Humberto 18/12/2009
Cada um no seu quadrado
Confesso que esperava muito mais do livro, e fiquei mais entusiasmado com as notas introdutórias do que com a própria história! De acordo com o prefácio da editora, "the story is based on the 'American Dream' - that anyone can do anything if they believe in themselves. And that the simple pleasures of home are better than the strange and exotic" (p. 06).
De fato, o leitor é levado a perceber que cada personagem tem seu lar - um lugar onde eles alcançam o equilíbrio; e toda a jornada tem por objetivo alcançar este espaço-estado perfeito. Ou seja, "cada um no seu quadrado" e feliz - uma visão próxima da cosmologia aristotélica. Por exemplo, Dorothy prefere ser pobre em Kansas (EUA) do que uma poderosa bruxa em Oz!
Para mim, a melhor parte do livro é quando ocorre o ciclone que leva a casa dos tios de Dorothy pelo ar em direção à Oz. É, sem dúvida, uma cena muito visual!! Acho também interessante a "yellow brick road" - é uma metáfora do caminho certo e da boa conduta; não andar na linha, desviar-se da estrada, é sempre muito perigoso (porém, podemos também pensar que são nestes desvios que encontramos coisas novas e diferentes!).
Fora isto, achei o texto cansativo e muito sangreto (é um tal de matar ou de correr para não morrer...). Acho as personalidades de Dorothy, do Leão, do Homem de Lata, do Espantalho, das bruxas e do mágico muito chatas, eles estão sempre reclamando, esperando algo acontecer, nunca nada está bom (o que demonstra a filosofia do "american dream" e da busca pelo lar ideal).
Pessoalmente, preferi ler sobre Oz no livro "Dicionário de Lugares Imaginários" (Alberto Manguel e Gianni Guadalupi). Lá, os autores apresentam um mapa bem detalhado deste fantástico mundo de OZ, além de um resumo das aventuras de Dorothy. Vale a pena conferir, até mesmo para ler a história acompanhando o trajeto no mapa.
A terra de Oz é dividida em uma estrutura que lembra uma cruz: no leste e oeste, moram as bruxas más; no norte e sul, as boas; no centro, o Grande Mágico de Oz que tudo coordena. Além de tudo, o livro tem algo machista, pois é o Homem que fica no centro monitorando as bruxas... :o)
E, se Dorothy é uma turista do bem, que ajuda a acabar com o império da maldade; o mágico é um viajante que ficou preso em OZ e aproveita-se da situação de ter despencado do céu (o que lhe confere um ar divino) para enganar seus habitantes: ao meu ver, ele manipula o local e os moradores à seu bel prazer (mesmo que o autor nos tente passar uma personalidade de mágico "gente boa"). De certa maneira, o livro é aquela eterna história de mundos mágicos, em que existe uma profecia / lenda local que menciona a chegada de um salvador (alguém predestinado) que mudará o estado de calamidade - e quase sempre este ser divino é um humano-viajante recém chegado neste universo mágico-paralelo (em outras palavras, muitas das vezes, nós - humanos - somos os deuses e a bíblia destes mundos fantásticos visitados).
Outra coisa: a história também me fez pensar naqueler jogos de video-game em que o personagem deve colecionar (acumular) objetos que serão úteis mais na frente, que auxiliarão a passar pra próxima etapa! Dorothy faz a mesma coisa...
E, no final, a grande conclusão que chego é a seguinte: se existe um culpado por tudo, este é o cachorro Toto. É ele quem faz com que Dorothy seja levada pelo vendaval, e é também por sua causa que ela perde a carona de volta, no balão, o que atrasa o retorno ao lar!