Lodir 16/03/2011Todos os dias descobertas da ciência da nutrição são anunciadas nas capas dos jornais, nas notícias dos telejornais e em programas especializados. Tornou-se comum no jornalismo a necessidade de divulgar novas propriedades dos alimentos e novos benéficos, que aparentemente antes eram inimagináveis para a comunidade em geral. Com tantas notícias sobre o que comer e o que não comer, é comum o cidadão comum se sentir perdido no meio de tanta informação, tanto na imprensa quanto nos supermercados.
O livro “Em Defesa da Comida”, que trata justamente disso, é divido em três partes. A primeira tem como intenção introduzir o leitor à história do nutricionismo, a ciência da nutrição. Nos primeiros capítulos, então, Pollan descreve como nasceu a vontade do homem em estudar os alimentos que come, desde os primórdios até os dias de hoje. É de longe a parte mais cansativa do livro, já que, na verdade, trata-se de história. Não deixa de ser, no entanto, interessante.
A segunda parte fala, de fato, sobre as pesquisas do autor e suas conclusões sobre a nutrição. O título do livro se refere ao manifesto de Pollan em defender a comida de verdade, aquela que é plantada, cultivada ou caçada, e não o que lota os supermercados, ou seja, comida industrializada. Para ele, esses alimentos se quer podem ser chamados de “comida”, já que, de tantos aditivos químicos, são apenas substancias comestíveis. Essa parte é a mais interessante, pois o escritor faz uma grande análise da evolução ao longo dos séculos e principalmente da última década da forma como o homem se alimenta. Ele traz grandes alertas que realmente nos faz pensar sobre diversos aspectos que se tornaram normais, mas duvidosos.
Entre as mais interessantes constatações do autor, por exemplo, está a alerta de que, por trás da ciência da nutrição, existe uma indústria que está muito interessada em ganhar dinheiro com ela. Há três personagens aí: os cientistas (que precisam fazer descobertas todo o tempo), a indústria da alimentação (que precisa criar produtos com novos benefícios) e os jornalistas (que precisam dar novas notícias sobre alimentação e saúde). Dessa forma, o livro leva o leitor a uma reflexão sobre o que anda lendo. Será que podemos confiar mesmo em todas as notícias sobre alimentos que lemos todos os dias? Ou será que elas são frutos de um mecanismo para ganhar dinheiro?
A última parte do livro se assemelha muito a outro livro do mesmo autor que já li, chamado “As Regras da Comida”. O objetivo dessa parte final é apenas emitir “dicas” sobre alimentação, com base em todas as informações do livro. São bem interessantes. O autor aconselha, por exemplo, a não consumir produtos com mais de cinco ingredientes ou que tenha algum deles com nome impronunciável, como costumamos ler nos rótulos. Ele também pede que o leitor fuja no supermercado de qualquer produto que sua avó não reconheceria como comida. Há várias outras “regras” sugeridas, todas muito interessantes e que fazem todo sentido.
“Em Defesa da Comida” está longe de ser um livro de dieta ou qualquer classificação parecida. É um excelente livro sobre nutrição, e mais especificamente sua história e as lições que podemos tirar dela. É uma obra que, ao terminá-la, deve fazer o leitor pensar de uma forma bem diferente sobre tudo que envolve o assunto alimentação e, se tudo der certo, adquirir novos hábitos.