Poema Sujo

Poema Sujo Ferreira Gullar




Resenhas - Poema Sujo


66 encontrados | exibindo 61 a 66
1 | 2 | 3 | 4 | 5


David Ariru 08/05/2017

Ousado
Um grande poema, e não só literalmente. Um poema onde o autor se expressa com grande liberdade. A estrutura é totalmente anárquica, não levando em conta o número predeterminado de versos em uma estrofe ou o número total de estrofes do poema, além de desprezar também as rimas forçadas. Sem seguir um modo determinado e rígido de organização, a leitura se apresenta às vezes fluida e com traços de prosa, às vezes com versos dispostos a construir uma estética visual, algo bem comum no concretismo. Alguns versos têm apenas uma ou duas palavras, até mesmo um monossílabo, além disso, nem sempre estão rentes à margem esquerda da folha onde normalmente deveriam estar. Aliás, no poema, o sentido da palavra “deveria” é desconsiderado, nada ali é como deve ser, mas como Gullar quis que fosse.

Já no início da leitura se percebe a quase absoluta ausência de vírgulas — pausas indicadas —, o que nos leva a investigar por outros meios possíveis que não seja esse, onde começa uma frase, onde ela termina e qual os sentidos possíveis que essa ausência de vírgulas pode gerar em cada contexto. É um efeito similar ao que acontece nos textos de Saramago, os quais levam o leitor a parar para analisar quem está falando; qual personagem está com a palavra. Ou seja, a estrutura do texto é viva, efetiva, parte integrante e indissociável do poema e de seu conteúdo. Assim, mesmo renegando as estruturas clássicas e aclamadas da poesia, a estrutura do Poema Sujo não só não deixa de ser poética, como também se torna mais que isso; livre e inovadora.

O conteúdo carrega também a mesma liberdade da estrutura, e narra com palavras simples a simplicidade de seu passado e de sua terra natal. Fala do autor na cidade, da cidade nele e da cidade em si; dela mesma, como suas ruas, esquinas e moradores, é a cidade com seus personagens e como personagem. E ele faz isso sempre com palavras simples, sem enfeitar o poema, sem nem mesmo usar uma ênclise ou uma mesóclise durante todo o texto. É o tipo de livro que não exige um dicionário para ser lido, onde a intuição é a grande ferramenta para o leitor entender o poema; sentir o poema.

Ferreira Gullar, em exílio, em Buenos Aires, em solidão, fez o que talvez só nesse contexto poderia ter feito. Talvez só na solidão em que se encontrava, talvez só sentindo o que sentia naquele momento da vida pudesse ser tão livre para escrever o que quisesse e como o quisesse; para ousar como ousou. Por isso descrevo o Poema Suja sobretudo como um poema ousado.

comentários(0)comente



Luciana Lís 27/02/2015

"claro claro / mais que claro / raro / o relâmpago clareia os continentes passados"
Se a poesia desautomatiza a percepção, o "Poema sujo", de Ferreira Gullar, propõe clarões líricos e intensos. Belíssimo poema que navega pelas lembranças do autor e atravessa a compreensão sensível de sua memória, cujo universo poético é a cidade de São Luís, onde viveu infância e juventude; o homem exilado que vive, em 1975, na cidade de Buenos Aires; e o poeta: "meu corpo / que deitado na cama vejo / que medes 1,70m / e que sou eu: essa coisa". Gullar não vai até o passado, mas suas lembranças é que irrompem a sua solidão forçada, um lampejo sensível que está fragmentado em diversas vozes - corpo, língua e memória - construindo versos que embaraçam o passado e o presente de modo emocionante.
As múltiplas ações da memória e seus vínculos criam um fluxo de sensações caóticas, as impressões enriquecem essa viagem lírica e pessoal, denotando que o poeta não está imune ao esquecimento, "pelas falhas do assoalho e vão conviver com ratos / e baratas ou enferrujam no quintal esquecidos entre os pés de erva cidreira / e as grossas orelhas de hortelã / quanta coisa se perde / nesta vida". "Poema sujo" é a obra de maior expressão do autor, a qual Vinícius de Moraes tratou como "poema sujo de vida".
Por: @lucianalis

site: Para mais resenhas: instagram.com/coletivoleituras
comentários(0)comente



Lúcia Ramos 11/01/2015

Autor da letra de uma das minhas composições favoritas.
Conheço a letra que foi feita para O Trenzinho do Caipira, parte das Bachianas Brasileiras nº 2 de Villa Lobos, que é uma de minhas composições favoritas. Mas não sabia que a letra era de Ferreira Gullar. Já tinha lido algumas coisas soltas dele, mas depois desse livro, e de saber a origem da letra do Trenzinho do Caipira, fiquei ainda mais fã.
CrisVieira~ 03/02/2015minha estante
Um ex-professor meu, doutor em História... e violonista profissional (vai entender...) fez sua tese de doutorado sobre a obra de Villa lobos. Eu achava incrível a paixão dele, dizendo que passava as horas livres ou lendo as partituras das obras, ou pesquisando mais sobre Villas Lobos, ou escrevendo sobre tudo o que descobria - e achava válido - em sua tese. Mas o que eu mais gostava, Lúcia, era dele falando que quando o cérebro não mais processava as informações, ele largava tudo... pegava o violão e, "de cabeça", dedilhava algum trecho das Bachianas. Foi depois de conhecer essa figura fantástica que eu decidi colocar na minha bucket list aprender a tocar violão. Mas assim que der espaço na meta, encaixo este livro também.




Augusto 03/01/2015

"SUJO"
Em apenas um poema que tem algumas pausas, Gullar fala de sua vida de exilado e de lembrança de sua infância, de sua família e de São Luís, sua terra natal. Resume em suas páginas o horror do exílio. "Sujo" porque não mede palavras, "cru", "duro". É um relato de um dos períodos mais nocivos para a arte brasileira.
comentários(0)comente



Marcos Faria 02/10/2013

Na primeira vez que tive o Poema Sujo nas mãos, eu era tão criança que nem sabia o que era cu e porque era feio ler aquilo, ainda mais em voz alta, na sala. Muito menos podia entender o resto. Depois veio a adaptação do Milton Nascimento para Bela, bela, e a informação do que tinha sido o Poema e do que ele tinha representado para a cultura brasileira, e tal. Mas só agora fui ler em voz baixa e de fato entender do que se tratava. É uma daquelas obras que trazem a marca do momento histórico muito nítida e que mesmo assim permanecem atuais. Não porque o Maranhão dos Sarney seja o mesmo da infância de Ferreira Gullar (embora certos aspectos sociais sejam ainda muito relevantes), mas porque o poeta exilado no espaço está também exilado no tempo, o que o deixa perdido diante da cidade que se move, do rio que se move, do mundo que se move. Nesse sentido, a perplexidade do Poema Sujo é permanente.
Não, não ouvi o CD que acompanha o livro (José Olympio, 2006) com o Gullar declamando o texto.

site: http://almanaque.wordpress.com/2013/10/02/meninos-eu-li-39/
comentários(0)comente



Gabs Mantelli 26/02/2011

Para mim, o livro é, antes de tudo, uma conversa sincera e solitária com o tempo. Ferreira nos brinda com uma poesia crua e belíssima. Ótimo para ler e reler a vida inteira!
comentários(0)comente



66 encontrados | exibindo 61 a 66
1 | 2 | 3 | 4 | 5