Thiago Varjão 28/05/2016
1928, a serpente põe seus ovos em surdina que, em breve, choca o dragão da humanidade, renascer, florescer e destruir-se em uma Nova Era, um cidadão comum que sai da cadeia após quatro anos... Berlim: desempregados, inflação, fome, um levante de miseráveis, classe operária desestruturada; marxistas, nazistas, judeus, prostitutas, homossexuais, bêbados e viciados são um só espírito, uma só nação-mãe com sete cabeças e dez chifres da puta-mor Babilônia, onde existe uma ceifeira que se chama morte, e nesse cenário se percorre a cidade ao lado de Franz Biberkopf ex-operário, cafetão, ladrão, receptador, ex-entregador de jornais da frente nacional socialista dos trabalhadores alemães (mais tarde seria chamado de Partido Nazista) e assassino... um homem fascinante, inocente e decente até a última gota de sangue... um passeio pela decadência alemã abraçada com a marginalidade das ruas esfaimadas, do romantismo no espancamento da mulher sedenta em amor, da violência traiçoeira por todos os lados, da ingenuidade infantil, da redenção, sem arrependimentos em mundo onde todos são feras, do broto podre que exala um estado de sítio, num misto onde carne e sangue se enlaçam no mais puro e vibrante amor... o braço forte que se ergue com o martelo a bramir na fronte dos cordeiros, “nu saí do ventre da minha mãe, e nu tornarei para lá. Deus me deu, e Deus tirou; bendito seja o nome do Senhor”, amém, Jó moderno Biberkopf, entre a espada de Deus e o machado do Satanás... Berlin Alexanderplatz onde o homem vive à margem da vida, uma obra-prima, certamente está no panteão dos 30 melhores livros que já li na vida...