Pandora 28/06/2018Eu nunca tinha ouvido falar em Banana Yoshimoto; fiz um teste literário "que livro você vai adorar desde a primeira página?" e deu "O lago". Li a sinopse, fiquei curiosa e comprei. Paralelamente, o desafio mensal de um dos grupos de que participo era ler um romance romântico, gênero do qual prefiro manter distância. A possibilidade de ler um romance não convencional entre dois jovens um tanto deslocados socialmente e de uma cultura bem diversa da nossa, me animou bastante. E posso afirmar que sim, é um livro que adorei desde a primeira página.
Chihiro é uma artista especializada em murais que nasceu no interior do Japão, de pais que nunca se casaram, pois a família de seu pai, tradicional, não aceitava o fato de sua mãe ser dona de um ritzy club, por mais chique que fosse. Este fato deixou uma mágoa profunda em Chihiro, que tão logo perdeu a mãe foi para Tóquio, na ânsia de ser uma anônima na cidade grande e não a filha ilegítima - embora reconhecida - que todos olhavam com preconceito. Já Nakajima é um rapaz super estudioso que se prepara para um PhD na área de biotecnologia, também perdeu a mãe - a quem era extremamente apegado - e que guarda um trauma do passado do qual não consegue falar, o que prejudica seus contatos sociais e sua vida romântica e sexual.
A forma como os dois se conhecem é inusitada e interessante: como são dois solitários, passam bastante tempo à janela. Morando em prédios próximos, se vêem e acenam com a cabeça. A comunicação evolui para pequenas frases que eles leem nos lábios um do outro até que passam a se encontrar na rua e por fim, após algum tempo, Nakajima começa a frequentar a casa dela, até que passam a morar juntos como amigos.
O lago do título refere-se a um lugar afastado e bucólico onde Nakajima passou uma temporada com sua mãe e para onde ele retorna com Chihiro a fim de visitar um casal de irmãos que foi importante para ele no passado. Aqui entra uma atmosfera mais mística, já que a irmã é uma espécie de sensitiva. É uma parte um tanto estranha da narrativa, um contraste à vida urbana, racional e agitada de Tóquio, mas isto só deixa tudo mais peculiar.
Pode parecer que eu contei a história toda, mas não. Não é um livro de acontecimentos, é uma reflexão sobre relações humanas, inadequação, pertencimento, amor, amizade e morte. E sobre um casal tentando se acertar no meio disso tudo.