spoiler visualizarMorgana - Tristessa Reads 13/07/2013
O amor trágico
“Não, senhores, nunca ouvireis falar de mais belo ardil de amor.”
“Quereis ouvir, senhores, um belo conto de amor e de morte? É de Tristão e Isolda, a rainha. Ouvi como em alegria plena e em grande aflição eles se amaram, depois morreram no mesmo dia, ele por ela, ela por ele.” (Pagina um, capítulo “As infâncias de Tristão”).
E assim começa “O romance de Tristão e Isolda”: uma história sobre um amor trágico entre um cavaleiro da Cornualha e uma princesa irlandesa. É uma lenda de origem medieval, que circulava por entre o povo celta do noroeste europeu. E o livro de Joseph Bédier nada mais é do que uma das traduções do poema de Béroul.
O ponto de partida da história: Tristão, a mando de seu tio (rei Marc da Cornualha), vai até a Irlanda lutar por Isolda, que casará com o rei. Mas é na volta da viagem que acontece o pior: Isolda e Tristão tomam por engano uma poção de amor mágica (que estava destinada à princesa e ao rei Marc). E, como é de se esperar, os dois se apaixonam. Perdidamente. Loucamente. E de uma forma irrecuperável. Tristão pensa:
“Ah! Como pensei eu? Isolda é vossa mulher, e eu vosso vassalo, Isolda é vossa mulher, e eu vosso filho. Isolda é vossa mulher e não me pode amar.”
Outro trecho também:
“Isolda amava-o. No entanto, queria odiá-lo: ele não a tinha desdenhado de modo tão abjeto? Queria odiá-lo e não podia, irritada em seu coração contra essa ternura mais dolorosa do que o ódio.” (Página 31, capítulo “O filtro”).
De volta à corte, Isolda e Marc se casam, mas ela e Tristão continuam se encontrando escondidos. Então, cavaleiros da corte do rei que odeiam Tristão começam a investigar - suspeitando do casal - e vão em busca de formas para convencer o rei de que falam a verdade. Enfim: o rei acaba descobrindo e, como isso é um tipo de violação das leis religiosas, os dois são presos, mas acabam fugindo para viver na floresta do Morais. Nessa parte, há a presença da desgraça (que parece não largar os dois): eles vivem uma vida difícil, de forma precária.
“O amor os pressiona, como a sede precipita para o rio o cervo prestes a morrer, ou como o gavião que, após longo jejum, de repente solto, cai sobre a sua presa. Infelicidade! Não se pode fazer calar o amor.” (Página 39, capítulo “O grande pinheiro”).
Depois de descobertos na floresta e depois de uma negociação, Isolda volta para o castelo e Tristão é mandado de volta para seu país. Então, aparece uma personagem que não deixa de ser importante: Isolda das Mãos Brancas, princesa da Bretanha, com quem Tristão se casa – mas, claro, seu amor por Isolda, a Loura, nunca acaba (e quando ela descobre do casamento, é tão triste... Dá vontade de entrar no livro só pra dar um abraço de conforto nela).
“Os amantes não podiam viver nem morrer um sem o outro. Separados, não era a vida, nem a morte, mas a vida e a morte ao mesmo tempo.” (Página 103, capítulo “Isolda das mãos brancas”).
Outra coisa muito importante no livro é a presença do anel de jaspe, e é por ele que os dois amantes se comunicavam. Por exemplo: quando Tristão queria se encontrar com Isolda, o mensageiro – qualquer que fosse – dava um jeito de mostrar o anel e Isolda saberia que seria uma mensagem de Tristão. É basicamente isso.
*Atenção: eu não gosto de dar spoiler (tanto de livro quanto de filme), mas aqui será necessário.*
Então, Tristão é ferido por uma espada envenenada e pede que busquem Isolda, a Loura. E ordenou: se Isolda viesse, no barco deveria estar à vista uma vela branca; se não viesse, uma vela preta. Isolda das Mãos Brancas, sabendo que Tristão amava a outra, decide vingar-se: diz que no barco a caminho, ao invés de conter a vela branca, há a vela preta (e, nesse momento, me deu vontade de bater muito nessa mulher).
É nessa hora que, sem esperanças, Tristão morre, dizendo: “Não posso reter minha vida por mais tempo”, ainda repetindo o nome de Isolda três vezes. Quando desce do barco, Isolda não acredita no que vê: Tristão morto, estendido no chão. Então, ela se deita ao lado dele, o abraça pela última vez... E morre de tristeza (aqui eu já estava às lágrimas – mesmo já sabendo o que aconteceria).
Os dois são enterrados juntos, em uma capela, e acontece o que eu achei mais lindo no livro: na tumba de Tristão nasce um espinheiro, que liga o túmulo dele com o de Isolda – e o rei Marc ordena que o espinheiro nunca seja cortado.
Finalizando. O amor de Tristão e Isolda não deixa de ser um amor ingênuo. É um amor invencível, protetor, invejado, que “imita os sons dos pássaros” (como no próprio livro diz). Os dois apaixonados se completavam. Eles sentiram um amor que, apesar de originado da magia, persistiu durante a vida e que não deixou de existir depois da morte. Aqui neste ponto - a morte - é que se encontra a fatalidade: já que o amor deles foi a causa de tanta felicidade e de tanta tristeza. É um daqueles livros pra levar pela vida toda (e, com certeza, um livro daqueles que nos faz chorar).
“Cumprimentam os que são sonhadores e os que são felizes, os descontentes e os apaixonados, os que estão alegres e os que estão perturbados, todos os amantes. Que possam encontrar aqui consolo contra a inconstância, contra a injustiça, contra o despeito, contra a aflição, contra todos os males do amor.” (Página 145, capítulo “A morte”).