Rashômon

Rashômon Ryunosuke Akutagawa




Resenhas - Rashômon e Outros Contos


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erika 04/03/2011

Uma prosa de muito talento e de forte carga psicológica
Finalizei a leitura de Rashômon e outros contos, de Ryûnosuke Akutagawa, em edição organizada e traduzida pelas professoras e pesquisadoras Madalena Hashimoto Cordaro e Junko Ota.

A leitura de uma obra oriental é sempre algo de enriquecimento ímpar para mim. Ter contato com um tipo de prosa que, a meu ver, trabalha com uma estética diferenciada, com uma lógica diversa daquela em geral empregada no Ocidente, e com aspectos de valor literário também distintos daqueles geralmente caracterizados no cânone deste lado do mundo contribui para “expandir” o meu horizonte de leitura – algo muito importante para alguém que está se dedicando ao estudo do Japão.

Entretando, a leitura desta obra de Akutagawa não está diretamente vinculada a nenhum compromisso de estudo, mas à curiosidade de ter acesso aos dois contos deste autor (“Rashômon” e “Dentro do bosque”) nos quais Akira Kurosawa se baseou para produzir o longa-metragem Rashômon, ao qual pretendo assistir. Queria primeiro ler o original para compreender as intervenções de Kurosawa no processo de constituição do filme. Mas a prosa de Akutagawa me fisgou de uma tal maneira, que a leitura inicial de apenas dois contos do volume se transformou na leitura do livro inteiro.

A edição já começa com um ensaio formidável de autoria de Madalena Hashimoto sobre a vida e a obra do autor, com direito a comentários sobre cada um dos contos presentes no livro. As informações sobre os conflitos reais da vida de Akutagawa e do contexto histórico de sua época também são fundamentais para a compreensão de seus contos, principalmente daqueles com fortes traços autobiográficos. O texto da professora Madalena quase que esgota o que se pode ser dito sobre esses contos, além de citar outros – ausentes na obra –, mas que são relevantes para o entendimento da produção deste autor japonês.

Fazem parte do livro:

- Rashômon (1915);
- Dentro do bosque (1922);
- Memorando “Ryôsai Ogata” (1917);
- Ogin (1923);
- O mártir (1918);
- Devoção à literatura popular (1917);
- Terra morta (1918);
- O baile (1912);
- Passagens do caderno de notas de Yasukichi (1923);
- A vida de um idiota (1927).

A seleção de textos para o livro foi extremamente feliz. Abrange períodos variados da curta produção literária de Akutagawa e destaca momentos relevantes da história do Japão, como a presença do escritor francês Pierre Loti em terras japonesas (O baile); a morte do expoente da poesia haicai, Matsuo Bashô (Terra morta); os conflitos de temática cristã no país (Ogin, Memorando “Ryôsai Ogata” e O mártir); o doloroso processo de criação literária e seus efeitos de recepção perante a sociedade japonesa (Devoção à literatura popular); além da produção de teor autobiográfico (A vida de um idiota).

“A vida de um idiota” é o conto que encerra o livro e traz consigo forte carga psicológica. É, na verdade, um apanhado geral dos principais acontecimentos da vida de Akutagawa e também uma antecipação de sua morte, ocorrida um mês depois de finalizado o manuscrito e exatamente da forma como é nele relatada.

Ryûnosuke Akutagawa foi um dos mais brilhantes autores da literatura japonesa. Nascido no ano, no mês, no dia e na hora do Dragão (por causa disso, o “Ryû” de seu nome é a leitura japonesa de dragão), carregou consigo durante a vida toda o estigma da loucura (mal que matou sua mãe), em uma época na qual se acreditava que essa doença era hereditária, e viveu uma vida conotativamente amarrado às convenções familiares japonesas, sempre com a grande responsabilidade de cuidar de todos os parentes, e cercado por pessoas psicologicamente problemáticas.

Sua produção literária mescla fortes elementos sociais do Japão não apenas de sua época, mas também faz o resgate de importantes nomes e fatos de momentos anteriores de seu país. Simultaneamente, alguns de seus escritos demonstram grande influência europeia, sem, no entanto, pôr em risco a questão de sua identidade textual, sempre muito rica nas construções psicológicas de seus personagens, além de muito bem trabalhada visualmente por meio de refinadas descrições.
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Guilherme.Oliveira 14/01/2022

A literatura japonesa não é muito explorada, ao menos eu não tive muito acesso a escritores nipônicos.

A obra com contos reunidos do Akutagawa me apresentou uma escrita muito bem estruturada e primorosa.
Sara 15/01/2022minha estante
A Vegetariana! Livro super bom de uma sul coreana. Tá longe de ser japonesa, mas já ajuda a ter uma visão legal dos escritos do lado lá do mundo. Sair da literatura européia e norte americana um caminho sem volta




Bia 14/03/2021

Efeito Rashomon
Quem nunca ouviu falar de fake news, verdade e pós verdade. O efeito Rashomon se baseia nisto... o que é verdade? As verdades dependem de um contexto e de quem conta e a quem se conta? Existe realmente verdades? O autor, neste livro, nos coloca a prova no que devemos acreditar e o que acreditar.
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Israel145 27/05/2013

Os temas dessa seleção desse autor japonês flutuam em torno dos primórdios do cristianismo do Japão, dos samurais, da literatura popular e da própria biografia do autor. Os contos estão permeados de uma beleza que só a leitura pode dar uma noção, além de terem sido escritos em um desespero mudo, uma loucura latente e um desencanto, principalmente nos contos autobiográficos que expressam bem a angústia do autor que se suicidou muito jovem. O último conto, o mais autobiográfico de todos denominado “a vida de um idiota” escrito num estilo moderno em 51 microcapítulos, exprime toda a tristeza, decepções, perdas e por fim a derrocada do autor, culminando com seu suicídio.
A influência da literatura e filosofia oriental toma boa parte das referências, e obviamente, há muitas referências sobre diversos autores japoneses, na grande maioria, ilustres desconhecidos nunca editados aqui no Brasil.
No geral, os contos do livro dão uma boa noção da qualidade da literatura japonesa e principalmente da obra do autor expondo toda sua beleza e a tragédia de uma mente genial, porém atribulada ao extremo. Como ele próprio chegou à conclusão, que o “demônio do fim do século” o estava torturando e o levou à morte prematura.
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v de vanisse 16/11/2023

Não é à toa que o cara tem um prêmio com o nome dele
Li esse livro bem uma quatro vezes só no ano de 2023. Muito boooooom!! E cada releitura foi bastante necessária, porque certas coisas eu não peguei de primeira.
Vou guardar esse livro pra sempre, foi bastante necessário pra mim.
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Marcos606 24/03/2023

Embora tenha se tornado o homônimo do filme de Akira Kurosawa de 1950, Rashomon, tira apenas algumas coisas da história original, como o roubo do quimono e a área moral cinzenta entre a morte e o roubo como tática de sobrevivência. O próprio nome "Rashōmon" vem de uma peça Noh japonesa (c.1420), que foi alterada de seu título correto, "Rajomon", para substituir o último caractere "jo" ("castelo") por "sho" ("vida ”). O enredo em si é totalmente diferente da história de Akutagawa.

Nesta história, o narrador desempenha o papel modernista de apresentar a consciência do servo do começo ao fim. Na verdade, muitos dos eventos são motivados pela interpretação do narrador dos pensamentos do servo, e não pelas ações. É a obra mais curta de Akutagawa e ainda assim continua sendo uma das histórias mais duradouras devido à sua narrativa complexa e matizada do dilema ético enfrentado por muitos em tempos de pobreza.

Como é típico do estilo de Akutagawa, ele fornece menos respostas do que perguntas. Um servo que serviu um samurai durante a maior parte de sua vida deve ser muito versado no código de conduta do samurai, que é muito rigoroso. Na verdade, uma das principais características do código é enfrentar a morte sem hesitação quando necessário. Mas neste caso, Akutagawa permite que o servo tenha uma reação emocional a um ato que parece maligno. É um exagero do ato que ele já pensou em praticar, o roubo. A mulher que arranca cabelos não está apenas desonrando os mortos de quem rouba, mas também negligenciou o possível valor da vida humana em conjunto. O servo vê roubar os mortos como uma atrocidade pior do que roubar os vivos, então suas ações são mais honrosas que as dela.

A mulher, cuja racionalização só se dá pela ameaça à sua vida, admite que se trata de um ato maligno, mas necessário. Ela não faz nenhum mal além de manchar a honra dos mortos. Que outra escolha ela tem? É verdadeiramente uma escolha entre a vida desencantada e a morte. O código de conduta do samurai se aplica quando a situação se torna tão terrível? Alguma moral sobrevive na miséria abjeta? Além disso, a racionalização das ações sobrevive neste reino inferior? Para o servo é um grande salto se tornar um ladrão, mas a mulher parecia entender que não tinha outras opções para começar. O tempo todo a chuva e a escuridão permeiam, dando a esta história uma qualidade deprimida e pessimista.
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Adriana Scarpin 26/02/2021

Tá rolando um clube do livro de literatura japonesa (mais informações na página da @quatrocincoum) e resolvi me aventurar nesse rolê porque embora eu seja grande devota do cinema japonês, ainda sou meio relapsa com sua literatura.
Este mês o clube de leitura discutiu esse livrinho de contos do Akutagawa, autor que ficou conhecido no ocidente pela transposição que Kurosawa fez dos dois primeiros contos da presente coletânea, curiosamente o Rashomon que dá título ao seu filme é só vagamente inspirado e o grosso do filme fica por conta do conto intitulado Dentro do Bosque.
Num total de 10 contos, dos quais dois deles são divididos em micro-narrativas, nenhum dos demais alcançam a maestria de Dentro do Bosque, organizados por ordem da época em que se passam, os sobre a presença católica portuguesa me causaram um leve enfado, mas os sobre escritores são bem bons, além do conto final que é biográfico e me inspirou a pensar um livro com micro-narrativas autobiográficas ficcionalizadas e o quanto isto poderia render em lirismo.
Enfim, Akutagawa é um autor interessante de narrativas curtas que infelizmente perdemos para o suicídio ainda jovem, adentrado o longo rol de escritores que sucumbiram pela depressão.
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Márcia Regina 18/09/2009

"Rashômon e outros contos", de Akutagawa

Quando comecei a ler, pensei: "vejam só, um japonês cristão".
Sei que Portugal implantou com força o cristianismo no Japão, mas confesso que sempre liguei a literatura japonesa mais com outras visões e conceitos no aspecto religioso.
Então, naquele momento, meu comentário seria: "interessante".

Porém, no transcorrer da leitura, o livro ultrapassa a curiosidade de uma visão cristã no mundo japonês. E torna-se mais profundo.

O conto "Terra Morta" retrata a morte de Bashô. Esse episódio real serve de base para um relato sobre o que somos e como reagimos frente à morte. Pelo sentimento dos discípulos perpassa o quanto o momento da morte nos toca mais e, ao mesmo tempo, menos do que imaginamos. O outro é sempre o outro, mestre ou discípulo. Somos apenas nós mesmos. Isso é nossa mediocridade e, também, a nossa força.
Gostei desse conto.

Gostei também de "Devoção à literatura popular". Neste, o final, não sei, não me convenceu...
Fechando o livro, "Passagens do caderno de notas de Yasukichi" e "A vida de um idiota" apresentam pequenas imagens quotidianas, enormes em sua significação, quadros minúsculos, alguns perfeitos.

Recomendo. Ainda que não como "muito bom".
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Mario Miranda 11/05/2021

A coletânea de Contos de Akutagawa, iniciando-se com o mais famoso, Rashomon - transformado em filme pelo Cineasta Kurosawa - é uma sublime seleção de Contos Japoneses deste que é um dos mestres da literatura japonesa.

A obra em si é curta, possui apenas 08 contos, dos quais Rashomon, Outono e O Cristo de Nanquim são de especial interesse. Não é uma literatura contemporânea, a obra é escrita ao longo dos anos de 1910 e 1920, de forma que parcela relevante da obra se baseia em um Japão pré-influência Ocidental.
Freezerburn 29/07/2021minha estante
Oi poderia me dizer quais são os contos?? Eu queria ler o Engrenagens e a Teia de Aranha mas não acho em lugar nenhum falando quais contos tem nesse livro


Mario Miranda 01/08/2021minha estante
Ambos não constam na coletânea ( bem física bem Kindle).


Freezerburn 02/08/2021minha estante
Nossa que triste, vou ter que procurar em outro lugar, obrigada pela ajuda




maria.geromel 25/03/2022

Eu gostei
acho q o único ponto fraco para mim foi muitos dos contos terem a ver com religião mas os q não tem foram muito bons
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lavien 30/03/2022

É a primeira vez que eu leio um livro de origem japonesa, e devo dizer que esse primeiro contato com a sua cultura literária me motivou a procurar outras leituras parecidas. Conhecer mais de Akutagawa e seus contos foi ótimo.
maria 30/03/2022minha estante
vendo lendo Murakami esse ano e estou gostando bastante. autor japonês renomado!




tassiane 30/08/2023

Contos!
Confesso que eu não era grande fã de contos, e esse ano decidi ler os livros dos poetas japoneses (por causa de bsd) confesso que achei que rashomon fosse uma história maior e mais detalhada, mas gostei da mesma forma, é um livro rápido e interessante de ler.
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Henrique Fendrich 14/03/2020

Eu já conhecia os dois contos de abertura (Rashômon e Dentro do bosque), que são os mais conhecidos dele e que deixam antever um escritor formidável. Comecei então esse livro com expectativa altíssima, e talvez por isso o meu ímpeto tenha sofrido um abalo, pois os demais contos me agradaram bem menos.

O que achei interessante foi a capacidade do autor em revisitar temas e histórias antigos da história e da literatura japonesa e "atualizá-los". Isso parece ter demandado uma grande pesquisa e seu esforço nesse sentido é admirável.

Digno de nota são os textos que recontam episódios tradicionais da introdução do cristianismo no Japão, uma tema que eu realmente não esperava. A abordagem parece reforçar a mensagem cristã e lembra, pelo conteúdo moral, os contos do Nathaniel Hawthorne.

Em geral, essas histórias cristãs parecem típicas do romantismo. "O mártir" é talvez a mais elaborada, com incêndios, dramas e reviravoltas, mas durante a leitura eu me lembrei do que o Heinrich Kleist fez no excepcional "Terremoto no Chile", também uma recriação cristã de eventos passados, e percebi que o conto do Akutagawa está longe de alcançá-lo.

Há contos que prestam tributo aos grandes escritores do passado e que provavelmente fazem mais sentido e causam mais prazer a quem já tenha conhecimento sobre a tradição literária no Japão e seus personagens mais destacados.

O conto que encerra o livro, "A vida de um idiota", é basicamente o testamento do autor, composto por vários "textículos" que, ainda que com uma nota mais lírica, expressam uma visão decantada da existência do próprio autor, pois o texto é autobiográfico - tudo isso viria a culminar no suicídio de Akutagawa aos 35 anos.

O existencialismo é sempre um tema que me toca, mas não cheguei a ter alguma emoção especial com a maneira que o escritor o expressou. Quero ler outro dele esse ano, "Kappa e o levante imaginário", que parece ter seleção bem diversa, para ver se a impressão melhora.
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Caroline Vital 25/10/2023

Lido em 2018
Gostei, fui ler por conta de Kurosawa. Alguns contos achei bem arrastados, mas no geral é uma boa leitura.
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Carolina 15/09/2020

Homem e obra se misturam nesse livro, um tanto de caráter auto biográfico. Akutagawa se mostrou um escritor enigmático e muito intenso, uma combinação que aprecio muito.
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