Victor Almeida 21/03/2014NÓS SOMOS NOSSAS ESCOLHASO Motivo me abriu pra novas concepções de como um livro pode ser escrito, devido à sua forma não ortodoxa do uso da gramática e várias fontes evidentes nos diálogos. Os primeiros capítulos me forçaram um pequeno ajuste e tempo para acostumar, antes de poder me imergir completamente no trabalho de Patrick Ness.
Uma vez acostumado com as excentricidades do livro, descobri que ele é brilhante e obscuro. Como dito, o livro é centrado em Todd, que vive na cidade de Prentisburgo, habitada apenas por homens, já que todas as mulheres desapareceram e morreram muitos anos atrás. Suas mentes são abertas uns para os outros desde que foram infectados pelo vírus do Ruído. Todos têm que viver sob o som de milhares de emoções e pensamentos. Certo, não parece tão obscuro. Não até descobrir por que todas as mulheres desapareceram.
O livro cresce embebido em uma aura de suspense. O elemento intrigante da escuridão do mundo criado pelo autor se encontra desde o início permeado pela história. O Motivo apresenta forma e conteúdo perfeitamente combinados. A história é contada em primeira pessoa por Todd, e sua narrativa é cativante e cheia de suspense. Devido à cultura do personagem e o mundo de onde ele vem, o autor se utiliza da linguagem coloquial durante o livro todo, criando dialetos interessantes e perfeitamente condizentes. Mas uma vez eu digo, é necessário se acostumar nas primeiras páginas, mas logo em diante você se encontra apaixonado pelo personagem e seu jeito de ser.
Todd durante sua jornada, com seu cachorro Manchee ao seu lado (que fala, por sinal, graças ao Ruído), se depara com uma garota chamada Viola, e percebe que não consegue ouvir seus pensamentos. Ao longo do livro, Todd não consegue manter suas descobertas fora de seus pensamentos e acaba ameaçando a comunidade onde ele vive, forçando-o a fugir para o desconhecido com apenas um livro que não consegue ler e um mapa vago para um destino que ele não entende.
Serei direto com vocês: esse é um livro brutal, repleto de violência, crueldade, assassinato, mutilação e tragédias de proporções épicas. Não é um livro destinado para crianças, não importa o quão avançado estejam em seus níveis de leitura. É um livro jovem-adulto que os deixará sem fôlego até o final.
Os personagens são fantásticos e vívidos, incluindo todas as pessoas que Todd e Viola conhecem durante sua jornada. Mesmo sendo um animal, Manchee também se tornou um dos meus personagens favoritos, mesmo que com habilidades linguísticas limitadas. Sua voz como personagem é muito forte.
A trama do livro me manteve virando as páginas sem parar, e apesar do tamanho, o ritmo é perfeito com ação para dar e vender. A violência apresentada é mais um fruto da angústia do personagem do que simplesmente violência para se sentir satisfeito. Há muita complexidade na moral na história, e é incrivelmente bem planejada. Para mim, essa combinação de complexidade emocional e o ritmo acelerado fazem O Motivo se sobressair. Além disso, os elementos distópicos não são exagerados, e as pitadas de sci-fi acrescentam interesse sem prejudicar a história.
É definitivamente uma leitura arenosa. Não é algo leve, pois requer tempo para digerir os questionamentos e temas que compõem o livro. As ideias são profundas e os acontecimentos são capazes de assombrar e trazes os sentimentos à flor da pele. Vale ressaltar que foi um dos poucos livros no qual eu chorei. Não pelo final, mas por certas coisas que acontecem ao longo da história. Isso diz o quão intenso ele é, acredite.
Não preciso nem comentar o final, né? Muitas coisas foram deixadas para o segundo volume em termos de trama, mas existem apenas poucas pontas soltas, e elas me convencem a continuar. No final, eu estava tão investido nos personagens e sua sobrevivência que senti um grande pesar por terminar e não ter o segundo livro em mãos.
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