Daniely2 05/04/2024
Too close to home
Não sei o que sentir sobre esse livro. Quando a realidade de uma ficção histórica é tão perto da sua própria experiência de vida, não existe muita coisa que uma narrativa possa despertar em você. Porque a ficção e a sua vida são tão semelhantes que acabam se misturando e se confundindo sentimentalmente. Mesmo assim acho esse livro também importante pra mim por esses mesmos motivos.
Sua narrativa tem basicamente três fases, com personagens que pegam a experiência do imigrante japonês recém chegado no Brasil, o filho do imigrante, e no final o neto. Cada geração tendo experiências completamente diferentes vivendo no Brasil.
Diferentes entre as gerações, iguais entre si.
Todo avô japonês tem uma história sobre a segunda guerra, sobre preconceito, cozinha a real comida japonesa e sabe construir uma fazenda inteira do zero. Todos pais nisseis tem histórias de dificuldade de lidar com os pais japoneses, que não sabiam o idioma português e os educavam com fortes princípios culturais japoneses, enquanto tentavam seguir uma educação formal completamente diferente sozinhos. Todos os netos tem histórias sobre períodos de confusão de identidade cultural e, principalmente, se depara no início da vida adulta com a famigerada pergunta: "Ser ou não ser dekassegui?"
Eu como neta de 4 imigrantes japoneses, essa estrutura me fez refletir em como nós, os sanseis, convivemos desde sempre com a experiência das duas gerações passadas além da nossa própria. Já nascemos conhecendo de cabo a rabo a história dos nossos pais e avós como se fossem a nossa própria, já que a todo instante somos perguntados sobre isso.
O que antes eu via como chatisse, vejo agora que na verdade é um privilégio, depois que você aprende como é legal saber de onde você veio com tantos detalhes.
Apesar de para mim esse livro acabar não despertando grandes emoções ou aprendizados, tenho para mim lembranças confortáveis. Perceber que a minha vida, dos meus pais e avós na verdade foram experiências coletivas me dá uma forte sensação de pertencimento. Sentimento esse que tive muita dificuldade em ter quando era mais jovem. E o que todos nós buscamos no fim das contas é essa sensação.