Um Manicaca

Um Manicaca Abdias Neves




Resenhas - Um Manicaca


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Pablo Italo. 18/05/2012

amor de manicaca é eterno
Sem dúvida alguma, uma das leituras mais prazerosas que fiz este ano. Um Manicaca possui enredo muito bem trabalhado e um desenrolar perfeito.
As relações entre Araújo e Dona Júlia prendem o leitor e divvide (pelo menos comigo foi assim) suas opiniões. Quando estava lendo, eu hora apoiava Dona Júlia. Ver sua mocidade perdida, sacrificada pelos interesses de seu pai em um casamento com um homem muito mais velho, o qual não amava e o seu crescente ódio pelo marido em decorrência disto, levando-a a cometer o adultério.
Hora eu compreendia Araújo, quando via sua submissão completa aos caprichos de sua esposa. O único motivo que compreendo o porquê de tal submissão é o amor que ele nutria pela esposa. A idolatria levada ao extremo com que a tratava e sua enorme tristeza ao ser despresado por aquela a quem ama.
No decorrer da narrativa, somos levados a ficar com raiva do comportamento de Araújo em sua relação conjugal com Júlia, mas não agi assim. A meu ver, uma pessoa não pode ser julgada apenas porque sentia um amor doentio pela esposa, a ponto de tentar compreendê-la e perdoá-la. Por isso ele fazia de tudo para agradá-la e fazer com que ela mudasse a maneira com que o tratava.
Pesando contra o livro, destaco apenas as críticas que os personagens maçons faziam à igreja católoca (Aliás estes personagens não participavam da mais nada nas ações da história. Só apareciam para criticar as práticas católicas). Eu como católico praticante não gostei muito. Entretanto estas partes não retiraram o prazer que tive com a leitura.
"Um manicaca" (para mim) é a melhor obra da literatura piauiense. Nele, a relação conjugal foi explorada através de um prisma ainda pouco utlizado na literatura brasileira. LI, GOSTEI E RECOMENDO!
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Israel145 07/09/2012

Um manicaca, a princípio, é um documento que retrata a cidade de Teresina no começo do século XX. Recém fundada, a jovem capital é retratada nos seus mínimos detalhes a partir dos hábitos e costumes do povo, do verde de sua paisagem, nos laços com o rio Parnaíba, além dos tipos hoje perdidos por motivos óbvios, como o acendedor de lampiões, ou o condutor do burro que distribuía água em ancoretas. As festas também são bem detalhadas nessa cidade que ainda estava desabrochando na época que Abdias Neves escreveu seu romance.
Esse é praticamente o ponto mais positivo do livro. Hoje, um registro histórico desse porte é raro, senão único, dos hábitos e costumes que se perderam. Em termos literários, o livro não empolga tanto. Escrito com linguagem coloquial e fortemente influenciado pela estética naturalista, há uma forte presença de Aluísio Azevedo e Eça de Queirós no enredo, que trata do triângulo amoroso entre Júlia, Araújo (o marido) e Luís Borges, melhor amigo de Araújo e amante de Júlia. Acontece que os fatos narrados são apresentados ao leitor e a partir daí, não se desenvolvem muito, sempre remoendo as mesmas situações: Araújo é tísico, a mulher é quem manda na casa, toda a vizinhança suspeita do romance entre Luís Borges e Júlia e pronto. Fica nisso mesmo, criando uma vaga expectativa caso o adultério seja descoberto, mas só vaga mesmo, porque se é a mulher quem manda, e se Araújo descobrir, o leitor pode até prever que, ou ele vai perdoá-la, ou vai ignorar o fato.
Outro personagem que tem um papel importante no livro (não na trama) é o Dr. Praxedes, bacharel em direto, culto e maçom. E seu papel é nada mais nada menos que ser a voz de Abdias Neves contra a igreja católica da época, que rendeu a meu ver, uma das grandes falhas do livro que é o excesso de críticas ao clero. O erro na dose causa um mal estar ao leitor que se enfada com os mesmos argumentos durante o livro todo, onde o autor usa o cientificismo para rebater e condenar as práticas da época. Os demais personagens na trama são tão clichês que se percebe de cara que Abdias só os criou para interagirem com seu Dr. Praxedes, e servirem de fantoches para retratar os cristãos alienados, hipócritas e ignorantes.
Dessa galeria de personagens, nenhum é capaz de ser aquele que o leitor se identifica, pois Araújo é um chorão que passa os dias padecendo sob a tísica e sendo comandado pela mulher. Júlia é uma megera, age como a pior das putas. Luís Borges é talvez o mais escroto por trair o melhor amigo e Praxedes é o mais enfadonho com suas teorias chatas e batidas (pros dias de hoje). Sendo, que olhando por esse ponto de vista, o melhor personagem chega a ser a própria cidade de Teresina (lembra muito o lance de O cortiço, de Aluísio Azevedo), e fica a dúvida se essa tese não foi propositalmente inserida por Abdias Neves no romance.
A respeito da edição, a editora Corisco já faliu por aqui, e pelo menos nesse livro, teve a frente o pedante Cineas Santos, que se acha imbuído de uma aura de ser o semeador da cultura piauiense e se auto elevou a essa categoria destituído de toda e qualquer humildade. Seu trabalho como editor deixa a desejar. Na sua ânsia de produzir algo relevante, encheu a obra de notas ao final de cada capítulo, com essas referências copiadas de outras edições de Um manicaca e outras extremamente corriqueiras e usuais ainda nos nossos dias, como por exemplo, “ter sarna pra se coçar”, que é uma expressão corriqueira e usual no dia a dia e qualquer adulto sabe o que significa.
Pra encerrar, Um manicaca vale mais como um documento histórico, escrito de Teresinense pra Teresinense, com seu vocabulário e costumes esquecidos, mas como obra literária deixa muito a desejar.
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