:: Sofia 19/06/2020???Vou começar a resenha citando parte da peça, que julgo uma sacada bem incrível: "Como filósofo, posso condenar algumas aberrações da sociedade; como cidadão, curvo-me a elas e não discuto". As Asas de um Anjo é uma crítica à sociedade materialista. José de Alencar deixa claro seu ponto de vista sobre a felicidade. É moral, vem do amor; não é material, de prazeres efêmeros. É um tema atemporal e de discussão necessária, porém a execução do texto deixou muito a desejar...
Agora, posso começar minhas críticas. Pois permanece um sentimento ao ler esta peça: revolta.
Primeiramente, minha análise da estrutura da peça:
1- Não há descrição de cenário, o que faz falta para ambientação das discussões. As personagens, de qualquer classe social, aparecem em todo tipo de lugar, ao mesmo tempo.
2- A passagem de tempo não é clara. Acredito eu que sejam 6 anos desenvolvidos no texto.
3- A distribuição de falas é desarmônica. No início da peça, as falas são todas curtas. No fim, os discursos são todos intermináveis. Não acredito que o autor tenha pensado no público que talvez não se acostumasse com a nova dinâmica do texto.
4- Não soube distinguir as personagens Araújo e Menezes, tinha a mesma relevância para as discussões, mesmo posicionamentos, mesma quantidade de falas...
Em segundo, sobre seu conteúdo:
1- Muitas das discussões são de cunho moral, sobre o que a sociedade pensa ou deixa de pensar sobre mulheres. Sobre rechaço. Se você tem o posicionamento que mulheres são livres para fazerem o que quiser (como eu), condenaria a sociedade e protegeria a liberdade da protagonista. Entretanto, a protagonista foge de TODAS as leis morais. É adúltera, vive só pela aparência, espolia a riqueza alheia, não é caridosa, maltrata seus pais doentes, abandona a filha, gargalha frente a miséria dos outros... O que pensar então, sobre a protagonista?
2- Mesmas reclamações, mesmas desculpas. A protagonista se queixa que não é feliz. Quando lhe dão alternativa para uma vida melhor, com amor e perdão, ela rejeita sem pensar duas vezes e parte para levar infelicidade a outrem.
3- Não há evolução das personagens. Mesmo mudanças drásticas na vida de todos (de riqueza/pobreza, de amor/desprezo, de divertimento/humilhação), eles não mudam seus modos de agir. Os bons são sempre bons, os egoístas sempre egoístas... Apesar de que, na realidade, tantos episódios de mágoa mudariam seus relacionamentos.
4- No fim, a protagonista é elevada à posição de santa, pelo simples motivo de chorar suas mágoas. Assim, ela recupera sua filha (isso me deixou com muita raiva, tiraram a menina do pai, que a ama, que criou sozinho, nunca a negou, só porque a mãe é mãe. Porque temos a crença de que o amor materno é maior que o paterno), os pais, alguns amigos, a vida digna, etc.
Bem, minha revolta é por ser José de Alencar o autor. Sendo qualquer outro, eu pegaria menos pesado, mas poxa... decepção.