Álvares de Azevedo

Álvares de Azevedo Álvares de Azevedo
Luciana Fátima




Resenhas - Álvares de Azevedo


1 encontrados | exibindo 1 a 1


Luciana Fátima 26/06/2009

O poeta nas mãos delicadas da crítica (por Márcia Lígia Guidin)
Alfredo Bosi afirma no belo ensaio “A interpretação da obra literária” de Céu, Inferno, que se um texto fosse transparente de sentidos, não haveria necessidade de interpretação.Ou seja, não precisaríamos nos debruçar e compreender o que quis dizer o autor, o poeta. Mas como a literatura é plena de sentidos, ela só diz a que veio se o intérprete, o leitor, o estudioso dela se aproximar com amor, respeito e competência. Só assim a maravilha interpretativa se ilumina, e a literatura cumpre sua missão.

Pois essas três qualidades, para minha alegria, estão presentes em O poeta que não conheceu o amor foi noivo da morte, inicialmente um trabalho de pós-graduação de Luciana Fátima da Silva, agora um ensaio em forma de livro. Ora, Luciana passou há muito de ex-aluna a excelente amiga. Poderia, assim, deixar-me embaçar por essa amizade e ceder à tentação tão comum de elogiar gratuitamente um trabalho que é –de verdade – sério, competente e tão bem pensado.

Quando Luciana se debruçou sobre a obra de Álvares de Azevedo, para nela estudar as relações entre amor e morte, pensei com meus botões docentes: teremos mais um trabalho de visualização do óbvio? Pois eu estava enganada. Luciana mostrou, com elegante originalidade, que os vínculos criados pelo jovem poeta entre o amor (muitas vezes erotizado) e o morrer são indissolúveis tanto quanto o paradoxo que vivia em sua própria biografia. Enquanto a juventude, com os colegas de S. Paulo, o empurrava para o hedonismo dos filhos abastados, o espírito romântico o fincava na poesia pelo tema da morte – que, prematura, fez dele um poeta interrompido.

Sem cair na tão comum facilitação interpretativa que retira da biografia do escritor as causas temáticas que lhe freqüentam a obra, Luciana compôs muito séria e competente um trabalho analítico em que a morte como solução aparece ao poeta plena de significado ligado ao erotismo – sobretudo no capítulo 3 –, com as belas análises de “Um seio que delira” ou “Pálida, à luz da lâmpada sombria”. A ensaísta percorre os versos, analisa-os sem ilusões, nem se deixa enganar pela paráfrase. Mais que isso, fez emergir reflexões que quase não são lembradas em Álvares de Azevedo: o poeta era um ávido leitor de outros poetas, cuja vida erótico-amorosa fazia força para viver vicariamente.

Conhecer melhor este grande poeta brasileiro através do estudo de Luciana Fátima da Silva é por si um grande ganho de leitura. Mas, aceitar o olhar transparente, honesto e contido com que ela estuda o poeta, é certamente para todos nós um sólido exemplo de boa e sólida interpretação do texto literário. Sim, aquela mesma que propõe Alfredo Bosi. E que, por isso, eleva a obra a sua condição maior: lugar metafórico que responde quem é o artista e o que faz ele neste mundo.

Parabéns a Luciana por este estudo. Pois o jovem poeta, tão querido de outros poetas sai dele engrandecido.

(Introdução de Márcia Lígia Guidin)

comentários(0)comente



1 encontrados | exibindo 1 a 1


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR