Fenomenologia da percepção

Fenomenologia da percepção Maurice Merleau-Ponty




Resenhas - Fenomenologia da percepção


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Maurino 13/02/2011

As várias maneiras de ser corpo.
Desde o início, a filosofia recalcou a experiência, o inominável, a carne. O pensamento europeu, metafísico e cristão sempre dissimulou o corpo em nome da “vida do espírito”. Mas, eis que, tal qual a fênix, ele ressurge das cinzas como corpo pensante, cognoscente, potência exploratória que funda a nossa percepção do mundo. É assim que, caminhando na contramão da História da Filosofia, o fenomenólogo francês Maurice Merleau-Ponty o apresenta em seu admirável “Fenomenologia da Percepção”. Partindo de uma originalíssima concepção não-representacional do pensamento o autor nos descreve uma consciência perceptiva ontologicamente anterior à consciência reflexiva. Nessa obra monumental, de leitura árida e extensa, Merleau-Ponty afirma que a subjetividade é inseparável do mundo e, portanto, do corpo: assim, eu não tenho, mas “sou” o meu corpo e estou junto a mim mesmo na medida em que estou entre as coisas e com os outros. Clássico da fenomenologia, esse livro influenciou inúmeros pensadores, tanto na filosofia quanto fora dela - haja vista o conceito de “enação”, da lavra do neurocientista cognitivo heterodoxo Francisco Varela. Inspirador e revolucionário esse livro é fenomenal!
Berudi 11/03/2018minha estante
Excelente comentário....




gabriel 29/08/2022

Uma das filosofias mais interessantes (e que você nunca vai ler)

Acredito que o título acima pode definir bem este trabalho de Merleau-Ponty, basilar para a filosofia do século XX, porém bastante inacessível aos reles mortais. Complicado, erudito (porém com uma boa dose de fascínio), Ponty faz uma filosofia "sem sujeito", ou melhor, para sujeitos em simultaneidade com os seus objetos, em que o mundo ganha destaque e um novo brilho filosófico em relação a eles.

O gosto que fica para mim é de uma filosofia de "palco", em que este fica acima dos atores, em destaque. Como se, ao assistirmos a uma peça, o cenário fosse o verdadeiro protagonista, com os personagens meio de lado, ou apenas secundários. O que é, na verdade, revigorante, pois quem aguenta uma filosofia "de sujeito" em pleno século 21? Merleau-Ponty antecipa em apenas algumas décadas este evidente cansaço.

Coloca-se aqui em xeque a batidíssima frase "penso, logo existo" (o famoso "Cogito", como os filósofos gostam de dizer pedantemente), que junto com a caverna do Platão e outras platitudes do tipo "o inferno são os outros" (frase muito incompreendida de um Sartre, contemporâneo de Ponty), formam uma espécie de imaginário popular filosófico, uma espécie de terreno seguro "pop" para se discutir filosofia. Neste sentido, trata-se de uma leitura muito bem-vinda.

Para Ponty, a existência começa não com o sujeito, mas com o mundo. Nascemos sempre em situação, em perspectiva, e há muitas comparações com a pintura e com as lesões cerebrais (e por mais que uma coisa não tenha a ver com a outra, durante a leitura ela faz sentido).

Só achei que a caracterização destes distúrbios poderia ser mais precisa, e a mistura entre filosofia e ciência acaba sendo confusa por este motivo. Merleau-Ponty filosofa enquanto fala de ciência e fala de ciência enquanto filosofa. Tal "tostines filosófico", por assim dizer, não acaba dando muito certo, ao menos para o leitor, já sufocado por uma filosofia complicada.

É, no entanto, um autor privilegiado, por ser um dos poucos dentro da tradição filosófica a falar propriamente de ciência enquanto faz filosofia, tornando sua leitura muito atraente e pertinente.

Indico sua leitura rodeada de cuidados, está longe de ser uma leitura leve, o texto pesa a mão e trata-se de uma elaboração filosófica complicada. Porém suas inovações, problematizando questões de "sujeito-objeto" (sendo, portanto, uma filosofia antidicotômica), e alguns trechos belos, fazem dela uma indicação certeira.

Lamenta-se, apenas, certo hermetismo, que soa completamente desnecessário em alguns momentos (ainda que isto guarde, é claro, um charme todo especial, presente na maioria das filosofias).
comentários(0)comente



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