Poema sujo

Poema sujo Ferreira Gullar




Resenhas - Poema Sujo


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Yuri.Selaro 23/06/2023

Bárbaro
Fiquei um bom tempo longe dos livros de poesia, e voltar a esse gênero com Poema Sujo, de 1975, foi a escolha perfeita. Além dessa edição da Companhia das Letras ser belíssima, também traz um prefácio escrito pelo Antonio Cícero (deus) que contextualiza toda a trajetória do Gullar até a escrita do livro.

O conteúdo do poema muito me interessa: o passar do tempo, a repetição dos dias, a reprodução dos assuntos, os vários dias dentro de um só - tudo isso visto sob a lente observadora e crítica do Gullar, cuja a escrita por si só é acessível e fonética; enquanto lia senti vontade de ler em voz alta.

Uma coisa que senti falta na minha interpretação foi perceber mais o caráter político do poema - embora sabendo do contexto em que o livro foi escrito. Impossível absorver tudo de uma vez só, e em futuras releituras tentarei olhar mais por esse lado.

Dos trechos que mais me tocaram dou uma pincelada:

1.
[?]
Como se o tempo
durante a noite
ficasse parado junto
com a escuridão e o cisco
debaixo dos móveis e
nos cantos da casa
(mesmo dentro
do guarda-roupa,
o tempo,
pendurado nos cabides)
[?]

2.

[?]
A noite nos faz crer
(dada a pouca luz)
que o tempo é um troço auditivo.
Concluímos os afazeres noturnos
(que encheram a casa de rumores,
inclusive as últimas conversas no quarto)
quando enfim a família inteira dorme -
o tempo se torna um fenômeno
meramente químico
que não perturba
(antes propicia)
o sono.
[?]


3.
[?]
o tempo
não escorre nem grita,
antes
se afunda em seu próprio abismo,
se perde
em sua própria vertigem,
mas tão sem velocidade
que em lugar de virar luz vira
escuridão;
o apodrecer de uma coisa
de fato é a fabricação
de uma noite:
seja essa coisa
uma pera num prato seja
um rio num bairro operário
[?]

Obs: proibido considerar esse relato como spoiler, pois as poucas palavras dessas 109 páginas dizem muito mais do que qualquer mera explicação.

Nota mil.
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Lu 03/06/2023

Excelente
Uma viagem riquíssima por memórias saudosas de um poeta cheio de sensibilidade e apaixonado por sua terra
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Max 23/05/2023

Sujo...
Uma das importâncias desta obra está no contexto de sua escrita. Feita no exílio, em Buenos Aires, o autor sob risco iminente de ser assassinado pela ditadura brasileira e argentina, precisava escrever um libelo de angústia, de liberdade, ante a possibilidade da morte.
O que queria o poeta?
Voltar pro seu querido Maranhão, para os seus, exilado que estava de sua pátria amada, tomada pela ditadura arbitrária, sadista e sangrenta.
Débora 23/05/2023minha estante
Sempre perfeito!??


Max 24/05/2023minha estante
Obrigado, Débora! ?


Regis 24/05/2023minha estante
Parabéns por essas palavras cirúrgicas, Max. ?????


Max 24/05/2023minha estante
Obrigado, Regis! ?




Vitorialof 22/05/2023

Sensacional
?Meu corpo feito de carne e de osso.
Esse isso que não vejo,
maxilares, costelas,
flexível armação que me sustenta no espaço
que não me deixa desabar como um saco vazio? [?]
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Raphael 23/04/2023

Poderoso
Como sou bastante cru em matéria de poesia, certamente eu devo ter apenas arranhado a superfície desse poema, reputado como a obra-prima do Gullar. Mas gostei bastante. Para mim, que tive a oportunidade de conhecer São Luís do Maranhão, a leitura me trouxe uma gostosa e evocação da cidade, com os nomes de ruas e praças pelas quais perambulei, com a descrição dos sobrados, do Cais da Praia Grande, com a alusão ao silêncio de Alcântara. Um poema sobre a impermanência das coisas, sobre a deterioração do mundo, sobre a memória de coisas que se perderam no tempo. Um inventário de coisas perdidas, porém resgatadas com a força criadora da imaginação poética, ao longo de um extenso poema que ora se apresenta de maneira comportadinha, metrificada; e ora subverte completamente esse tipo de convenções. Um texto que vou querer reler, com toda certeza.
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MaSantana 08/04/2023

Esse foi meu primeiro contato direito com o autor e apesar de não ser meu estilo de poesia gostei bastante. A forma como a escrita flutua entre o passado e o presente e o modo como o autor consegue te levar exatamente a cada época foi o que eu mais gostei. Eu consegui me sentir na cidade que era descrita Gullar, sentir que estava naquele local e que vivia toda a passagem de tempo. Isso fez toda diferença na leitura.
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ensaiodelivros 28/01/2023

Boa escrita
É conflitante fazer uma resenha sobre esse livro porque ele possui partes difíceis de avaliar.

Particularmente eu não sou fã de poemas, não é um gênero literário que me agrada. Decidi ler somente porque o autor é brasileiro e tinha muitas indicações que esse era um grande livro e etc. A escrita é bem confusa e elitista onde em diversos momentos ela é bonita fazendo descrições sobre histórias de pessoas reais de forma breve, transcrevendo críticas sobre o contexto político da época, tudo de forma bem poética tal como o gênero, só que não me cativou muito ? e em outros pontos ela é entediante e quando eu comecei a achar que estava "apreciando" a obra, o autor escreve um trecho RACISTA, algo tão nojento, que eu não tenho como descrever aqui. A partir daí foi ladeira abaixo, é um quebra-cabeça baixo astral, quando o leitor acha que vai engatilhar, derrapa de forma dolorosa e sem controle.

Nota: 3 pela escrita e críticas ao sistema político.
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Marina Fülber 13/01/2023

Eu já tinha tido um breve contato com o Poema Sujo há uns 10 anos atrás, quando participava de um curso de escrita criativa e o tema era poesia marginal, embora agora eu tenha visto que Ferreira Gullar não trata exatamente disso. De qualquer forma, na época, com minha pouca referência poética e vários preconceitos literários, não dei muita atenção e não botei muita fé.
Um vizinho me emprestou esse livro, demorei alguns meses pra quebrar as impressões de tanto tempo atrás, mas essa semana decidi ler e me surpreendi: não esperava que fosse gostar tanto. Inclusive, a imagem que eu tinha dele era completamente outra, e completamente equivocada. Me encantei com a forma de juntar e jorrar os acontecimentos, as lembranças, as palavras, os estilos diferentes, e sabendo de todo o contexto pessoal e social em que essa obra se insere e qual foi a sua intenção ao ser escrita. Só não devorei tudo no mesmo dia porque fui interrompido e tive que largar, mas, na primeira oportunidade, peguei o livro de volta pra terminar o mais rápido possível, numa ânsia de saber logo o que todo o poema diz. E foi incrível. Me trouxe muita inspiração, pensando em coisas que eu eu tenho planos de escrever, me abrindo novos caminhos que ainda não tinha pensado; além de considerar uma obra ótima, foi uma leitura que me expandiu, e prezo muito isso nas obras literárias. Recomendo muito.
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Joy 19/12/2022

Primeiro contato que tive com a escrita de Ferreira Gullar e gostei bastante da maneira que ele conduziu os versos, alguns mais longos, outros não, todos carregados de muitas memórias e peso político. Uma boa leitura.
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Raquel.Montef 08/10/2022

Um Absurdo Lírico
*Esta resenha será totalmente baseada nas minhas experiências ao ler "Poema Sujo".

A começar pelo prefácio, podemos nos conectar com o momento histórico que está em evidência no Brasil e no mundo; regimes políticos autoritários, miséria, pobreza, falta de dignidade humana...literalmente "homem primata, capitalismo selvagem" como na música do grupo Titãs.

Como o próprio autor Ferreira Gullar descreve quando decorre sobre o processo da escrita do poema, as palavras são vomitadas.
À princípio, soam meio sem nexo ou ligamento, porém ao continuar a leitura, encontramos uma situação até engraçada: estamos Imersos em uma espiral e tanto!

A dispersão das palavras e versos, revela algo inovador para uma obra da década de 70...Com certeza Gullar com esta obra, assume uma posição de vanguarda no quesito forma e disponibilidade de poemas.

Tamanha liberdade ao despejar as "merdas" e desgraças da população nos versos, demonstra que Gullar tinha como prioridade chocar a sociedade da época, deixando todos inundados de verdades duras de engolir.
E falando em engolir, uma linguagem explícita e chula é utilizada diversas vezes para trazer mais clareza e popularidade aos cenários, o que no início assusta um pouco, mas logo traz à tona a questão da ousadia e intimidade do poeta ao escrever.

Um pouquinho dos meus versos favoritos:

"Mas vem junho e me apunhala
vem julho me dilacera
setembro expõe meus despojos
pelos postes da cidade
(me recompondo mais tarde,
costuro as partes, mas os intestinos
nunca mais funcionarão direito)"

Com certeza foi um dos livros que mais me fez pensar e querer me desafiar a largar os padrões e as coisas que impõem sobre nós.
Me relembrou também sobre a importância das histórias e processos por trás das coisas.
A sensação de terminar de ler a última palavra deste livro se tornou simplesmente inesquecível, algo que supre e extrapola expectativas, genuinamente orgástico.
^^
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lelinha 10/09/2022

!!!!
Corpo meu corpo corpo
que tem um nariz assim uma boca
dois olhos
e um certo jeito de sorrir
de falar
que minha mãe identifica como sendo de seu filho
que meu filho identifica
como sendo de seu pai
corpo que se para de funcionar provoca
um grave acontecimento na família:
sem ele não há José de Ribamar Ferreira
não há Ferreira Gullar
e muitas pequenas coisas acontecidas no planeta
estarão esquecidas para sempre
.

gostei, foi uma leitura rápida, mas complicada, não é meu estilo de livro
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Adeola 22/06/2022

Me surpreendeu!
Tive que ler devido um trabalho da faculdade e no final acabei apaixonada pela obra e pela escrita do autor. A maneira como os poemas ou o poema, é escrito, é muito ousada, diferente e cativante.

O modo como ele aborda diversas criticas a ditadura militar e aos efeitos da segunda guerra em são luiz do maranhão é genial, o autor consegue mostrar seus posicionamentos como na frase "stalingrado resiste" sem fazê-lo de maneira panfletária e simples.

Virou um dos meus favoritos, um presente que conheci através do curso de letras.
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letAcia1172 19/06/2022

o eterno buscar-se e perder-se em si mesmo
aqui jaz um relato de como é viver a experiência humana de deterioração constante em um contexto tão particular como o do brasil nos anos 70.

o quão insignificante somos enquanto seres individuais, o quanto somos feitos reféns do processo de apodrecimento, o quanto esse processo é plural e heterogêneo para todas as gentes e existencias e coisas que nos cercam. o que eu sou? o que me compõe? por que eu sou? toda essa angústia e todo esse desespero contido nos versos de gullar está em perfeita harmonia com muito do que eu estou sentindo agora. acredito que esse era o momento certo para experienciá-lo pela primeira vez (obrigada rayron por ter me emprestado).

"poema sujo mereceria ser chamado poema nacional, porque encarna todas as experiências, vitórias, derrotas e esperanças da vida do homem brasileiro. é o brasil mesmo, em versos "sujos" e, portanto, sinceros". - otto maria carpeaux.
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Gabriel 13/06/2022

Esse poema me impactou de uma maneira que eu não estava preparado. Com uma potência simples e humilde Gullar nos destroça. Poema sobre o povo, a cidade, a memória, nossas entranhas... A beleza e a imundice do cotidiano. Vida real! Uma das melhores leituras dos últimos tempos.
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Kesio.Rodrigues 20/05/2022

O Poema Brasileiro do maior poeta Brasileiro
"(...)
Corpo meu corpo corpo
que tem um nariz assim uma boca
dois olhos
e um certo jeito de sorrir
de falar
que minha mãe identifica como sendo de seu filho
que meu filho identifica
como sendo de seu pai
corpo que se para de funcionar provoca
um grave acontecimento na família:
sem ele não há José de Ribamar Ferreira
não há Ferreira Gullar
e muitas pequenas coisas acontecidas no planeta
estarão esquecidas para sempre"
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