Alyne 11/10/2015
Justiça e seu conceito social
Enquanto procurava um título que acompanho dei de cara com Zetman entre os demais mangás da banca. Já conhecia um pouco do traço do autor e já tinha um certo interesse em ler alguma de suas obras. Além disso, algumas semanas antes, vi a JBC divulgá-lo como seu mais recente lançamento, porém já acompanhava outras séries e não pude dar tanta atenção. Apesar disso tudo, quando fiquei cara a cara com o mangá na banca, com o dinheiro livre (da minha compra que ainda não havia chegado), não deu outra. A capa desse primeiro volume é simplesmente incrível, atrai seu olhar e depois te deixa curioso o bastante sobre o significado daquele personagem. Resolvi pegar, pois sabia que ficaria com essa dúvida na cabeça e mais cedo ou mais tarde teria a curiosidade de procurar saber mais dessa estória, então era melhor comprar e ler na íntegra, mesmo. Se um mangá te atrai tanto assim simplesmente pelo gênero e pelo significado de uma ilustração escolhida para a capa, você sabe que fez um bom negócio. Agora era descobrir se faria a leitura de uma obra realmente interessante ou se teria sido apenas uma compra afobada.
Mangás adultos (classificados 18+) costumam vir lacrados para as bancas. Qual não foi a minha satisfação quando abri e vi o traço do mangá como um todo. Simplesmente fantástico, essa foi a primeira impressão. Só por essa arte a compra já valeu a pena, pensei comigo mesma.
Ao chegar em casa deixei todas as minhas leituras pra trás e comecei Zetman. A ideia era ler alguns capítulos e continuar no outro dia, mas perdi um pouco do meu sono lendo o mangá todo de uma vez. O ritmo torna a leitura muito rápida e fluida, pois alterna entre acontecimentos paralelos. Esses acontecimentos, a princípio, não fazem muito sentido e não parecem ter muita ligação, além de serem curtos. Você vai avançando na leitura e, quando dá por si, liga pontos comuns entre as duas tramas com as revelações feitas. Isso te faz parar, digerir os fatos e só então prosseguir.
Nos momentos de ápice a arte do Katsura assume seu primor: quanto mais forte a cena é, emocionalmente, mais trabalhada fica. Isso contribui bastante para expressar através dos quadrinhos a estória de Jin. Menino de rua, sem ninguém na vida além de seu avô, ele tenta sobreviver e ter uma vida normal como uma simples criança. Apesar disso tudo, ele possui instintos quase que animais: não é lá tão sociável, não é muito prudente e é muito sincero e fiel aos seus sentidos. Em alguns momentos estranha seus sentimentos e até não entende o porquê de ter memórias (algo simplesmente natural para qualquer outra pessoa). Além disso, tem uma força incrível, uma agilidade fora do normal e parece que todas as suas habilidades são muito bem desenvolvidas. Ele usa dessas habilidades, vez ou outra, pra deter bandidos e conseguir uns trocados. Nada que pareça assim tão distante da realidade de crianças pobres, que na maioria das vezes aprendem numa tenra idade a se virar e a se defender com a força, a destreza, e, por assim dizer, a violência. Jin usa suas habilidades para ajudar pessoas a recuperarem suas carteiras, a evitarem estupros, espancamentos, seja lá o que for. Para seus instintos (primários) de sobrevivência, violência pode ser resolvida com violência, desde que seja por um bom motivo. Seu avô, então, intervém nesse ponto a fim de ensinar ao neto os princípios básicos de um cidadão comum que se encaixa na sociedade. Isso tem um motivo, que será revelado no decorrer da trama. Jin aprende tudo que sabe com o avô e essa é grande parte desse volume, que conta a sua infância.
A arte, oscilando entre realismo e o traço clássico de mangás, confere uma espécie de versatilidade: nunca fica sério sem ter um momento de descontração. Isso acaba por dar um toque ainda mais profundo para os personagens: testemunhamos um relacionamento entre neto e avô como se não estivéssemos ouvindo uma estória, mas a testemunhando. Muito pode ser dito através das expressões desenhadas pelo autor. O avô, sempre em traços realistas, traz para a estória os momentos sábios, em que ensina as matérias da escola, faz livros escolares para o neto, brinca com ele, o ensina o que é respeito, o que é amor e tenta o ensinar o que é a vida, aos pouquinhos. Enquanto isso, temos Jin, sempre natural, sempre espontâneo, carismático e até meio bobo. Ele, na maioria das vezes, é desenhado no traço mangá, o que acaba por contribuir para a representação da inocência do personagem. Com isso, temos uma arte condizente à natureza dos personagens, que combina com eles. É difícil combinar dois estilos em um quadrinho sem que fique estranho, mas o cara consegue e muito bem. Aliás, quando Jin passa por momentos difíceis e situações decisivas, podemos notar o traço mudando, puxando para o realismo, de forma sutil (dependendo do quão séria a cena é). Os quadrinhos, de certa forma, acompanham o roteiro de mãos dadas e isso também faz a arte ainda mais viva. Foi a primeira vez que vi algo assim.
Enfim, ainda estou esperando para ler os próximos volumes e definitivamente irei colecionar a série inteira, mas por enquanto, pelo conteúdo desse primeiro, já posso recomendar a todos e a nota que dou é máxima. Se você procura excelentes cenas de ação, arte sequencial bem feita, temas de sci-fi e roteiro promissor, não hesite.