até então e, pra isso, conversou com os candidatos à presidência. Negociou um empréstimo com o FMI que seria liberado só no governo Lula.
Lula. Ganhou MUITA maturidade antes de virar presidente. Apesar de correr o risco de impopularidade, deu total autonomia ao Banco Central pra controlar a inflação, como havia prometido pro FHC. Manteve a Lei de Responsabilidade Fiscal, as metas de inflação e o pagamento das dívidas externas e internas.
De forma geral, a disputa presente em todos os mandatos foi entre fazer o que é COERENTE e fazer o que é POLITICAMENTE ACEITO (tanto pelo congresso quanto pela população). Medidas econômicas, em geral, são impopulares. No entanto, muitas delas têm de transcender a popularidade política porque são necessárias para o país. Gosto do posicionamento da Miriam quando ela nos conta que o Brasil já melhorou MUITO. E que tem muito a melhorar. Me dá otimismo.
A educação é a maior aposta do século. A gente já não aceita a falta de qualidade do ensino, a carência de professores, a inexistência de computadores em sala de aula. Hoje ainda vivemos dramas primitivos como se fossem parte da paisagem. De fato, não são. "Nos envergonhamos do que ainda não fizemos. Isso mostra que os valores mudaram. Precisam mudar as políticas.", termina ela.