aline 18/06/2022
mãe quer dizer sacrifício
minha vó é a mãe mais mãe que conheço, tem uma crença ferrenha no sangue e nos laços estabelecidos por ele toda a vida. a tolerância absoluta, a gentileza, a cumplicidade. coisas que por mais que eu tente não consigo entender e que até me revoltam às vezes, ela faz quase como se fosse compelida por uma força etérea. éramos seis me fez enxergar pelo prisma dessa mãe que tenta a todo custo costurar os filhos na sua rotina pacata, árdua e com escassos momentos onde não há preocupação com dinheiro ou com saúde, onde se procura algum brilho de felicidade nas coisas simples. mas como a vida nos ensina e como ouvimos falar vez ou outra: as mães criam os filhos para o mundo. e invariavelmente, dona Lola, a protagonista, vê os seus se dispersando pelo tempo, convocados pelos seus próprios ideais e paixões. através da narrativa em primeira pessoa, o leitor sente a dor excruciante dessa mãe, que se pergunta muitas vezes se todo o seu sacrifício foi em vão ao ver-se sozinha já ao fim da vida, e que encontra consolo no entendimento de que seus filhos são felizes apesar de não terem seguido o caminho que ela imaginou para eles. o livro tem passagens lindas, com um forte teor religioso, e apesar de eu não ser ligada a nenhuma crença me emocionei muito (em parte por ter associado a protagonista à minha vó). a autora também introduz algumas discussões políticas pontuais, embora eu tenha sentido um certo tendencionismo entendi que ela estava sujeita ao pensamento de sua época. no geral, gostei muito da leitura e chorei horrores com o final.