Karine Coelho 05/11/2014
Encantada
A carioca Eddie Van Feu faz muitas coisas (algumas ao mesmo tempo). É roteirista, desenhista, escritora, dentre outras. Apesar de tudo isso, eu gosto mesmo de classifica-la como contadora de histórias.
Conheci a Eddie na Bienal do Rio de 2011, no lançamento de Dragões de Titânia A Batalha de Argos, de seu marido Renato Rodrigues. Lua das Fadas não estava disponível naquele dia, por problemas com a editora, mas mesmo assim a autora estava lá, toda paramentada de fada, atraindo as atenções. Levei o livro com o elfo bonitão na capa para casa (porque todo mundo sabe da minha queda por elfos bonitões...), e guardei as fadas na memória.
Adicionei os dois novos autores conhecidos no Facebook e fiquei sabendo, por lá, dos novos lançamentos, entre eles, O Trono Sem Rei, continuação de Lua das Fadas. Depois de algum tempo, quando ocorreu o lançamento de Dragões de Titânia A Queda do César, comprei também os dois outros livros da Eddie. Dessa vez, nos encontramos na Primavera dos Livros de 2012, na qual eu estava trabalhando. E eles foram muito gentis em irem lá levar os três livros pra mim, com direito a autógrafo, fotos e brindes muito legais.
Falando agora de Lua das Fadas. Com o perdão do trocadilho, fiquei encantada com a história de Zac e Bianca. Tenho uma quedinha por seres mágicos, e os anjos, inclusive, já tinham povoado alguns dos meus escritos na adolescência. E o Zac é um personagem que, à primeira vista parece superficial, mas sua história é muito mais profunda, o que podemos ver no desenrolar da trama e nos outros dois livros da série. E Bianca também. Ela se difere das mocinhas inseguras atuais. Ela tem o seu jeito esquisitão, apenas uma amiga, é chamada de louca pelos colegas, por ter uma mente criativa e fértil e acreditar em muitas coisas, dentre elas, as fadas e seres elementais, mas é segura de si, não liga para o que dizem, e vive sua vida com seus pais e sua cachorrinha, a Cacau.
Quando sua única amiga, Analice, desaparece numa ventania depois de um jogo do tabuleiro (sabe qual é, aquele do copo), ela não desiste e, contra tudo e contra todos, vai atrás da amiga. Estranhas pistas a levam até o Mundo das Fadas (Mãe Teteia da Encruza, MORRI!), e para chegar lá ela recebe a ajuda do anjo iniciante, resmungão, reclamão e hesitante Zacariel, da ordem de Rafael. E é assim que a aventura começa.
O livro é muito bem escrito, e deixa claro o talento de Eddie como contadora de histórias. Esse é um daqueles livros nos quais o narrador conta a história como se te conhecesse, como se estivesse ali do seu lado te contando. Ele te envolve na trama, nos pensamentos, desejos e anseios dos personagens. E é uma delícia de ler! Leve, bonito e muito divertido, com pequenas doses de humor para quebrar o clima por vezes sombrio. O único problema é o aparente descaso da editora com a obra (que é explicado no final, pela autora, como tendo sido uma encomenda da editora), que se deixa transparecer no acabamento ruim (que se destaca perto das belíssimas ilustrações de Carolina Mylius) e no trabalho pouco cuidadoso de edição, que apresenta muitos erros, alguns muito bobos, que teriam sido corrigidos por um editor um pouco detalhista. Mas nada disso consegue tirar o brilho cintilante da incrível aventura de Bianca e Zac no misterioso Mundo das Fadas. As tramas são bem amarradas, a história é conduzida com maestria, e o final é surpreendente, deixando em aberto uma possível continuação, mas nada obrigatório.
Eddie nos faz rir, nos faz chorar (muito), nos diverte e emociona na mesma medida. Um livro para ser lido com o coração e com a mente bem aberta. É preciso deixar qualquer preconceito de lado e entrar de cabeça, como a Bianca, nesse mundo lindo, sombrio, encantador e assustador, que é o Mundo das Fadas.
site: http://www.livrosfilmesemusicas.com.br/2014/11/lua-das-fadas-de-eddie-van-feu.html