Aquela confusão louca da Via Merulana

Aquela confusão louca da Via Merulana Carlo Emilio Gadda




Resenhas - Aquela confusão louca da Via Merulana


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otxjunior 21/06/2014

Aquela Confusão Louca da Via Merulana, Carlo Emilio Gadda
No prefácio (insuportável) de Aurora Fornoni Bernardini ficamos sabendo que os críticos italianos consideram essa obra impossível de ser traduzida para outras línguas. A minha conclusão é que os editores da Record deveriam ter dado ouvidos à crítica especializada. Pois Aquela Confusão Louca (maior eufemismo de todos os tempos) da Via Merulana deve ser difícil mesmo para leitores nativos, conscientes da História política e cultural contemporânea de seu país e das variantes linguísticas do Italiano, por suas metáforas alucinantes e piadas internas absurdas. Poucas vezes vi tantas palavras significarem tão pouco, e só minha teimosia (ou mais apropriadamente, neste caso, masoquismo) pode explicar o fato de eu não ter desistido antes do (inexistente!) fim, deste assim chamado "exercício de estilo".
(O número exagerado de pontuação nesse texto é proposital: Uma forma que encontrei para homenagear a prosa de Gadda: Perceba, por exemplo, o número de ":" (dois-pontos) por parágrafo naquela confusão...)
Arsenio Meira 26/06/2014minha estante

Gostei da crítica! Sagaz e com bálsamo da ironia, permitindo-nos ler e imaginar o tédio que deve existir na obra...




Emme, o Fernando 25/07/2018

Aquela confusão louca na minha cabeça!
Nesta obra, o engenheiro e radialista Carlo Emilio Gadda faz uma colagem em que mistura os diferentes falas populares (com seus dialetos e expressões típicas) da Itália dos anos 1920. Não com o intuito de criar um realismo positivista determinista (que analisa com distanciamento a realidade), mas de envolver essa fala popular dos personagens com a fala do narrador, pondo em destaque a situação miserável dos italianos mais pobres na dificílima década de 1920.

O Pastiche (colagem e imitação não satírica de outros autores) de Gadda e o discurso indireto livre parecem ter o intuito de envolver o leitor em uma espécie de confusão linguística e estilística que, em uma análise mais profunda, levam o leitor à confusão, ao processo de deterioração e precarização que domina a vida dos personagens dessa obra.

Trata-se de um romance supostamente policial em que não se tem a intenção conservadora típica dos romances policiais de restaurar a ordem e punir aqueles que se colocam contra as relações de poder estabelecidas. Não se apontam objetivamente culpados. As condições de precariedade parecem contaminar a todos. Parecem tornar a todos, cínicos.

O narrador traz a todo momento informações absolutamente inúteis a narrativa em si, o que serve para aumentar a sensação de inutilidade de todas as ações tomadas pelos personagens.

O vocabulário é rico e bastante difícil, misturando termos populares e acadêmicos com citações ou palavras em francês, inglês, alemão, latim e até grego (sem qualquer nota ou explicação - o que não impede o leitor falante de português com um repertório mais amplo de descobrir seu significado).

Isso tudo deixa o fluxo da narrativa complexo e bastante lento. Não dá para ler de qualquer jeito ou em qualquer lugar. Muita vez o leitor sente que tem de despender uma atenção quase total à leitura. A leitura é um desafio e uma humilde aprendizagem, mas como nada possui um objetivo, nada caminha para um momento de catarse, tudo fica meio cansativo e sem sentido. Nesse ponto dá-se algo parecido com o que ocorre com a leitura de Ulisses de Joice e outras obras do modernismo e pós-modernismo: a ausência de elementos que caracterizam a narrativa ocidental (uma ordem com uma finalidade catártica, momentos de virada no enredo... ) faz que o leitor reconheça o valor literário da obra, mas ao mesmo tempo sinta sua leitura como cansativa e sem um propósito claro.
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